quinta-feira, 5 de junho de 2014

TEM QUE OUVIR: Marisa Monte - Verde, Anil, Amarelo, Cor-de-Rosa e Carvão (1994)

Em 1994, enquanto Sepultura, Raimundos, Planet Hemp e Nação Zumbi animavam uma juventude rebelde, a Marisa Monte lançava o refinado Verde, Anil, Amarelo, Cor-de-Rosa e Carvão, apresentando produção e composições elaboradas, além de postura por horas sonsa que fez a cabeça da MPB dali em diante. 


O trabalho é impecável dentro da proposta. Ele une alcance comercial e sofisticação lirica de forma inacreditável. É espantoso, por exemplo, a MTV Brasil, que anos mais tarde tornaria-se simbolo de música ignóbil, sustentando canções como "Segue o Seco", faixa de poética rica, arranjo elaborado e melodia certeira herdada dos mouros.

O apoio que a Marisa Monte teve dos medalhões da música brasileira também a ajudou (isso desde os tempos de Nelson Motta), vide a participação de Gilberto Gil na swingada "Balança Pema" (Jorge Ben), o aval de Paulinho da Viola na regravação da maravilhosa "Dança da Solidão" e até mesmo a participação da Velha Guarda da Portela em "Esta Melodia" (Jamelão). Neste oceano de segurança, sobrou até mesmo para o Velvet Underground, que foi otimamente revisitado em "Pale Blue Eyes".

Ao lado de nomes como Carlinhos Brown, Nando Reis e Arnaldo Antunes, Marisa Monte alcança o supra-sumo do pop brasileiro em canções como "Ao Meu Redor" e "Na Estrada", que assim como o bolero "De Mais Ninguém", tocou bastante nas rádios. 

Mas todo esse flerte do samba com tempero nordestino, embalado por uma apresentação acessível, não existiria sem a produção inteligente do Arto Lindsay. Com ele, o disco vira produto de exportação.

Para o bem e para o mal, Marisa Monte não merece ser condenada pelos erros de suas admiradoras/plagiadoras. Pena que sequer ela conseguiu manter a relevância, caindo tempo depois na própria armadilha que é sua persona.

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