sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

TEM QUE OUVIR: Sérgio Sampaio - Eu Quero É Botar Meu Bloco Na Rua (1973)

Dentro da música popular brasileira, há uma denominação nem sempre vista com bons olhos, mas que condiz com a carreira de diversos artista aos olhos da indústria. Falo do rótulo "maldito". Maldito são aqueles que, por diversos fatores, caminharam fora do circuito do estrelato, embora tenham feito trabalhos impecáveis. Redescobertos por garimpeiros musicais, tais artistas sobrevivem em obra aos maus-tratos do tempo num país sem memória. Um dos principais nomes dessa cultura é o Sérgio Sampaio, que lançou em 1973 o cultuado Eu Quero É Botar Meu Bloco Na Rua.


Parceiro de Raul Seixas no histórico álbum Sociedade Da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão Das 10 (1971), Sérgio Sampaio se destaca devido suas composições, que transitam entre a visão de um boêmio e a de um fanático pela obra de Franz Kafka. Porém, embora muitos insistam em intelectualizar sua obra, a verdade é que ele é adorado pela sua sagacidade espontânea de simples captação.

O sensacional jogo de palavras em cima de um 3/4 dançante da encantadora "Leros e Leros e Boleros", é a porta de entrada perfeita para o trabalho do compositor. Já "Filme de Terror" é uma das melhores canções do rock nacional, embora pouco lembrada. Em contrapartida, "Cala A Boca, Zebedeu" é um samba consistente de temática quase feminista. Esse leque variado de estilos evidencia as várias facetas de um grande criador.

Não faltam faixas que mereçam destaque. A poesia ébria de "Pobre Meu Pai" é acompanhado por um arranjo belíssimo. A surrealista "Labirintos Negros" tem um instrumental impecável. Já a linda "Eu Sou Aquele Que Disse" merece uma séria reflexão.

Além disso, embora "maldito", o disco guarda um clássico, falo da faixa título "Eu Quero É Botar Meu Bloco na Rua", um samba torto de refrão empolgante.

Marginal, maldito e desregrado, Sérgio Sampaio sucumbiu ao alcoolismo e partiu despercebido. Vire e mexe seu nome surge em rodas, sua obra é redescoberta e, consequentemente, apreciada. Afinal, não há quem resista a poesia urbana deste mestre da música popular, não por acaso venerado por gente como Luiz Melodia e o próprio Raul Seixas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário