quinta-feira, 29 de novembro de 2012

TEM QUE OUVIR: Racionais MC's - Sobrevivendo No Inferno (1997)

O hip hop é hoje uma realidade na canção brasileira. É verdade que, por ser um movimento oriundo das classes mais desfavoráveis da sociedade, ele ainda enfrenta enormes dificuldades. Todavia, o rap já está inserido nas mais diferentes frentes sociais e culturais do país. Isso não seria possível sem um grupo e um disco em especial. Me refiro ao clássico Sobrevivendo No Inferno (1997) dos Racionais MC's.


Essa evolução do rap no Brasil já vinha acontecendo bem antes do lançamento deste álbum. Até mesmo o Racionais já havia conseguido destaque anteriormente com a faixa "Domingo No Parque". Ainda assim, é inegável a contribuição cultural e comportamental de Sobrevivendo No Inferno para a música brasileira.

O disco começa brilhantemente com "Jorge da Capadócia" (Jorge Ben) recitado em cima do sample de "Ike's Rap II" do Isaac Hayves (e não "Glory Box" do Portishead, como já ouvi dizerem por aí).

O álbum caminha para "Capítulo 4, Versículo 3", clássico do hip hop, principalmente após a emblemática apresentação do grupo no VMB de 1998. Com seu beat cru, linha de baixo pesada e piano dramático, a canção cria um clima de tensão que representa tão bem o conflito social brasileiro. Como retrato da periferia, fica também no ar uma dualidade entre as igrejas evangélicas e os bares das favelas paulistanas.

Entre as faixas mais conhecidas estão "Diário De Um Detento" (em que Mano Brown narra o Massacre do Carandiru) e "Mágico de Oz" (em que Edi Rock da voz às crianças abandonadas das ruas de São Paulo). Só essas duas canções já seriam o suficiente para coloca-los entre os grandes cronistas urbanos da música nacional. Atenção o beat consistente de ambas.

Mano Brown e Edi Rock continuam com seus discursos afiados, rimas inteligentes e interpretação contundente em "Tô Ouvindo Alguém Me Chamar" e "Rapaz Comum". Já o DJ Kl Jay dá uma aula de sample em "Qual Mentira Vou Acreditar?" - com direito a alfinetada ao Barão Vermelho e Guns N' Roses - e no groove esperto de "Fórmula Mágica da Paz".

Sem dúvida o melhor e mais importante disco do hip hop nacional. Clássico absoluto que guiou jovens - da periferia ou não - para o rap e para a vida.

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