sábado, 25 de maio de 2013

Clássicos do início do heavy metal brasileiro

A revista brasileira Roadie Crew, especializada em heavy metal e classic rock, lançou neste mês uma edição comemorativa de 15 anos com os "60 Grandes Álbuns do Metal Brasileiro". A matéria é extremamente interessante e me apresentou bandas esforçadas, carregas de inocência e limitações técnicas, que hoje podem ser vistas com romantismo e admiração.


Farei um apanhado dos grupos do início do heavy metal no Brasil que mais chamaram minha atenção. Demarco como "início" tudo aquilo que foi feito antes do Beneth The Remains (1989) do Sepultura, claramente um divisor de águas do estilo no país. Mais futuramente escrevo sobre as grandes bandas e álbuns lançados posteriormente ao clássico disco do Sepultura.

Muitas das bandas citadas na lista da Roadie Crew não se enquadram no meu gosto, ainda que a matéria deixe clara a importância delas. Apesar de não gostar da sonoridade e, consequentemente, elas não entrarem no meu post, deixo aqui meu profundo respeito e admiração por esses grupos, dentre eles o Metalmorphose, Alta Tensão, Inox, Astaroth, Chakal, Anthares, Warfare Noise, Viper, Salário Mínimo, Panic, MX, Witchhammer, The Mist, dentre outros.

Vamos agora aos discos que mais gostei!

Stress - Stress (1982)
Um grupo que sai de Belém do Pará rumo ao Rio de Janeiro, com dinheiro contado e com o único intuito de tocar heavy metal, tem que ser respeitado, ainda mais num longínquo e nada saudoso ano de 1982. Vale lembrar que, até aquele momento, o mais próximo que o Brasil tinha chegado de produzir heavy metal era a Patrulha do Espaço, ou seja, estava mais para um hard/heavy rock. O resultado alcançado pelo Stress não é dos melhores, nem nas composições e muito menos na produção, mas vale ser escutado. Dá para sentir paixão na execução.

Harppia - A Ferro e Fogo (1985)
Aqui o heavy metal nacional deu um salto de qualidade. A evolução quando se comparada ao Stress é brutal. As composições e os arranjos são melhores, o Hélcio Aguirra (pré-Golpe de Estado) é um tremendo guitarrista, a produção é mais coesa... possivelmente o primeiro registro profissional do estilo no Brasil.

Azul Limão - Vingança (1986)
Composições extremamente ingênuas, mas muito legais. Confesso que coloco respeitosamente o Azul Limão entre aquelas bandas que são tão ruins que são boas. Escute a pateticamente incrível "Satã Clama Metal" e entenda o que digo.

Centúrias - Última Noite EP (1986)
Banda lendária da primeira geração do heavy metal brasileiro. Um dos membros era o ótimo baterista Paulão Thomaz. O disco foi produzido pelo Luiz Calanca, o mesmo a produzir o irregular, mas importante, SP Metal, coletânea lançada em 1984, que apresentou dentre outras bandas o próprio Centúrias. Vale ainda conhecer o álbum Ninja (1988).

Dorsal Atlântica - Antes do Fim (1986)
Somente agora peguei pra escutar o Dorsal com a devida atenção. O resultado? Achei espetacular. O Carlos Lopes é um ótimo compositor. O disco Antes do Fim é contemporâneo aos grandes trabalhos de thrash metal gringos. Se você gosta de Slayer não pode deixar de escutar esse impactante álbum. Muito influente dentro do cenário nacional.

Taurus - Signo de Taurus (1986)
Diretamente do Rio de Janeiro, uma banda atenta ao thrash metal produzido nos EUA. E já nem é mais naquela forma tosca, visto que tem alguns momentos de violão e palhetadas que deixaria o James Hetfield surpreso. Ok, as composições são "bobinhas", mas a execução é afiada. 

Vulcano - Bloody Vengeance (1986)
Com o Brasil recém saído de uma ditadura militar, abriu-se espaço para o surgimento de bandas como o Vulcano, que não economizava o verbo ao blasfemar contra a igreja. O som é muito bagaceiro e, também por isso, cheio de personalidade. Curioso se pensarmos que o grupo é oriundo de Santos (SP). Desgraçado.

Sarcófago - INRI (1987)
É tosco, horrível, sofrível, barulhento... mas acho que era essa a ideia mesmo. Impossível não ouvir INRI e não associar a inúmeras bandas de black metal que copiaram não só o visual, mas também a sonoridade do grupo, principalmente no que diz respeito a bateria recheada de blast beats (metrancadas) do D.D. Crazy. Esse disco representa o quê de mais extremo a influente cena de Minas Gerais deu ao mundo.

Holocausto - Campo de Extermínio (1988)
Mais um fruto podre de BH, que tem como principal característica as letras em português, ainda hoje pouco usais no metal extremo. Essa abordagem explixitou a temática controversa das faixas. É uma cacetada.

Golpe de Estado - Forçando a Barra (1988)
Sempre adorei o disco Forçando a Barra do Golpe de Estado e fiquei surpreso com a inclusão dele na lista da Roadie Crew, muito por ele não ser exatamente um disco de metal, mas sim de hard rock, cantado em português e com a malandragem típica do país. O disco comprova também que Hélcio Aguirra (que já apareceu aqui com o Harppia) foi realmente um dos melhores guitarristas deste período. Nelson Brito (baixo), Paulo Zinner (bateria) e Catalau (voz) também merecem seus nomes citados.

Multilator - Into The Strange (1988)
Mais uma força de Belo Horizonte. Embora de produção ainda capenga, é impressionante como a banda demonstra boa capacidade técnica e composicional se comparado com que era feito até então no thrash metal mundial. Ótimo trabalho.

Robertinho de Recife - Metal Mania (1984)
Um disco não citado na lista da Roadie Crew - na minha humilde opinião foi falha grave - e que quero destacar é o Metal Mania, do grande guitarrista Robertinho de Recife. Escutem e comprovem a qualidade das composições (ainda que inocentes, tem boas melodias e riffs), produção e execução do lendário guitarrista, principalmente para um Brasil de 1984. Extremamente influente entre os guitarristas.

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