quarta-feira, 23 de julho de 2014

45 anos do festival de Woodstock

O mais importantes evento da contracultura comemora 45 anos. É evidente que falo de Woodstock, festival símbolo da geração hippie.


O festival aconteceu entre os dias 15 e 17 de agosto de 1969, não em Woodstock, mas em Bethel (Nova York), numa propriedade de 600 acres do fazendeiro Max Yasgur. Apesar dos problemas de estrutura, que se agravaram com a superlotação - era esperado 200.000 espectadores, mas estimasse que meio milhão de pessoas estiveram no evento -, Woodstock é tido como um sucesso cultural e comportamental.

Em meio ao clima chuvoso, enlameado, lisérgico e de "Paz & Amor", rolaram shows emblemáticos, alguns até mesmo devido o inesperado fracasso. O documentário Woodstock lançado em 1970 e sua fantástica trilha sonora, narram os pontos altos e baixos destes três dias históricos.

15 DE AGOSTO
Intimista e explosivo, Richie Havens abriu o festival com uma apresentação memorável. Apesar de sua longa carreira, sua força ao cantar e atacar o violão foi tamanha que permaneceu como a mais forte imagem associada ao artista. 

A cultuada The Incredible String Band representou com categoria o folk psicodélico que despontava no Reino Unido. Já o indiano Ravi Shankar, popularizado através de seu fã George Harrison, tocou mantras viajantes para um público atento entupido de maconha e ácido. Por outro lado, o Country Joe fez todo o público levantar e berrar "FUCK". Fechando o dia estava Joan Baez, artista símbolo da luta contra a Guerra do Vietnã, trazendo ao festival o lado mais contestador desta geração.

16 DE AGOSTO
Por mais legal que tenha sido o dia anterior, foi aqui que o caldo começou a entortar. O Santana fez uma apresentação altamente lisérgica. Ele chegou até mesmo a dizer que sua guitarra havia se transformado numa serpente. Conversa fiada ou não, fato é que sua performance é venenosa. Seu fraseado já naquela época era primoroso. Vale ainda mencionar a espetacular execução do baterista Michael Shrieve em "Soul Sacrifice". 

Na sequência, rolou o blues elétrico tão chapado quanto gracioso do Canned Heat, as longas jams do cultuado Grateful Dead (prejudicados pela forte chuva) e a psicodelia de São Francisco representada pelo Jefferson Airplane. Nada mais flower power.

O Creedence, no auge da sua criatividade (eles 1969 eles lançaram três álbuns emblemáticos) enfileirou um hit atrás do outro. Por ter sido no meio da madrugada, dizem que a recepção do público não foi das melhores, fato que fez com que a banda arquivasse os registros da apresentação. 

Já o Mountain, liderado pelo grande guitarrista Leslie West, levantou a plateia com uma performance pesada e virtuosa (pra época).

Mas foi mesmo o combo multirracial Sly & The Family Stone que mostrou todo poder de fogo. Sua mistura de funk com rock não por acaso veio a influenciar meio mundo de artistas, incluindo Miles Davis. Histórico.

Iniciando o show as 4h da madrugada, chegando ao nascer do Sol, o The Who atacou 25 canções, incluindo pérolas da ópera rock Tommy. Eis um show para se estar.

Todavia, tudo foi ofuscado pela icônica Janis Joplin, que com sua voz poderosa e repertório acima de qualquer suspeita, acabou apresentado o mais memorável (com justiça ou não) espetáculo da noite.


17 DE AGOSTO
O imponente Joe Cocker fez o primeiro grande show do último dia de festival. Sua interpretação antológica para "With A Little Help From My Friends" é ainda hoje impactante, assim como a performance do guitarrista Alvin Lee (Ten Years After) na furiosa "I'm Going Home". Tudo levaria a crer que o músico seria o grande nome das seis cordas do festival. Nem mesmo Johnny Winter, que se apresentou ao lado de seu irmão Edgar Winter, conseguiu roubar a cena.

A The Band, grupo dono de maravilhosas canções e que foi extremamente influente na época, deixou registrado seu nome em Woodstock. Paul Butterfield Blues Band, Blood, Sweat & Tears e Crosby, Stills, Nash & Young (em uma das primeiras aparições enquanto quarteto) também fizeram grandes apresentações, mas nada que pudesse se comparar com a performance do Jimi Hendrix. O lendário guitarrista estraçalhou sua Stratrocaster durante riffs envolventes, solos lisérgicos e ruídos que simulavam bombardeios. Isso tudo acompanhado do Mitch Mitchell (bateria), Billy Cox (baixo) e de mais dois percursionistas que foram limados da mixagem. Um dos maiores momentos da história do rock, pra não dizer da música em geral. Infelizmente (ou não), por ter acontecido já no amanhecer de uma segunda-feira e após três dias intensos, a cereja do bolo do Hendrix foi vista presencialmente por poucas pessoas. Felizmente tudo foi documentado.


A marca do festival foi algumas vezes revisitada, sempre fracassando. De Woodstock restou "apenas" a memória, os registros e os frutos de um momento histórico da cultura popular do século XX.

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