segunda-feira, 14 de outubro de 2013

As várias facetas do violão

Se tem um instrumento que todos já tocaram (ou ao menos tentaram tocar) é o violão. Ao menos no Brasil é assim. Talvez por ele ser financeiramente mais acessível quando se comparado a outros instrumentos. O fato dele ser tão presente na nossa música popular também ajuda. Até mesmo seu ruído tolerável e a cultura de ser um instrumento de acompanhamento contribuem para esse sucesso. Todavia, fato é que o violão é um instrumento tão popular quanto pouco conhecido. Explico o porquê.

Sempre tive e toquei violão. Por outro lado, me sinto intimidado em dizer "hey, eu toco violão", afinal, não toco nenhum dos estilo que o instrumento "propõe". Não que exista uma regra, mas existe uma linguagem, fraseado, repertório e técnicas a serem adquiridas. Sempre toquei rock e nada é mais chato que rock no violão em rodinha de churrasco. Por isso, decidi mostrar aqui o que, na minha humilde opinião, realmente cai bem no violão.

Música erudita
O violão foi durante muitos anos marginalizado na música erudita. Era o instrumento típico da música popular profana. Além disso, não produzia som o suficiente para competir com outros instrumentos da orquestra. Sendo assim, foi sendo deixado de lado pelos grandes compositores. Ainda assim é possível encontrar compositores/instrumentista que dedicaram a vida ao instrumento, sendo Luis Milan, Francesco Corbetta, Gaspar Sanz, Ferdinando Carulli, Mauro Giuliani, Fernando Sor, Francisco Tárrega, Andrés Segovia, Julian Bream, Leo Brouwer e John Williams os mais conhecidos. No Brasil, não podemos esquecer do falecido professor Henrique Pinto e do respeitado internacionalmente Fábio Zanon. Escutar o Segovia é entrar em contato com interpretação, timbres e dinâmica que valem por uma orquestra inteira.

Música brasileira
As possibilidades do violão dentro da música brasileira são imensuráveis. Cada estilo tem sua característica, vide a harmonia jazzistica e a batida sincopada da bossa nova do João Gilberto; o timbre grave e as linhas de baixo grandiosas do samba e choro do Dino 7 Cordas; a MPB cheia de balanço de compositores como Jorge Ben, Gilberto Gil, Djavan e João Bosco; a harmonia sofisticada de Guinga, Lula Galvão, Toninho Horta e Paulo Bellinati; além é claro da linguagem ampla de instrumentistas virtuoses como Dilermando Reis, Luiz Bonfá, Egberto Gismonti, André Geraissati, Ulisses Rocha, Yamandu Costa, Raphael Rabello e os membros do Doufel. Todas essas características são possíveis de se encontrar num único elemento. Falo do genial Baden Powell.

Música folk
A música folk sempre teve o violão como principal instrumento de composição e acompanhamento. Seja pelas mãos de Hank William, Johnny Cash, Bob Dylan ou Paul Simon, ela serviu de referência até mesmo para as bandas de rock. Tem como negar a influência da música folk nas obras do Jimmy Page, Neil Young, David Gilmour, Richard Thompson ou Mark Knopfler? É claro que não. Dentre as maiores referências no violão folk está o Bert Jansch, espetacular instrumentista que fez parte da lendária banda Pentangle.

Música flamenca
Adoro a sonoridade do violão flamenco, mas devo confessar que não conheço muitos instrumentistas do estilo. Sempre me dei por satisfeito com um em especial. Falo obviamente do Paco de Lucia. Sua técnica de dedilhado, fraseado exuberante e groove típico do estilo são impressionantes.

Jazz
Após o Charlie Christian eletrizar o instrumento no jazz, parece que toda a história do violão no estilo foi apagada. Ainda assim, Al Di Meola, John McLaughlin e, aqui no Brasil, o Hélio Delmiro, vira e mexe resgatam o instrumento. Mas nada soa mais bonito para mim quanto o gypsy jazz (ou jazz cigano) de caras como Django Reinhardt. É ouvir e ser levado diretamente para uma passado de efervescência cultural, principalmente de Paris.

Blues
O blues mais raiz que existe. Só perde por aquele cantado nas plantações de algodão ou acompanhado só pela batida do pé. Não costumo ouvir, mas admiro muito a obra criada por nomes como Robert Johnson, um dos mais influentes compositores/instrumentistas de todos os tempos.

A "nova linguagem" do violão
Tudo bem, a "linguagem" nem é tão nova assim, tem quase 30 anos, mas fato é que o violonista Michael Hedges criou um novo estilo de tocar que não pertence a nenhum dos já citados. Sua técnica era inovadora, as composições traziam doses de experimentalismo para world music e a new age, suas referências eram amplas (por exemplo, ainda que não pareça, Dimebag do Pantera era um de seus guitarristas prediletos) e ele conseguia timbres jamais extraídos do instrumento. Curiosamente, hoje em dia é possível sentir sua enorme influência em milhares de músicos espalhado pelo YouTube, sendo que alguns deles apresentaram um trabalho mais coeso e despontaram na carreira, vide Tommy Emmanuel, Kaki King, Phil Keaggy e Andy Mckee.

Depois de escutado tudo isso, da para entender o porquê de tocar Legião Urbana no violão em churrasco nunca fez minha cabeça, né.

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