terça-feira, 6 de maio de 2014

TEM QUE OUVIR: Adoniran Barbosa - Adoniran Barbosa (1974)

Tem quem diga que São Paulo é o túmulo do samba. Tais pessoas são "ruins da cabeça e doentes do pé" ou não conhecem Adoniran Barbosa. 


Representado pelo seu primeiro e homônimo álbum lançado em 1974 - antes ele havia gravado somente compactos -, Adoniran Barbosa é o típico paulistano filho de imigrantes italianos com sotaque e visual característico da Mooca. 

Artista símbolo da geração que teve que desenvolver trabalhos paralelos a sua arte (foi pintor, garçom, encanador, metalúrgico), já que a remuneração por seus serviços radiofônicos (seja como ator ou interprete) eram risíveis, Adoniran só foi alcançar prestigio no final de sua vida. Toda essa história é bem representada na bonita "Abrigo de Vagabundos".

Seu prestigio veio justamente com "Trem das Onze", emblemática faixa presente no disco de 1974, conhecida do público desde 1964, embora tenha feito ainda mais sucesso posteriormente com o grupo Demônios da Garoa. Outras composições do álbum bastante conhecidas são "Saudosa Maloca" (com traços de choro) e "Iracema". 

Melancólico, inocente e afetuoso são qualidades da persona Adoniran refletidas em suas letras, como pode ser observado na linda "Bom Dia Tristeza", composta em parceria com Vinícius de Moraes e que ganhou um arranjo instrumental estupendo. 

O típico Samba de mesa animado é cantado com sua rouquidão característica da birita/fumo nas ótima "As Mariposas" e "Acende o Candieiro". Já "Prova de Carinho" se destaca pelo ótimo violão de 7 cordas e ritmo envolvente sustentado pelo pandeiro e o cavaquinho. A corda Mi usada para fazer a aliança parece não ter feito falta.

Adoniran Barbosa é não somente um grande álbum, mas um documento fundamental da música brasileira. Séculos de cultura proletária imigrante em um único disco.

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