sexta-feira, 13 de abril de 2012

TEM QUE OUVIR: Milton Nascimento & Lô Borges - Clube da Esquina (1972)

Creditado apenas aos "cabeças" Milton Nascimento e Lô Borges, o Clube da Esquina não é propriamente um grupo e nem um movimento, mas sim um coletivo formado por jovens amigos compositores, que se juntavam para tocar violão nas ruas de Belo Horizonte. Clube da Esquina, o disco, registra um período riquíssimo da música brasileira, que começara a ter em Minas Gerais a sua vanguarda.


O trabalho contém letristas excepcionais, como Márcio Borges (ouça a tipicamente mineira "Os Povos"), Ronaldo Bastos (ouça a singela "Um Gosto de Sol") e Fernando Brant (ouça a experimental "Pelo Amor de Deus", com direito a arranjo sinfônico do Eumir Deodato).

O grande diferencial do grupo é a mistura de harmonias complexas do jazz/bossa nova e melodias quase barrocas com a influência rockeira/pop dos Beatles. Algo entre a tradição e a ruptura. Isso aparece claramente na genial "Tudo Que Você Podia Ser". Na linda "Cais", essa riqueza harmônica e melódica chega ao limite da perfeição.

Na memorável "O Trem Azul", o guitarrista Toninho Horta esbanja genialidade. A delicadeza de seu solo em uma levada pop típica do Lô Borges ainda hoje é uma aula de sofisticação e bom gosto. Já nas duas versões de "Saídas e Bandeiras", quem aparece sutilmente é Beto Guedes, com sua voz peculiar somada ao timbre característico do Milton Nascimento.

O arranjo soberbo de "Nuvem Cigana" tem as mãos de Wagner Tiso. Outras três pessoas de colaboração importante no disco são Tavinho Moura (responsável pela influência da música folclórica/barroca mineira), Flavio Venturini (que ajudou na veia rockeira do álbum) e o espetacular baterista Robertinho Silva.

Dentre canções clássicas está a bucólica/maravilhosa "Um Girassol da Cor de Seu Cabelo", a delicada/emocionante "San Vicente" (interpretação impressionante do Milton), a introspectiva "Clube da Esquina Nº 2" (com aquele arranjo exuberante do Maestro Lindolfo Gaya), o pop mineiro "Paisagem da Janela", a progressiva "Trem de Doido" e a rockeira "Nada Será Como Antes".

Vale ainda reforçar a beleza da simplicidade da foto da capa, de autoria do Cafi, trazendo duas crianças que, ao contrário do que alguns pensam, não são o Milton e o Lô. Outro destaque é a produção do álbum, tendo em vista que ele foi captado em apenas 2 canais (!!!). Impressionante. Méritos do engenheiro Nivaldo Duarte.

Este disco é ainda hoje referência de composição e interpretação. Todos os envolvidos partiram posteriormente para carreiras individuais de sucesso. Tudo que surgiu em Minas Gerais, seja o 14 Bis ou o Skank, sofreu/sofre influência destes jovens compositores que escreveram o nome na música popular brasileira.

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