Um dos grandes méritos do disco está no fato dele ser um trabalho provocativo, como revela sua emblemática capa. Vale sempre lembrar que sua fama hoje não representava em nada a real intenção do álbum na época.
Até o final da década de 1980, poucas bandas underground tinham alcançado o mainstream. Entre os raros exemplos estão o Metallica e o R.E.M., que provavelmente por impulsão do Nirvana, também viveram em 1991 grandes momentos comerciais. Isso porquê ocorreu uma inversão de valores com o lançamento de Nevermind . Grupos que até então tocavam em pequenos clubes de Seattle, se transformaram na "salvação do rock". Estilo que por sinal, mostrava-se extremamente desgastado através de bandas como Bon Jovi e Poison. O Nirvana abriu portas do mainstream para diversos bons grupos do rock alternativo, dentre eles os posteriormente grandes Alice In Chains, Pearl Jam e Soundgarden, além dos menos expressivos comercialmente Mudhoney, Melvins e TAD. Ser sujo, feio e estranho era agora legal e vendia mais que o Michael Jackson.
A sonoridade do álbum é uma mistura da imperfeição melancólica e marginal do punk rock, com produção mais "acessível" e lapidada, méritos do produtor Butch Vig e do próprio Kurt Cobain, um artista com faro melódico.
A primeira faixa do disco é o mega hit MTVesco "Smells Like Teen Spirit", um hino grunge, de acordes básicos, dinâmica copiada do Pixies e levadas de bateria sensacionais promovidas pelo Dave Grohl, músico recém chegado ao grupo e que, por conta de sua pegada avassaladora - e até mesmo de suas dobras vocais -, ajudou a dar mais peso e acabamento para o álbum.
Outra música que alcançou grande repercussão foi "Come As You Are", canção que no auge de sua simplicidade, levou milhares de garotos a quererem tocar guitarra. Sua introdução, ainda que "roubada" do Killing Joke, é um dos grandes feitos do Kurt enquanto guitarrista. Já o "I don't have a gun" do refrão não poderia ser mais dramático.
A introdução ultra rockeira de "In Bloom" resgata a porralouquice do rock. Há inclusive um peculiar/criativo solo de guitarra, ainda que tecnicamente limitado. Mas quem precisa de grande técnica quando se tem uma boa canção? Toma essa, hair metal!
A fúria do disco continua através das contagiantes "Breed" e "Lithium", sendo essa última dona de um baixo delirante - mérito do subestimado Krist Novoselic -, além de refrão melodioso berrado até sangrar a garganta. O mesmo acontece em termos de simplicidade na intensa "Territorial Pissings" - que era ainda mais brutal quando tocada ao vivo - e na acústica/lo-fi "Polly", tirada das gravações demo de pré produção do disco, narrando violência sexual do ponto de vista de um estuprador.
As letras de Kurt são criativas, dramáticas e perturbadoras, principalmente na sexualmente experimental "Drain You" - com doses de Sonic Youth e Pixies -, na antecipação do pop punk de "Lounge Act" - à la Hüsker Dü - e na dadaísta "Stay Away".
"On A Plain" surge no momento em que o ouvinte já está deslumbrado com o disco, mas "Something In The Way" se opõe ao restante do álbum ao apresentar uma balada de arranjo contido, com direito a um violoncelo melancólico e letra problemática.
Sem dúvida uma das grandes obras da década de 1990. Mudou toda a cena musical e ditou tendências comportais, inclusive no mundo da moda - como esquecer as famigeradas camisas de flanela -, sendo ainda hoje referência de atitude e sonoridade. A antítese do mercado nunca foi tão rentável.
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