quarta-feira, 26 de março de 2014

TEM QUE OUVIR: Chico Science & Nação Zumbi - Da Lama Ao Caos (1994)

Recife (PE), 1994, a Nação Zumbi, banda liderada por Chico Science, lança Da Lama Ao Caos, obra fundamental da música popular brasileira contemporânea.


Trazendo quase nas mesmas proporções rock, heavy metal, samba, funk, reggae, e-music, dub, rap, baião e maracatu, o disco inaugurou o Manguebeat, cuja a imagem simbólica está na antena parabólica fincada na lama, isso numa época pré revolução da comunicação digital. Muito mais que um disco, Da Lama Ao Caos é um conceito, um manifesto reverberado através de outros grupos/artistas, vide Mundo Livre S/A e Otto. Todavia, é mesmo a Nação Zumbi a grande liderança criativa do movimento.

Embora o disco não tenha vendido o quanto se é imaginado, o burburinho repercutido pela mídia especializada desencadeou numa série de elogios de nomes consagrados, show internacionais, abertura do mercado - antes restrito ao circuito Rio-São Paulo -, fortificação de uma identidade cultural brasileira e diversos artistas influenciados. Isso tudo é resultado do grande frescor presente no trabalho, fosse através do discurso ou da sonoridade.

Com Chico Science na linha de frente, a percussão matadora herdada do maracatu, as linhas de baixo com forte influencia dub, a guitarra quase heavy metal do Lúcio Maia e letras que misturam literatura de cordel com surrealismo, a Nação Zumbi transpira novidade principalmente nas acachapantes "Banditismo Por Uma Questão de Classe", "Rios, Pontes e Overdrives", "A Cidade", "A Praieira" e "Samba Makosa".

Vale lembrar que o disco foi produzido por um já consagrado Liminha, que mesmo com toda experiência, teve enorme dificuldade para captar as alfaias como o grupo imaginava. Escutando hoje, penso que ele foi muito exitoso. 

Do Gilberto Gil ao Sepultura, não teve quem passou ileso por Da Lama Ao Caos. Infelizmente, a trágica morte do Chico Science após o lançamento do também clássico Afrociberdelia (1996) interrompeu bruscamente uma revolução cultural/comercial que dependia da continuidade. Restou a lenda o seu legado.

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