Não se deixe enganar pela cafoníssima capa, o disco de estreia do Roxy Music é uma amostra de rock enquanto atividade artística. Isso graças aos talentos individuais que fizeram de Roxy Music um dos grandes lançamentos da época e um marco nas inovações estéticas dentro da música pop.
"Re-make/Re-model" abre o álbum com o clima festivo típico do glam rock. Há guitarras ácidas, cozinha energética, sax de free jazz e a interpretação irônica de Bryan Ferry, principal compositor da banda. Seu estilo é tão glamoroso quanto surreal.
Entretanto, a peça fundamental para a peculiaridade do grupo encontra-se em Brian Eno, mestre dos sintetizadores, que tornou-se anos depois renomado produtor do David Bowie, Talking Heads e U2. Seus timbres frenéticos de moog e mellotrons surgem em canções como "Ladytron". É possível notar também vestígios de música ambiente - estilo adotado por Brian Eno posteriormente - na experimental "Sea Breezes". Eis algumas das primeiras inserções da música eletrônica no mundo pop.
A espetacular cozinha formada por Graham Simpson (baixo) e Paul Thompson (bateria) dá uma aula de groove na desconcertante "2HB". É interessante como eles flertam com naturalidade a complexidade do rock progressivo com o balanço do funk.
O guitarrista Phil Manzanera é de inventividade subestimada. Seus timbres peculiares aparecem por todos o disco, vide a deliciosamente maluca "Chance Meeting", em que ele faz sua guitarra esbravejar chorosamente num solo intenso. A voz melancólica do Bryan Ferry e o baixo angustiante do Graham Simpson também merecem destaque.
A peculiar "The Bob (Medley)" evidencia o compromisso artístico num arranjo nada convencional/comercial. Mas é importante lembrar que o disco foi muito bem recebido tanto pela imprensa quanto pelo público.
Um dos grandes diferenciais do Roxy Music está também na presença do saxofonista Andy Mackay, que debulha seu instrumento na ótima "Would You Believe?". Já em faixas como "If There Is Something" (de toque solar estranhamente californiano) é a qualidade da gravação que impressiona, sendo que a produção ficou a cargo do Peter Sinfield, aquele mesmo que já havia trabalhado com o King Crimson.
Roxy Music não é apenas o melhor disco da banda, mas também um dos mais importantes discos de estreia de todos os tempos, que mesmo na vanguarda foi capaz de influenciar do pop ao punk.
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