terça-feira, 17 de julho de 2012

Jon Lord (1941 - 2012)

Conforme o tempo passa, a morte se torna cada vez mais comum entre os nossos ídolos. Neste ano, a quantidade de talentosos artistas que se foram é assustadora (no fim do ano faço um post em homenagem a todos eles). Mas algumas perdas são mais dolorosas.

Ontem morreu um dos grandes compositores e músicos do rock. Estou falando do lendário Jon Lord, eterno tecladista do Deep Purple.


Alias, resumir seu talento exclusivamente ao rock é superficial. Sua bagagem musical passa pela música erudita, blues, jazz e heavy metal, sendo que a fusão do erudito com o rock é uma das conquistas mais relevantes da sua carreira. O magnifico, embora controverso, Concerto for Group and Orchestra (1969), é um marco na história do rock e influenciou uma legião de bandas/artistas, do Yes ao Metallica, do Rush ao Iron Maiden. Aqueles arranjos primorosos influenciados por Bach, Beethoven e Mozart somados a energia jovial do Deep Purple, transcenderam barreiras e tinham como único intuito transformar em som o que se passava na mente de um criador genial.


Mas voltando no tempo, ainda antes do Deep Purple, o Jon Lord trabalhava como músico de estúdio. Dentre inúmeras gravações, é dele os teclados da clássica "You Really Got Me" dos Kinks.


Mas foi ao formar o Deep Purple em 1968 com Rod Evans, Nick Simper, Ian Paice e Ritchie Blackmore, que os teclados de Jon Lord começaram a ganhar uma massa sonora que caracterizou seu estilo. Seu equipamento era basicamente um órgão Hammond, caixas Leslie e, o grande diferencial, os amplificadores valvulados da Marshall, que deixavam seu timbre extremamente pesado, ainda mais para o final da década de 1960. Vale lembrar que durante muitos anos ele abriu mão do uso dos sintetizadores, mesmo no auge dos timbres de moog.

Em faixas como "Wring That Neck" é possível notar sua nova linguagem para o instrumento. Assista ao vídeo abaixo (já com o Roger Glover e Ian Gillan, fechando a formação clássica do Deep Purple) e perceba isso.


O tempo passou e com ele veio discos como In Rock (com o riff certeiro de "Speed King" de autoria do Jon Lord), Machine Head (com o solo brilhante e extremamente influente de "Higway Star"), Burn (onde a faixa titulo tem mais um riff pesadíssimo composto pelo tecladista) e o Made In Japan (reunindo uma das maiores performances ao vivo da historia do rock, repleto de improvisações e passagens inspiradas), isso só para citar os álbuns que dispensam apresentações. Mesmo com trocas de integrantes, Jon Lord se manteve na banda até 1976, quando desgastada, ainda que lançando discos espetaculares, o grupo implodiu.

Com o fim do Deep Purple, Jon Lord e Ian Paice se juntam no projeto Paice, Ashton & Lord. O grupo durou um único disco, o ótimo Malice in Wonderland (1977). Já no ano seguinte ele entra no Whitesnake do amigo David Coverdale, onde permaneceu até 1984 e gravou seis bons discos de estúdio.

O Deep Purple voltou em 1984 com sua formação clássica e lançou o bem sucedido Perfect Strangers, sendo que a faixa que da o nome ao álbum traz uma das grandes introduções de teclado do rock.


O Deep Purple de 1986 até 1994 passou por diversas turbulências, algumas relacionadas a brigas internas e outras a falta de criatividade, mas Jon Lord sempre mostrou-se seguro, maduro e educado, exatamente o contrário do estereótipo de rockstar, provavelmente pelo fato de seu amor pela música ser mais relevante do que as crises pessoais e do show business.

Em 1999, ele fez com o Deep Purple uma releitura do já citado Concerto for Group and Orchestra. Em 2002, exausto dos anos de estrada, decidi amigavelmente sair da banda e dedicar-se a compor peças eruditas e fazer apresentações num ritmo menos frenético. Tive o privilégio de assistir seu bom show na Virada Cultural de 2009 com a Orquestra Municipal de São Paulo.

Mais recentemente, montou um projeto beneficente nomeado WhoCares com seu parceiro de Deep Purple, Ian Gillan, o eterno guitarrista do Sabbath, Tony Iommi, o baterista do Iron Maiden, Nicko McBrain e o ex-baixista do Metallica, Jason Newsted.


Jon Lord se foi, mas sua música sobrevive. Sua influência continuará em diversos músicos que manifestaram gratidão ao mestre, dentre eles Lars Ulrich (Metallica), Jordan Rudess (Dream Theater), Rick Wakeman (Yes) e outros muito menos relevantes, mas igualmente gratos, como eu.

R.I.P. Jon Lord

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