Acabo de ficar cara a cara com Jesus. Não o messias milenar, mas sim o Jesus And Mary Chain, a banda escocesa balzaquiana, que como bem cantei bola aqui no blog, fez um show gratuito em São Paulo no Festival Cultura Inglesa. Sobre a apresentação, algumas observações são necessárias.
Tópico 1 - A Cultura Inglesa venceu
Grandes festivais atuais não faturam com ingresso, mas com publicidade. Pode colocar Rock In Rio e o Lollapalooza neste jogo. O Festival Cultura Inglesa, que chegou a sua 18ª edição, vende a marca da escola com brilhantismo, sem poluição publicitaria demasiada, mas explicita e direta. Lá dentro não rola bebida alcoólica (nem marca de cerveja nomeando palco, viu, Lolla), o ingresso é gratuito, mas não existe superlotação e/ou confusão (viu, Virada Cultural) e a qualidade sonora é impecável (viu, bote o nome do festival que quiser aqui). Se no Rock In Rio temos como headliners "os Metallicas e Iron Maidens de sempre", o Cultura Inglesa arrisca com Jesus And Mary Chain e Gang Of Four (2011). O evento sempre acaba cedo (20h30) e acorre em lugares de fácil acesso (esse ano foi no, diga-se de passagem, ótimo lugar para shows, Memorial da América Latina). Resumindo: o festival é um exemplo de como usar o corporativismo de forma eficiente e de como fazer um evento musical no Brasil sobreviver aos meandros do mercado e das políticas culturais. Para não ficar só nos elogios, registro que a comida no festival é muito cara (hot-dog mais básico possível custava R$13).
Tópico 2 - Que mal há em ser normal?
Uma cantora brasileira, se fazendo de gringa, na qual sequer me lembro o nome, fez um show que tinha tudo pra dar certo, mas foi uma tremenda merda. Ela canta bem, o repertório era bom (em homenagem a Amy Winehouse), a formação baixo acústico + piano é maravilhosa e quando ela pegou a guitarra não fez feio, extraindo um timbre vintage/lo-fi muito bom. Mas tudo isso foi por água abaixo a partir do momento em que ela entrou no palco com uma garrafa de sei lá o que na mão, se fazendo de bêbada, com trejeitos forçados e simpatia zero. Resultado: vaias e um show vergonhoso. Que mal há em ser normal, dar um sorriso, cantar e sair fora? Teria sido tão mais legal.
Tópico 3 - O indie rock/pop "fofinho" não é mal feito, só é bobinho
O que faltou em carisma pra tal cantora que citei acima, veio em sobra com os Los Campesinos!, banda que honestamente não conhecia, mas vou até procurar o disco, tamanha a entrega e simpatia do grupo no palco. Musicalmente não é minha praia - uma mistura de indie pop com emo -, mas é tudo bem tocado. Quem curte Imagine Dragons deve adorar. É bobo e fofinho demais? Sim, mas animou o público mais novo presente no evento. Foi o suficiente.
Tópico 4 - "Rockeiros" são chatos. Galera do indie rock é legal.
Fim de semana passado fui na Virada Cultural. Em meio a passagens de som para os shows do Mark Farner e Uriah Heep, o que mais ouvi entre o público era papo merda (é com ar de superioridade) sobre disco novo do Scorpions, shows do UFO, formações do Whitesnake... mas que bando de gente chata e conservadora que é rockeiro, não? Até entendo que eu devo me comportar da mesma forma aqui no blog, mas será que pessoalmente não dá pra ser menos bitolado. Vai falar sobre comida, futebol, oriente médio, sexo anal, mico-leão-dourado, terrorismo... sei lá. Já o público indie é exatamente o oposto dessa xiitagem rockeira. Eles conversam (as vezes de forma superficial, mas conversam) sobre moda/religião/tecnobrega/geopolítica/..., beijam gente do mesmo sexo, bebem e dançam o show inteiro, tão cagando se o guitarrista errou um acorde ou se o disco foi mal mixado. Eles são os rockeiros de verdade.
Tópico 5 - Se "rockeiros" são chato, logo, o rock também é.
Em meio a toda essa situação envolvendo o Tópico 4, como vocês acham que eu reagi aos (bons) shows do Uriah Heep e Mark Farner executando canções de 40 anos atrás? O rock as vezes me bodeia, entende?
Tópico 6 - The Jesus And Mary Chain.
Mas afinal, que raio o Jesus And Mary Chain tem haver com isso? Tudo! Com um show empolgante, mas sem presepada no palco, a banda mostrou o que há de mais legal e detestável no rock. Os irmãos Reid são tão antipáticos que, nos raros momentos em que sorriem, o público percebe que é de verdade. Jim Reid não viu o menor problema em parar três músicas no meio e dar um esporro na banda. Na plateia, algumas pessoas não entendiam nada. As canções tão melódicas quanto Beach Boys e tão barulhentas quanto o Burzum, provocam estranhamento no público comum. Chega a ser chocante o quão uma banda com mais de 30 anos se mantém relevante. Sombrio, caótico, visceral, inspirador e revigorante, isso é um show do Jesus And Mary Chain.
Tópico 7 - I Hate Rock N' Roll
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