segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

TEM QUE OUVIR: Stan Getz and João Gilberto - Getz/Gilberto (1963)

Adentrar o mercado americano - a maior vitrine para o resto do mundo e financeiramente o mais rentável - não é para muitos artistas. É possível contar na mão direita do Tony Iommi quais são os nomes brasileiros que conseguiram tamanha proeza. Embora o interesse pela música latina já fosse conhecido, o alcance que a bossa nova teve foi surpreendente. Muito disso se deu a partir do momento em que o americano Stan Getz se apropriou do estilo em parceria do João Gilberto, o gênio excêntrico da música brasileira. Como obra definitiva do estilo ficou o clássico Getz/Gilberto (1963).


O encontro dos artistas ocorreu da forma mais óbvia possível. Começou no interesse de Stan Getz - até então um saxofonista de cool jazz e bebop, que havia influenciado a própria bossa nova - pelo samba e, posteriormente, pelo gênero do João Gilberto. Daí bastou uma versão de enorme sucesso do americano para a emblemática "Desafinado" para ambos os lados perceberem que a união poderia ser financeiramente e artisticamente interessante. 

Para a gravação do disco, foi selecionado um time de músicos brasileiros que dispensam apresentações. Tom Jobim ao piano, Milton Banana na bateria e Sebastião Neto no contrabaixo. Além disso, João Gilberto encanta com seus ritmos sincopados, harmonias sofisticadas e canto delicado. Tais características transbordam em "Doralice" e "Só Danço Samba". Não podemos também deixar passar despercebido os solos ultra melódicos de Stan Getz em "Para Machucar Meu Coração" e "O Grande Amor". Atenção para como o ar é captado no disco, dando um senso de respiração para os improvisos do saxofonista.

João, que não sabia falar inglês, recorreu ao talento vocal de sua mulher, Astrud Gilberto, para presentear o ouvinte com a clássica "The Girl From Ipanema" em sua versão mais emblemática. É ainda hoje a canção brasileira mais conhecida fora do Brasil. 

Outra faixa que tornou-se um hino é "Corcovado", um retrato fiel (ou caricato?) do Rio de Janeiro das décadas de 1950 e 1960, colorido pela musicalidade inacreditável do Tom Jobim, que com seus acordes mágicos constrói um deslumbrante cenário.

Além de render muita grana para todos os envolvidos e projetar a música brasileira internacionalmente, Getz/Gilbert levou ainda o Grammy (não o latino, o americano mesmo) de melhor disco do ano. Infelizmente, com o golpe militar batendo na porta, poucos no Brasil puderam desfrutar do prestigio internacional. Chegara a música de protesto e a bossa nova virara mero produto de exportação.

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