terça-feira, 19 de agosto de 2014

TEM QUE OUVIR: Planet Hemp - Usuário (1995)

Quando se fala em censura dentro da música brasileira, é comum pensarmos na ditadura militar, onde diversos compositores tiveram suas obras proibidas e outros chegaram até mesmo a serem exilados. Mas durante a democracia, a perseguição continuou, algumas vezes de forma velada, outras explicita, vide as dificuldades que o Planet Hemp teve para divulgar o seu já clássico álbum Usuário (1995).

 

Do nome da banda, passando pelo nome do disco e sua bem bolada capa - com perdão do trocadilho -, o conceito do grupo estava escancarado: a maconha. Todavia, o grupo não se limitava aos problemas criminais envolvendo a erva, mas sim a toda uma estrutura política retrógrada. Isso transformou Marcelo D2 (voz), BNegão (voz), Rafael Crespo (guitarra), Formigão (baixo) e Bacalhau (bateria) em embaixadores da liberdade de expressão, símbolos de uma geração de artistas que ajudariam a reforçar a recém democracia no Brasil.

O grito pela legalização da marofa, algumas vezes entendido como apologia, está justamente nas faixas mais divulgadas pela mídia, principalmente pela MTV. São elas "Legaliza Já", "Mantenha o Respeito" e "Dig Dig Dig (Hempa)". Somando isso ao conteúdo anti-policial de "Porcos Fardados", deu-se uma combinação pessimamente recebida pelo estado, que tratou de impedir a banda de fazer shows e, posteriormente, levou a detenção dos integrantes.

Musicalmente, a banda seguia os trilhos sonoros (e contestador) do Rage Against The Machine. A mistura de rock com rap e pitadas de funk com a malandragem tipicamente carioca é extremamente natural para o grupo. Como destaque é possível citar os grooves encorpados de "Não Compre, Plante!", "Phunky Buddha"  e "Speed Funk", além das letras bem sacadas de "Fazendo a Cabeça", "Futuro do País" e "A Culpa é de Quem?".

O Planet Hemp, ao lado dos Raimundos e Chico Science & Nação Zumbi, retratam o que de melhor aconteceu na década de 1990 no rock nacional. Usuário é documento básico para entender a época.

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