sábado, 21 de julho de 2012

TEM QUE OUVIR: Guns N' Roses - Appetite For Destruction (1987)

Uma das maiores pérolas do hard rock oitentista. Um disco que vendeu 15 milhões de cópias somente nos EUA e revolucionou o gênero, ainda que trazendo os velhos trejeitos do estilo. É óbvio que estou falando do clássico Appetite For Destruction, álbum de estreia do Guns N' Roses.

Um dos primeiros pontos a chamar atenção no disco é sua capa. A imagem criada por Robert William contendo um robô estuprador causou polêmica nos EUA, colaborando para a fama do grupo de problemáticos e arruaceiros.


"Welcome To The Jungle" abre o trabalho evidenciando as qualidades do Slash. Timbre enorme (de les paul), riff certeiro, solos impecáveis, atitude, carisma, groove e muita pegada. Exatamente o que faltava numa época em que o cabelo era mais importante que a música no hard rock. Eis o único guitarrista daquela geração que não queria soar como o Eddie Van Halen.

"It's So Easy" é de autoria do baixista Duff. Nela fica explicita sua influência punk. Seu estilo de vida regado a álcool e drogas é abordado na letra da canção. Já as rockeiras "Nightrain" - com uma das grandes performances do Axl Rose - e "Out Ta Get Me", trazem como compositor o subestimado Izzy Stradlin, que além de ser o ponto de equilíbrio do grupo, é um guitarrista rítmico impecável.

A pegada e o groove funkeado do ótimo baterista Steven Adler em "Mr. Brownstone" é de extremo bom gosto. Já sua letra sobre o heroína mostra o caminho torto que a banda traçava logo no início da carreira.

"Paradise City" foi um dos hits do disco. Apesar de sua simplicidade, a intensidade da execução e a performance carismática de Axl num refrão pegajoso chama atenção. O solo final de Slash é de extremo bom gosto e deixa nítido suas maiores inspirações: Joe Perry e Ace Frehley.

As ótimas "My Michele" - com influência de Alice Cooper - e "Think About You" comprovam mais uma vez o talento do Izzy para compor, além de conter a precisão melódica e a pegada pesada do baixista Duff.

O espírito rock n' roll é ressaltado na paulada "Out Ta Get Me", na veloz "You're Crazy", na frenética "Anything Goes" e na safada "Rocket Queen", com direito a gemidos reais da então namorada do Steven Adler numa relação sexual com o Axl.

Entretanto, independentemente de tanta boas músicas, "Sweet Child o' Mine" é mesmo o grande clássico do disco. A guitarra da introdução, seus diversos solos e a performance de Axl fez da canção o grande hino do Guns N' Roses.

Apesar da fama de serem "a banda mais perigosa do mundo", foi a energia das músicas o verdadeiro motivo para explosão comercial do grupo. O Guns lançou um disco de estreia vigoroso e nunca mais voltou a ter o mesmo desempenho. Todo o resto é bajulação e polêmica de tabloide.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Grandes amizades na música

Hoje é "Dia do Amigo". Só para não deixar a data passar em branco, fiz uma pequena lista com grandes parceiros da música. Não coloquei integrantes que são da mesma banda - ai a lista ficaria infinita -, citei apenas aqueles que ao longo de suas respectivas carreiras, construíram interessantes trabalhos juntos e verdadeiras amizades.

Eric Clapton e George Harrison
Eric Clapton e George Harrison, dois dos maiores guitarristas da história, tiveram inúmeras parcerias musicais - da música "While My Guitar Gently Weeps" ao concerto para Bangladesh -, passando pelo vício em heroína e até ao "passe livre" da esposa (Pattie Boyd) dado ao amigo. Isso que é amizade.

Sammy Hagar e Michael Anthony
Sammy Hagar e Michael Anthony se conheceram no Van Halen. Quando Sammy Hagar foi chutado da banda, Michael Anthony ajudou o amigo tocando baixo em sua carreira solo. Agora, são parceiros no Chickenfoot. Ou seja, é uma amizade que se prolonga por três bandas e que causou tanta fúria/ciúmes no Eddie Van Halen, que o Michael Anthony ficou de fora da reunião do Van Halen.

Joe Satriani e Steve Vai
Quando Joe Satriani conheceu Steve Vai, presenciou um jovem interessado em música, mas que não sabia sequer trocar as cordas da guitarra. Satriani deu aulas para o Vai e o aluno aprendeu bem as dicas com o mestre. Os dois são hoje os maiores nomes da guitarra virtuose. Além disso, são parceiros de G3, projeto encabeçado por Satriani que reúne três guitarristas para turnê em conjunto. Advinha quem é o guitarrista parceiro do Satriani que mais participou do projeto?

Dave Grohl e Josh Homme
Ambos tocaram em duas das melhores bandas da década de 1990: Nirvana e Kyuss. Ambos são líderes de suas bandas atuais: Foo Fighters e Queens Of The Stone Age. Ambos tem projetos paralelos: Probot e Eagles Of Death Metal. Com tanta atributos e talentos em comum, ambos dão um pulo no projeto do outro. Mais recentemente, juntaram-se a um grande nome da história do rock - John Paul Jones, eterno baixista do Led Zeppelin - e formaram o sensacional Them Crooked Vultures.

Erasmo Carlos e Roberto Carlos
Sem dúvida uma das maiores parcerias em composição da música brasileira. Se Roberto Carlos foi até 1974 um cantor talentoso, Erasmo Carlos não ficava atrás com suas ótimas composições. Pena que o Roberto Carlos abandonou a parceria musical com Erasmo e caiu numa mediocridade profunda. Por outro lado, o Tremendão ainda hoje lança bons trabalhos e faz shows bastante consistentes.

Caetano Veloso e Gilberto Gil
Se Erasmo e Roberto são os alicerces da Jovem Guarda, Gilberto Gil e Caetano Veloso são as cabeças do Tropicalismo. Baianos de vanguarda e compositores de extrema excelência, lançaram diversos álbuns em parceria, criaram clássicos da música brasileira e são ainda hoje ousados e talentosos (principalmente o Caetano).

Nando Reis e Cássia Eller
Se Cássia Eller foi uma das melhores interpretes da música brasileira, o mesmo não pode se dizer do Nando Reis, que ao menos brilha em suas composições. Todavia, a parceria de ambos sempre pareceu transcender a música. Era bonito de ver os dois juntos.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Jon Lord (1941 - 2012)

Conforme o tempo passa, a morte se torna cada vez mais comum entre os nossos ídolos. Neste ano, a quantidade de talentosos artistas que se foram é assustadora (no fim do ano faço um post em homenagem a todos eles). Mas algumas perdas são mais dolorosas.

Ontem morreu um dos grandes compositores e músicos do rock. Estou falando do lendário Jon Lord, eterno tecladista do Deep Purple.


Alias, resumir seu talento exclusivamente ao rock é superficial. Sua bagagem musical passa pela música erudita, blues, jazz e heavy metal, sendo que a fusão do erudito com o rock é uma das conquistas mais relevantes da sua carreira. O magnifico, embora controverso, Concerto for Group and Orchestra (1969), é um marco na história do rock e influenciou uma legião de bandas/artistas, do Yes ao Metallica, do Rush ao Iron Maiden. Aqueles arranjos primorosos influenciados por Bach, Beethoven e Mozart somados a energia jovial do Deep Purple, transcenderam barreiras e tinham como único intuito transformar em som o que se passava na mente de um criador genial.


Mas voltando no tempo, ainda antes do Deep Purple, o Jon Lord trabalhava como músico de estúdio. Dentre inúmeras gravações, é dele os teclados da clássica "You Really Got Me" dos Kinks.


Mas foi ao formar o Deep Purple em 1968 com Rod Evans, Nick Simper, Ian Paice e Ritchie Blackmore, que os teclados de Jon Lord começaram a ganhar uma massa sonora que caracterizou seu estilo. Seu equipamento era basicamente um órgão Hammond, caixas Leslie e, o grande diferencial, os amplificadores valvulados da Marshall, que deixavam seu timbre extremamente pesado, ainda mais para o final da década de 1960. Vale lembrar que durante muitos anos ele abriu mão do uso dos sintetizadores, mesmo no auge dos timbres de moog.

Em faixas como "Wring That Neck" é possível notar sua nova linguagem para o instrumento. Assista ao vídeo abaixo (já com o Roger Glover e Ian Gillan, fechando a formação clássica do Deep Purple) e perceba isso.


O tempo passou e com ele veio discos como In Rock (com o riff certeiro de "Speed King" de autoria do Jon Lord), Machine Head (com o solo brilhante e extremamente influente de "Higway Star"), Burn (onde a faixa titulo tem mais um riff pesadíssimo composto pelo tecladista) e o Made In Japan (reunindo uma das maiores performances ao vivo da historia do rock, repleto de improvisações e passagens inspiradas), isso só para citar os álbuns que dispensam apresentações. Mesmo com trocas de integrantes, Jon Lord se manteve na banda até 1976, quando desgastada, ainda que lançando discos espetaculares, o grupo implodiu.

Com o fim do Deep Purple, Jon Lord e Ian Paice se juntam no projeto Paice, Ashton & Lord. O grupo durou um único disco, o ótimo Malice in Wonderland (1977). Já no ano seguinte ele entra no Whitesnake do amigo David Coverdale, onde permaneceu até 1984 e gravou seis bons discos de estúdio.

O Deep Purple voltou em 1984 com sua formação clássica e lançou o bem sucedido Perfect Strangers, sendo que a faixa que da o nome ao álbum traz uma das grandes introduções de teclado do rock.


O Deep Purple de 1986 até 1994 passou por diversas turbulências, algumas relacionadas a brigas internas e outras a falta de criatividade, mas Jon Lord sempre mostrou-se seguro, maduro e educado, exatamente o contrário do estereótipo de rockstar, provavelmente pelo fato de seu amor pela música ser mais relevante do que as crises pessoais e do show business.

Em 1999, ele fez com o Deep Purple uma releitura do já citado Concerto for Group and Orchestra. Em 2002, exausto dos anos de estrada, decidi amigavelmente sair da banda e dedicar-se a compor peças eruditas e fazer apresentações num ritmo menos frenético. Tive o privilégio de assistir seu bom show na Virada Cultural de 2009 com a Orquestra Municipal de São Paulo.

Mais recentemente, montou um projeto beneficente nomeado WhoCares com seu parceiro de Deep Purple, Ian Gillan, o eterno guitarrista do Sabbath, Tony Iommi, o baterista do Iron Maiden, Nicko McBrain e o ex-baixista do Metallica, Jason Newsted.


Jon Lord se foi, mas sua música sobrevive. Sua influência continuará em diversos músicos que manifestaram gratidão ao mestre, dentre eles Lars Ulrich (Metallica), Jordan Rudess (Dream Theater), Rick Wakeman (Yes) e outros muito menos relevantes, mas igualmente gratos, como eu.

R.I.P. Jon Lord

sexta-feira, 13 de julho de 2012

TEM QUE OUVIR: The Rolling Stones - Exile On Main St. (1972)

Dentro da vasta discografia dos Rolling Stones, Exile on Main St. (1972) é o trabalho mais aclamado pela crítica. Muito disso se deve as histórias envolto a gravação do álbum. Relembremos:


Os Stones estavam exilados no sul da França devido problema com impostos, que impedia a volta para a Inglaterra. Sendo assim, aproveitaram o tempo extra e a presença dos amigos para gravar um disco no porão de uma mansão do Keith Richards. Tudo regado a festas, bebidas, drogas, sexo e inspiração. Gram Parsons era um dos que estava ali no meio, gerando tumulto, criatividade e ciúmes no Mick Jagger. A produção mais uma vez ficou a cargo do Jimmy Miller.

"Rocks Off" abre o disco com a típica levada rítmica da guitarra do Keith. A participação do pianista Nicky Hopkins, do saxofonista Bobby Keys e do trompetista Jim Price, dá o primeiro sinal do brilhantismo que percorrerá por todo o álbum.

O rock n' roll rola solto em "Rip This Joint", "Turd On The Run", "Ventilator Blues" e "All Down The Line". "Shake Your Hips", originalmente do Slim Harpo, expõe a raiz blues da banda. Isso volta acontecer em "Casino Boogie" - com excelente linha de baixo gravada por Keith - e "Stop Breaking Down" (Robert Johnson).

"Tumbling Dice" é um dos grandes hits do disco. Nesta música, Keith Richards comprova mais um vez o porquê de ser um dos grandes guitarristas rítmicos do rock. Mick Taylor, por sua vez, é sutil ao encaixar belas frases de slide. A voz singular do Mick Jagger ganha reforço - ainda que não precisasse - de backing vocals perfeitamente arranjados. Já o Charlie Watts é, como sempre, eficaz em seu groove preciso. Vale ainda se atentar a estupenda linha de baixo, tocada não por Bill Wyman, mas pelo Mick Taylor.

O folk "Sweet Virginia" ganha força no decorrer da canção e retrata sonoramente a maluquice que rolava no porão/estúdio da casa de Keith. Já "Torn And Frayed" mostra o lado mais The Band dos Stones. As experimentações acústicas continuam em "Swett Black Angel".

A excelente composição de "Loving Cup" serve de passarela para cada músico desfilar competência na execução. Os slides poderosos de Mick Taylor em "Happy" fazem da música um dos grandes momentos da carreira dos Stones (o maior entre os cantados pelo Keith).

A bela balada "Let It Loose" tem arranjo de voz, metais e piano primorosos. "Shine a Light" mantém a excelência, mas desta vez com influências de gospel, soul e até mesmo toques de reggae. O típico rock n' roll básico dos Stones volta na ótima "Soul Survivor", fechando brilhantemente o disco.

Ainda que tenha recebido criticas negativas no seu lançamento, Exile On Main Street é sem dúvida um dos momentos mais criativos da banda. Álbum obrigatório em qualquer coleção.

terça-feira, 3 de julho de 2012

TEM QUE OUVIR: The Prodigy - The Fat Of The Land (1997)

Em 1997 ocorreu uma mudança drástica na indústria musical. A música eletrônica finalmente saiu dos subsolos das metrópoles e atingiu as rádios, revistas, MTV e consequentemente o grande público. Dentre os trabalhos fundamentais para essa conquista está o Fat Of The Land do Prodigy.


O álbum é um dos mais significativos daquilo que é chamado big beat, um subgênero da música eletrônica que se caracteriza por timbres pesados, batidas aceleradas, riffs de guitarra e influência do hip hop. Toda essa mistura (com exceção das guitarras) é ressaltada na faixa que abre o disco, a espetacular "Smack My Bitch Up", com direito a sample de Kool And The Gang e melodia vocal com características da música indiana. Além de sua riqueza sonora, a música ganhou um clipe paranóico, repleto de alucinações, drogas e sexo. A proibição do vídeo só contribuiu para o sucesso da faixa e para que o disco chegasse ao primeiro lugar em 22 países. 

A clássica "Breathe" é um verdadeiro hino eletrônico de atitude punk. O peso absurdo da produção e o vocal visceral do Keith Flint só ajudaram a deixar a obra ainda mais doentia. 

Em "Diesel Power" fica evidente que o Prodigy faz hip hop tão bem quanto os grandes artistas do gênero. Já as pesadíssimas "Funky Shit", "Seria Thrilla" e a progressiva "Climbatize" transparecem a genialidade do Liam Howlett ao encaixar perfeitamente ritmos frenéticos, melodias marcantes, guitarras encorpadas e samples escolhidos a dedo. Todo esse talento fez dele um dos grandes nomes da produção eletrônica.

Timbres bizarros e graves potentes aparecem no hip hop detetivesco de "Mindfields" e na viajante "Narayan". Uma das faixas mais conhecidas presente no disco é a esquizofrênica "Firestarter", que parece brotar direto do inferno com seu ritmo desconcertante e letra psicótica. Já "Fuel My Fire" (cover do L7) fecha o disco deixando explicita a ligação do Prodigy com o rock.

Ainda que música eletrônica não seja sua praia, The Fat Of The Land deve ser ouvido devido a importância da obra, a qualidade da produção e por conter aquilo que realmente importa: boas composições.