quinta-feira, 29 de maio de 2014

O subestimado rock nacional da década de 1970

Com o ingrato objetivo de tentar mudar a percepção quase geral de que o rock brasileiro começou a partir da explosão da Blitz no começo da década de 1980 - se consolidando através dos Titãs, Paralamas do Sucesso, Barão Vermelho, Legião Urbana e festivais como o Rock In Rio -, trago um post com bandas do rock nacional da década de 1970.

Eu sei que o rock nacional começou bem antes das tais bandas que irei postar, vide o trabalho de Tony e Celly Campelo, Ronnie Cord, Os Incríveis e tantos outros, inclusive o pessoal da Jovem Guarda. Todavia, confesso que, apesar de respeitar todos eles, nem curto tanto assim essa sonoridade sessentista, ao contrário das tais bandas setentistas, que adoro em grande maioria. Ainda assim, prometo futuramente um post sobre pérolas do período da Jovem Guarda.

Não falarei - mesmo falando agora - sobre os tropicalistas (Caetano, Gil, Gal...), os "malditos" (Sérgio Sampaio, Jards Macalé, Walter Franco...), nem sobre os compositor nordestinos (Alceu Valença, Belchior, Zé Ramalho, Fagner, Lula Côrtes...) ou os mineiros (Lô Borges, Beto Guedes, Milton Nascimento...) que flertaram diretamente com o rock. Todavia, quero deixar claro que eu os considero personagens importantes na história do rock nacional.

Sem mais delongas, vamos ao que interessa:

Made in Brazil

Raul Seixas
Impossível começar esse post e não lembrar do grande Raulzito. Compositor de mão cheia, ele gravou ao menos três discos clássicos: Krig-ha Bandolo!, Gita e Novo Aeon. Audição obrigatória.

Secos & Molhados
Um dos maiores fenômenos da indústria musical brasileira, chegando a vender milhões de discos num curto período de tempo. E a música? Uma mistureba de sofisticação, atitude e inspiração embasbacante. O mais próximo que chegamos do glam rock.

Os Mutantes
Falar dos Mutantes é chover no molhado. Um dos grupos mais inventivos de todos os tempos, figuras indispensáveis na evolução do rock brasileiro, difusores da guitarra em solo tupiniquim, instrumentistas e compositores acima de qualquer suspeita, donos de uma obra brilhante... É genial. Vale inclusive dar uma conferida atenta nos discos sem Rita Lee e até mesmo os sem o Arnaldo Baptista.

Novos Baianos
Como bem disse certa vez o Bento Araújo da Poeira Zine: "se o Creedence bebeu da música tradicional americana e os Beatles da melodia inglesa, os Novos Baianos por sua vez se apoderaram dos ritmos e harmonias brasileiras". O mais autentico rock nacional.

Rita Lee & Tutti-Frutti
Rock n' roll da melhor qualidade feito no Brasil. E vendeu feito água. Luis Carlini (guitarra), Franklin (bateria), Lee Marcucci (baixo) e, obviamente, Rita Lee comandando tudo. Que bandaça!

Patrulha do Espaço
Após o Arnaldo Baptista (ex-Mutantes) lançar o espetacular Loki, ele reapareceu com essa banda precisa e sonoramente desbravadora. Foi durante muito tempo a banda brasileira mais pesada. Contém o lendário Rollando Castelo Júnior na bateria. Abriram o show do Van Halen no Brasil. E embora não seja a música mais representativa do grupo, "Sunshine" sempre me emociona. Confesso não curtir tanto a longa carreira pós-Arnaldo, muito por conta das vocalizações cheias de trejeitos pastiches e das fracas letras. Ainda assim admiro muito a banda.

O Terço
Rock progressivo com cara brasileira. Flerta com a psicodelia e o rock rural (o nosso folk rock). Um dos mais regulares grupos nacionais. Músicos ultra talentosos e composições primorosas.

Som Nosso de Cada Dia
Um dos meus grupos de rock progressivo prediletos do mundo. Se colocarem ao lado do Emerson, Lake & Palmer, eu escolho o Som Nosso. Snegs é um clássico obscuro nacional. Quando flertaram com o funk também acertaram em cheio.

Casa das Máquinas
Muito bons fossem fazendo hard rock ou rock progressivo. Pode correr atrás dos três discos de estúdio sem susto. Contém na formação os incríveis (com perdão do trocadilho, se ligou?): Pisca (guitarra), Netinho (bateria), Marinho Thomas (bateria) e Simbas (vocal).

Som Imaginário
Pérola da música brasileira. Sofisticação absoluta numa mistura impecável de jazz, música brasileira e rock progressivo. Na formação, ícones do Clube da Esquina (que alias, também considero rock) como Wagner Tiso, Tavito, Robertinho Silva e Fredera.

A Bolha
Assim como o Casa das Maquinas, fizeram do hard rock ao progressivo, sempre mantendo a qualidade. Difícil escolher o disco clássico do grupo. Escute os dois primeiros e escolha o seu predileto. E atente-se ao baixo espetacular do Arnaldo Brandão.
Curiosidade: o Serginho do Roupa Nova chegou a tocar na banda.

O Peso
Um único disco lançado e já é o suficiente para cita-los. Não é das minhas prediletas, mas o público mais saudosista adora. Tem seu charme.

A Chave
Boa banda de rock n' roll curitibana. Não conheço muito, mas as poucas músicas que conheço eu gosto.

Módulo 1000
É mais maldito e curioso - principalmente devido a raridade, a formação e o peso da gravação - do que exatamente bom. Mas vale a audição.

Terreno Baldio
Conhecidos como o "Gentle Giant brasileiro", devido a influência explicita do grupo inglês. Tem na guitarra o grande Mozart Mello. Ótima banda ultra indicada para os fãs de progressivo.

A Cor do Som
Se isso não é rock tipicamente brasileiro da melhor qualidade, eu já não sei mais o que é. Instrumentista virtuoses em prol da música, só poderia dar em coisa boa. Bate de frente com qualquer nome do fusion mundial contemporâneo.

A Barca do Sol
Segue a lista de quem já contribuiu com a Barca: Jaques Morelenbaum, Ritchie e Marcelo Costa. Progressivo com forte influencia regional. Muito bom. Vale lembrar que o ótimo disco Corra o Risco da Olivia Byington tem A Barca como banda de apoio.

Bixo da Seda
Lenda do rock gaúcho, dissidente de outro grupo amado da década de 1960, o Liverpool. Não é das minhas prediletas, mas é legal. Fughetti Luz e Mimi Lessa são personagens mitológicos do rock brasileiro.

Ave Sangria
Psicodelia nordestina na essência. Mais cultuado do que exatamente bom, embora tenha seu charme.

Made in Brazil
Honestamente não sou entusiasta da banda. Entretanto, mais de 40 anos de história de rock n' roll no Brasil e um disco clássico - o primeiro, "da banana", lançado em 1974 - me impede de despreza-los. É uma banda de atitude.

Joelho de Porco
Bom humor, atitude quase punk, letras incríveis - fato raro no rock nacional desta época - e performance excelente. Precisa de mais?

Vimana
Nem é tão legal, mas vale conhecer. Afinal, uma banda de rock progressivo que teve Lulu Santos, Lobão, Ritchie e Patrick Moraz é no mínimo curiosa.

Recordando o Vale das Maçãs
Pensando em 1977, auge da explosão punk em todo o mundo, soa datado o som progressivo do Recordando o Vale das Maçãs. Mas no Brasil, onde tudo chegava atrasado, contrabalancear é justificável. Toques primorosos do rock rural.

Moto Perpétuo
Pegue a sensibilidade pop do Guilherme Arantes como compositor e dê arranjos progressivos a obra. Isso não é pouca coisa! Vale lembrar que a carreira solo do Guilherme também foi fundamental para pavimentar o sucesso comercial do rock oitentista. 

Sá, Rodrix e Guarabyra
Ícones do chamado rock rural, estilo que funde folk rock com música regional brasileira. Os dois primeiros discos do trio são ótimos. Fora que o Zé Rodrix é verdadeiramente um gênio.

Citem suas prediletas e as que ficaram de fora nos comentários. Abraços!

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