segunda-feira, 12 de março de 2012

TEM QUE OUVIR: The Velvet Underground - The Velvet Underground And Nico (1967)

O disco de estreia do Velvet Underground é sem dúvida um dos principais feitos da música popular. No auge do clima de "paz & amor", nascia a escuridão no rock. O hippismo multicolor dos campos lisérgicos tornava-se agora urbano, escuro e com cheiro de napalm.

Chancelada pelo artista plástico/cineasta e ícone da Pop Art, Andy Warhol, a banda abusou do experimentalismo. Do conceito sonoro até a sua genial capa - que permitia que a banana fosse descascada -, Andy soube como equilibrar o talento dos "anti-músicos" para a criação deste trabalho.


A personalidade sombria de Lou Reed enquanto letrista surge na linda "Sunday Morning", guiada pela melodia singela de uma caixinha de música. Mas foi o esporro marginal das insanas "I'm Waiting For The Man" - sobre como obter heroína - e a clássica "Heroin" - sobre o uso da droga - que fez dele um verdadeiro poeta das ruas nova-iorquinas.

Na criação instrumental do Velvet Underground estava o subestimado e compositor galês John Cale, que aproveitou a oportunidade para tocar violas, violinos e elaborar arranjos ousados, como por exemplo em "Venus In Furs", um mantra/drone sadomasoquista, onde todas as cordas da guitarra são afinadas numa mesma nota - técnica que ficou conhecida como Ostrich Guitar -, originando uma sonoridade delirante. A influência da música minimalista e indiana é bastante notória. Com Cale, nada de refrães ou estruturas conhecidas. Com ele a canção é uma atividade artística de vanguarda.

Já em "Run, Run, Run" são as guitarras de rispidez braçal do Sterling Morrison que chamam a atenção, com direito a um solo de destreza técnica inexistente e criatividade melódica surpreendente, soando até mesmo étnico. Vale notar aqui a influência do Bo Diddley na abordagem rock n' roll da banda.

A voz melancólica e afrodisíaca da belíssima Nico (até então conhecida por trabalhos como modelo e atriz) dita o rumo nas maravilhosas "Femme Fatale", "All Tomorrow's Parties" e "I'll Be Your Mirror", sempre esbanjando uma delicadeza gélida sobrenatural. É o perfeito dream pop.

Já a baterista - de visual andrógino - Maureen Tucker, sustenta o álbum com seus ritmos tribais e hipnoticamente monótonos.

Gravado numa única sessão de 8 horas, o disco não agradou os críticos e vendeu pouco mais de 30 mil cópias na época de seu lançamento. Ainda assim, influenciou bandas/artistas como Iggy Pop, David Bowie, Joy Division, Televison, The Cure, Talking Heads, The Jesus And Mary Chain, Sonic Youth e Strokes, tornando-se cultuado com o passar dos anos. Um verdadeiro marco na história das artes.

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