A música erudita do século XX é conhecida por suas rupturas, seja ao abolir a hierarquia tonal ou reavaliar o ruído. Soando desafiador, engraçado e, em alguns momentos, perturbador, o "maestro" Captain Beefheart fez o mesmo no rock com seu clássico cult Trout Mask Replica (1969).
Produzido e financiado por seu colega Frank Zappa, esse disco duplo de 28 faixas é um símbolo da vanguarda. Trazendo elementos da música erudita, rhythm and blues, free jazz e música concreta, o resultado acaba agradando mais pelo seu conceito do que pela sonoridade em si.
Surreal e abstrato, da capa até a ultima nota, as canções apresentam explorações rítmicas insanas e melodias atravessadas e dissonantes. A sensação é que estamos diante de um jam livre e espontânea feita por instrumentistas iniciantes. Engano! A Magic Band tinha músicos competentes - vide o ótimo baterista John "Drumbo" French -, e passou cerca de um ano ensaiando para as gravações deste álbum.
As faixas mais interessantes são justamente as mais estranhas. A toda errada "Frownland" é um bom exemplo, assim como "Dachau Blues" (com destaque para a voz ríspida do Beefheart), a corrosiva "My Human Gets Me Blues", a quase free jazz "Hair Pie: Bake 1" e a quebradeira (um quase proto-math rock) "Steal Softly Thru Snow". Já "Neon Meate Dream Of A Octafish" reúne toda essa loucura numa única canção. Vale se atentar também para a poética absurda, vide "Sweet Sweet Bulbs".
Sendo influência direta para artistas como Tom Waits, John Lydon, David Thomas, Mike Patton, John Zorn e PJ Harvey, o esquisito Trout Mask Replica atrai justamente devido sua peculiaridade. Enquanto os hippies se jogavam na psicodelia, Captain Beefheart já desenvolvia a esquizofrenia musical. Uma experiencia auditiva no minimo excêntrica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário