quarta-feira, 20 de agosto de 2014

TEM QUE OUVIR: Aracy de Almeida - Noel Rosa (1950)

A lendária sambista Aracy de Almeida foi indiscutivelmente uma das maiores cantoras do país. Em 1950 e 1951, a gravadora Continental lançou duas coletâneas de 78 RPM contendo interpretações dela para a obra do Noel Rosa, para muitos, o maior compositor brasileiro. Essa união resultou num tesouro da canção brasileira.


Embora gravado por inúmeros artistas, Aracy de Almeida é a única (além do próprio Noel Rosa) capaz de interpretar dignamente a obra do compositor. Talvez devido sua amizade com o icônico sambista, ela soube captar a verdadeira essência de sua obra.

A voz levemente anasalada, de vibrato preciso e afinação natural, serve ao balanço delicioso da impecável "Palpite Infeliz" e da clássica "Com Que Roupa?". 

Como não ficar de queixo caído (perdão, Noel) diante das maravilhosas interpretações em "Último Desejo" e "Três Apitos"?

Traçando a ponte entre o morro e o asfalto, as letras sagazes de "Conversa de Botequim" e "Feitiço da Vila" - ambas composições são parceria do Noel com o seu principal fiel escudeiro, o Vadico -, são maravilhas antropológicas da cultura brasileira. Da poesia, passando pela métrica e enredo, é possível reconhecer qualidades a cada nova audição.

Em tempo de revisionismo histórico que leva ao rebaixamento sambas do passado por questões morais difusas, é interessante perceber uma narrativa que destaca a emancipação da mulher em "O x do Problema".

Musicalmente, a Orquestra Continental eleva a melodia de "Fita Amarela". Já as cordas de "Pra Que Mentir" são de chorar. 

Vale lembrar que o álbum traz arranjos do lendário Radamés Gnattali, além de capa do Di Cavalcanti. Será que em algum outro momento viveremos uma efervescência artística como a que presenciamos nessa obra? Provavelmente não. Por tanto, desfrute sem moderação dos pouco mais 30 minutos de excelência aqui encontrados.

Nenhum comentário:

Postar um comentário