domingo, 26 de maio de 2013

TEM QUE OUVIR: Johnny Cash - At Folsom Prison (1968)

Johnny Cash teve uma carreira irregular. Muito disso causado por bebedeiras, vício em anfetaminas, problemas com a lei, divórcio, shows tumultuados, tentativas de suicídio e vexames público. Tudo isso fazia parte do currículo marginal de Cash, contrabalançado por composições memoráveis, vozeirão grave e pé atolado na música country. 

Após anos de loucuras, em 1968 o Homem de Preto começou a reerguer sua carreira/vida. Casou com June Carter e se converteu ao cristianismo. Musicalmente, sacramentou sua volta ao sucesso comercial com um brilhante disco gravado ao vivo, justamente no lugar onde o público mais se identificava com suas canções: Folsom State Prison, cadeia de segurança máxima localizada na Califórnia, mesmo local em que esteve detido anos antes por porte de drogas. Resultado? O álbum vendeu mais de 1 milhão de cópias, superando na época as vendagens dos Beatles. A fórmula foi tão boa e natural que se repetiu anos depois em San Quentin.


O que encanta nesta apresentação é naturalidade com que Cash lida com a plateia. Ali ele não era o artista, mas sim o locutor, que entre risos, tosses, diálogos e provocações, cantava ótimas canções de profundidade e fácil assimilação. Os arranjos são simples, porém vorazes. É a velha música country americana com atitude rocker, feita por um fora-da-lei e executadas sob supervisão de policiais fortemente armados. 

Nada mais apropriado do que abrir o show com "Folsom Prison Blues" e logo de cara mandar um "atirei num homem em Reno só para vê-lo morrer". Outras letras se encaixam ainda mais no contexto carcerário, vide "The Wall", "Cocaine Blues", "25 Minutes To Go" e "Greystone Chapel", essa última de força espiritual. 

É emocionante ouvir sua bela interpretação para "Green, Green Grass Of Home". Há também momentos descontraídos, vide divertidíssima "Dirty Old Eggsuckin' Dog". Já a clássica "Jackson" salta aos ouvidos em seu sempre irresistível dueto com a June. Todas essas canções servem de amostra da pluralidade lírica do Johnny Cash.

Antes do rap ser o megafone musical dos encarcerados ou mesmo da Rita Cadillac tornar-se a Rainha dos Detentos, Johnny Cash estava lá, fazendo com atitude e talento o que ninguém jamais conseguiu superar: ser um marginal na indústria musical.

Nenhum comentário:

Postar um comentário