terça-feira, 10 de março de 2015

TEM QUE OUVIR: My Bloody Valentine - Loveless (1991)

Após o esporro melódico dado ao mundo pelo Jesus And Mary Chain, dezenas de bandas brotaram no Reino Unido fazendo um som denso, barulhento, repleto de guitarras invasivas. Já a postura era acanhada. A isso se deu o nome de shoegaze. My Bloody Valentine é a banda mais celebrada do estilo e seu segundo álbum, Loveless (1991), um clássico ainda hoje cultuado/copiado.


Kevin Shields, que fez de sua guitarra fender jazzmaster um símbolo do rock alternativo, extrai do instrumento timbres enormes e distorções vibrantes, que formam uma nuvem sonora abstrata e volumosa, disputando espaço com a voz etérea e delicada da Bilinda Butcher. Incrivelmente tudo se encaixa, vide a maravilhosa "Only Shallow", um hino da geração shoegaze. Sua introdução é uma rajada de sons nocauteantes.

O constante nível de saturação da guitarra se contrapõe a delicadeza das composições. Isso pode ser exemplificado em "Loomer" e "To Here Know When", que abrem mão de sons percussivos em busca de algo intimista, obscuro e com traços da música ambient e drone.

Embora pouco ortodoxa, é perceptível a abordagem pop em faixas como "When You Sleep" e, principalmente, na exuberante "Sometimes" (adoro esse timbre de guitarra!), que foi posteriormente usada no filme Encontros e Desencontros (2003) da Sofia Coppola.

A repetição em loop na bela "I Only Said", o clima espacial de "Blown A Wish", além dos bends e tremolos hipnotizantes em "Come In Alone" (linda melodia) e "What You Want", também merecem destaque.

Apesar do culto imediato que a obra recebeu, a banda entrou num hiato que só foi encerrado 25 anos depois. Além disso, o custo elevado do álbum quase quebrou a gravadora Creation. Ao menos a beleza ruidosa de Loveless se manteve preservada.

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