quinta-feira, 19 de setembro de 2013

TEM QUE OUVIR: Zé Ramalho - Zé Ramalho (1978)

O Brasil é musicalmente contraditório. Ainda que a mistura faça parte da cultura do país, o público é segmentado. É difícil encontrar alguém que consiga assimilar tanto Ratos de Porão quanto Milton Nascimento. Por isso, é espantoso ver o quanto um artista como o Zé Ramalho conseguiu atingir diferentes plateias, indo de parceria com Sepultura e Chitãozinho e Xororó à regravação de Luiz Gonzaga. Entretanto, seu maior triunfo - e talvez o que possibilitou tudo isso - foi justamente seu homônimo disco de estreia lançado em 1978. 


Ainda que vindo do Paêbirú (1975) - álbum gravado em parceria com o Lula Côrtes, que é cultuado principalmente devido sua raridade e musicalmente por apresentar a fusão do rock psicodélico com elementos da música nordestina -, Zé Ramalho (1978) é mesmo o seu debut.

A clássica "Avôhai" abre o disco carregada por elementos de música regional, violas de sonoridade metálica, brilhante linha de baixo, participação do Patrick Moraz (ex-Yes) nos teclados e uma letra sobrenatural em homenagem a seu avô. Uma canção ainda hoje emocionante e singular, presente no imaginário de qualquer brasileiro.

Com sua voz grave inconfundível, Zé Ramalho declama letras rebuscadas em cima de arranjos belíssimos. Músicas como "Vila do Sossego" e, principalmente, a lindíssima "Chão de Giz" (mais uma linha de baixo exuberante), são pontos altos em sua carreira. 

Outra faixa que merece destaque é "A Dança das Borboletas", canção ímpar, de arranjo ousado, letra enigmática e guitarras lisérgicas do Sérgio Dias (eterno Mutantes).

O disco traz participações importantes nas composições, vide Alceu Valença no baião rockeiro "A Noite Preta" e Geraldo Azevedo no autentico folk brasileiro "Bicho de 7 Cabeças". Junto com o Zé Ramalho, esse dois artistas formaram uma cena importante do rock nordestino na década de 1970.

Zé Ramalho nunca mais repetiu tamanha excelência em sua discografia - embora com bons momentos -, mas seu álbum de estreia foi o suficiente para coloca-lo entre os principais nomes da música popular brasileira. 

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