quinta-feira, 5 de junho de 2014

Uma reflexão sobre os Titãs e o rock brasileiro

Após o post sobre o show do Jesus And Mary Chain, recebi o insigth para mais uma reflexão. O que falarei aqui não é novidade pra muita gente, mas pode ser pra você, paciente leitor deste humilde blog.

Antes de tudo, assista o clipe de "Fardado", novo single dos Titãs. Se possível, mas nem tão recomendado, escute Nheengatú, o novo álbum da banda.


Os Titãs são uma faca de dois gumes. São tão talentosos quanto charlatões. Explico o porque.

Resumidamente, a banda começou como uma new wave boba e engraçadinha, com danças e figurino. Escutaram punk rock, amadureceram, foram presos, ficaram revoltados e quiseram ser levados a sério: lançaram o clássico Cabeça Dinossauro (1986), trabalho ainda hoje impactante.

Todavia, não tinham antecedentes para o punk. Foram se descobrir em outros territórios. Ousaram ao flertar com a música eletrônica e beberem na fonte da música brasileira em meio a abertura política. Deu certo, mas chegaram atrasado, já que o grunge mostrava as garras.

Encorparam o som, gritaram palavrões e trouxeram até um produtor de Seattle (Jack Endino). O público gostou, a imprensa não.

Kurt Cobain enterrou o que havia criado, inclusive os Titãs, que viraram baladeiros e embaixadores do formato acústico. Regravaram Roberto Carlos e Mamonas Assassinas, fizeram trilha sonora para novela da Rede Globo e, finalmente, para mal e somente o mal, se encontram/estacionaram num pop medonho por mais de 15 anos, mais da metade da carreira, mais errando que acertando. Basicamente, isso é o Titãs!

Eu, que cresci ouvindo o grupo, comprei todos os discos até o A Melhor Banda... de 2011 (sim, eu desisti tarde), fui em shows (alias, o primeiro da minha vida, com apenas 6 anos, lá na longínqua tour do Domingo, em 1996) e respeito todos os integrantes, ainda hoje não entendi qual é a real dos Titãs. Alguém nessa história se faz de idiota. Público e banda talvez.

Eis que é lançado o tal Nheengatú. Com apenas 4/8 da formação clássica e letras que aproveitam o fervor das passeatas de julho de 2013, o álbum é melhor do grupo desde o longínquo Titanomaquia, de 1993. E não se trata apenas de peso, mas de atitude e vergonha na cara. Só que agora não adianta mais. Minha impressão é que isso eles já perderam faz tempo, mais precisamente no pavoroso Volume Dois, de 1998.

Nheengatú me ganha não pela obra, mas pela memória afetiva. É a caricatura da sua melhor fase. Mas caricaturas são somente caricaturas. É como o Dinho Ouro Preto cantando sem camisa achando que ainda é jovem. Nheengatú provavelmente não vai sobreviver ao tempo, mas medicará um doente em coma. É ai que entra a outra etapa da minha reflexão.

Qual foi o último disco de rock brasileiro mainstream que você ouviu (e gostou)? Nada de rockinho inofensivo, controlado por produtores que querem grana fácil. Falo de timbres indomáveis, letras desbocadas, execução raivosa e atitude nas composições.

Raimundos e Charlie Brown Jr.? Mas eles tem prazo de idade, além de que o Só No Forévis tem mais de 15 anos. Por isso Nheengatú dos Titãs é importante. Não é a cura, e nem deve ser tratado como tal, mas é o remédio/esperança para o retorno do rock nacional ao mainstream. Se eles tem força para isso eu não sei, mas se eles não tiverem, quem tem?

Entretanto, uma última questão: o rock é realmente necessário nos dias de hoje? Além do gosto pessoal e da memória afetiva, por que desejamos tanto a volta do rock nacional nas grandes mídias? Quem curte que vá procurar as novas bandas. E tem várias ótimas no Brasil: Krisiun, Carro Bomba, Anjo Gabriel, Far From Alaska, Lupe de Lupe, Herold, Pedra, Test, Merda... todas ralando, nenhuma se resumindo a shows no SESC ou incentivo público. Mas rockeiro tem mania de grandeza e superioridade.

Se o rock é bom, que seja pelo que é. O rock no Brasil não é e nunca foi popular. Raul Seixas é exceção. Precisou até mesmo um gringo (o já citado Kurt Cobain) vir para o Brasil valorizar Os Mutantes para só então lembrarmos do grupo.

Dito tudo isso, não deixo nenhum argumento final, apenas peço que, assim como eu, a reflexão seja feita. O rock, como produto de massa, morreu. E isso é ótimo. No Brasil, ele sequer existiu. Isso é uma pena, mas não é agora que deve/vai mudar.

Dane-se o rock e mais ainda os Titãs.

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