quarta-feira, 17 de outubro de 2012

TEM QUE OUVIR: Sex Pistols - Never Mind The Bollocks, Here's The Sex Pistols (1977)

Demarcar o ponto inicial do punk rock é tarefa árdua e inútil. Alguns dizem que começou com os grupos MC5, New York Dolls e The Stooges, hoje chamados de proto-punk. Outros mais radicais atribuem aos peruanos do Los Saicos. Mas a verdade é que, mesmo que os Ramones e o The Damned tenham registrado discos em 1976, a popularização e grande revolução do estilo aconteceu com o primeiro e único álbum do Sex Pistols, o clássico Never Mind The Bollocks, Here's The Sex Pistols (1977).


O primeiro adendo que faço é que Sid Vicious - indiscutivelmente um dos maiores personagens da história do rock -, só tocou (e bem!) na faixa "Bodies". Glen Matlock divide os baixos com o guitarrista Steve Jones. Restou assim a Sid a imagem/atitude niilista autodestrutiva do estilo.

É importante lembrar também a masturbação egocêntrica, glamourosa e pretensiosa em que o rock se encontrava: era o Eagles gastando milhões com estúdio (e cocaína, claro), o Pink Floyd com suas longas canções que não mais se comunicavam com a juventude, o Yes distribuindo virtuosismo e o Led Zeppelin fazendo shows em grandes arenas, viajando em seu próprio avião. Resumindo, as bandas de rock estavam muito distantes do público.

Outro adendo é para os altos índices de desemprego na Inglaterra no final da década de 1970, que causava apatia e falta de perspectiva nos jovens britânicos. Sendo assim, ainda que traga toda a "picaretagem" e malícia mercadológica do empresário Malcolm McLaren, o Sex Pistols era uma genuína luz no fim do túnel em meio a caretice comportamental e musical.

Antes de gravar o álbum, o grupo fazia apresentações pouco frequentadas. Dentre elas está o lendário show em Manchester, que entre meia dúzia de gatos pingados continha na plateia jovens que viriam a integrar os Smiths, Buzzcocks e Joy Division.

Com o visual gritante moldado pela estilista Vivienne Westwood e o momento propicio para a ferocidade, as composições do disco catapultaram o punk rock, arremessando sua estética para os mais diversos cantos do mundo, enterrando estilos do passado. Eis a explosão punk de 1977.

Logo na faixa que abre o trabalho, a acachapante "Holidays In The Sun", é possível notar uma agressividade instrumental ousada, além da peculiar/debochada voz de Johnny Rotten, que mais parece um resmungo. Já em "Bodies" o peso é mais evidente em sua letra sombria sobre aborto.

"No Feelings" e "Liar" trazem a fórmula que diversas bandas adotaram posteriormente, do Dead Kennedys ao Green Day. "Pretty Vacant" tem Steve Jones moendo sua guitarra, sendo um grito de esperança para os músicos medíocres e marginais. Já não era mais necessária a destreza técnica de um Jimmy Page para fazer rock.

Mas o grande clássico é "God Save The Queen", um hino sarcástico contra a rainha e o conformismo, com direito a berros de "no future for you". "Anarchy In The UK" tem a mesma violência sônica e poética, levando espantosamente a faixa ao topo das paradas, ainda que enormemente boicotada. Ambas foram lançadas previamente como singles.

Com esse álbum o Sex Pistols criou a fórmula do punk rock. Gostando ou não, poucos discos foram tão influentes e fiéis a uma época.

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