Embora nascido em Londrina (Paraná), Arrigo Barnabé foi um dos principais nomes da chamada Vanguarda Paulista (nome dado em homenagem ao Teatro Lira Paulistana), uma reunião de grupos/músicos/compositores - vide Itamar Assumpção, Grupo Rumo, Preme, Tetê Espindola, Ná Ozzetti, Isca de Policia, Patife Band, dentre outros - que desafiavam estruturas sonoras. O primeiro e principal registro deste movimento foi Clara Crocodilo (1980), uma referência em diversas questões, musicais ou não.
Sendo destaque em festivais universitários - em meio a aplausos e vaias - Arrigo Barnabé, pouco compreendido por gravadoras e produtores, lançou o álbum em formato independente, um pioneirismo que não comprometeu a qualidade técnica do trabalho, muito pelo contrário, garantiu a liberdade necessária para que ele e seus músicos colocassem em pratica sua singularidade composicional. Após o lançamento, não demorou muito para que seus shows recebessem figuras carimbadas da MPB, como Caetano Veloso, Rita Lee, Elis Regina, dentre outros.
Explorando não somente séries dodecafônicas - como acontece em "Office Boy" -, mas também outros módulos atonais executados em ritmos complexos - vide "Sabor de Veneno" (com direito a espetacular linha de baixo do Tavinho Fialho) -, Arrigo trouxe para a música popular brasileira elementos da música erudita do século XX, principalmente de compositores como Schöenberg e Béla Bartók.
As letras percorrem o caos das metrópoles e se assemelham a histórias detetivescas de quadrinhos. Já a interpretação vocal transita entre o erudito e a caricatura teatral/circense (no bom sentido) de um jornalista investigativo. Total Gil Gomes. Isso fica evidente na complexa "Infortúnio" e principalmente em "Clara Crocodilo".
Falando em quadrinhos, vale lembrar que a capa do disco é de autoria do Luiz Gê, um dos mais criativos ilustradores da sua geração.
Impossível não atentar-se aos timbres de teclados e as frases esquizofrênicas de sax em "Diversões Eletrônicas", além do insano coro vocal feminino (e pré-Blitz) de Tetê Espindola e Vânia Bastos em "Acapulco Drive-In" e "Orgasmo Total". Uma aula de contraponto.
Não é difícil encontrar quem reconheça a Vanguarda Paulista como principal movimento da música brasileira pós-Tropicália. Embora com outros discos espetaculares, Clara Crocodilo continua sendo o grande ato deste período riquíssimo.
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