quarta-feira, 22 de maio de 2013

TEM QUE OUVIR: Ira! - Psicoacústica (1988)

No efervescente cenário musical paulista da década de 1980, muitas bandas - vide As Mercenárias, Ratos de Porão, Patife Band, Akira S, dentre outras - surgiram e criaram um circuito alternativo formado pelas casas Madame Satã, Napalm, Carbono, Rose Bom Bom e o teatro Lira Paulistana. Dentre tantos grupos que faziam a trilha sonora da noite paulistana, um em especial se popularizou nacionalmente com uma fórmula imbatível. Semelhante ao que The Jam fez na Inglaterra, eles pegaram a cultura mod e inseriram doses de punk rock. Estava formado o Ira!.

Logo nos primeiros anos, a banda lançou dois ótimos discos, Mudança de Comportamento (1985) e Vivendo E Não Aprendendo (1986). Mas cheio de peculiaridades que é o rock nacional, um álbum de menor sucesso - mas não de menor qualidade - foi o que tornou-se símbolo dessa cena underground do rock paulista. Falo do cultuado Psicoacústica (1988).



O disco é movido pelas ótimas composições do Edgard Scandurra, ícone da guitarra rock brasileira, que havia passado anos antes por Ultraje a Rigor, Smack e Mercenárias. Um de seus grandes momentos como compositor está em "Rubro Zorro", música sobre o mitológico Bandido da Luz Vermelha. Já suas ótima bases e inventivas linhas melódicas podem ser conferidas nas canções "Manhãs de Domingo", "Poder, Sorriso, Fama" (perfeita para um glamourizado BRock oitentista) e na psicodélica "Mesmo Distante".

É interessante lembrar que nessa época o vocalista Nasi e o baterista Andre Jung começavam a se interessar pela cultura hip hop - vide "Advogado do Diabo" -, enquanto Scandurra iniciava suas experimentações com a música eletrônica, que alinhado aos primeiros sinais da decadência mercadológica do rock nacional, levou a banda a fazer a simbólica "Farto do Rock N' Roll".

Essa explosão de criatividade e influências acabou originando a estranha, paranoica e detetivesca "Pegue Essa Arma", que contém sample retirado do filme O Bandido da Luz Vermelha (Rogério Sganzerla, 1968).

Psicoacústica é considerado hoje um disco cult. Ainda que tenha guiado o grupo para o ostracismo dos anos seguintes, sua audição ajuda a contextualizar esse período interessante do rock brasileiro.

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