sexta-feira, 16 de setembro de 2011

TEM QUE OUVIR: Nirvana - Nevermind (1991)

Alguns discos são considerados clássicos por influenciarem gerações. Outros simplesmente por conter canções emblemáticas e espetaculares. Há também aqueles que apresentam um novo caminho para a música, popularizando uma nova cena e aglutinando diversas tribos em torno dela. E outros são responsáveis por abalar a indústria fonográfica. Gostando ou não, Nevermind (1991) do Nirvana contém todas essas características.


Um dos grandes méritos do disco está no fato dele ser um trabalho provocativo, como revela sua emblemática capa. Vale sempre lembrar que sua fama hoje não representava em nada a real intenção do álbum na época.

Até o final da década de 1980, poucas bandas underground tinham alcançado o mainstream. Entre os raros exemplos estão o Metallica e o R.E.M., que provavelmente por impulsão do Nirvana, também viveram em 1991 grandes momentos comerciais. Isso porquê ocorreu uma inversão de valores com o lançamento de Nevermind . Grupos que até então tocavam em pequenos clubes de Seattle, se transformaram na "salvação do rock". Estilo que por sinal, mostrava-se extremamente desgastado através de bandas como Bon Jovi e Poison. O Nirvana abriu portas do mainstream para diversos bons grupos do rock alternativo, dentre eles os posteriormente grandes Alice In Chains, Pearl Jam e Soundgarden, além dos menos expressivos comercialmente Mudhoney, Melvins e TAD. Ser sujo, feio e estranho era agora legal e vendia mais que o Michael Jackson.

A sonoridade do álbum é uma mistura da imperfeição melancólica e marginal do punk rock, com produção mais "acessível" e lapidada, méritos do produtor Butch Vig e do próprio Kurt Cobain, um artista com faro melódico.

A primeira faixa do disco é o mega hit MTVesco "Smells Like Teen Spirit", um hino grunge, de acordes básicos, dinâmica copiada do Pixies e levadas de bateria sensacionais promovidas pelo Dave Grohl, músico recém chegado ao grupo e que, por conta de sua pegada avassaladora - e até mesmo de suas dobras vocais -, ajudou a dar mais peso e acabamento para o álbum.

Outra música que alcançou grande repercussão foi "Come As You Are", canção que no auge de sua simplicidade, levou milhares de garotos a quererem tocar guitarra. Sua introdução, ainda que "roubada" do Killing Joke, é um dos grandes feitos do Kurt enquanto guitarrista. Já o "I don't have a gun" do refrão não poderia ser mais dramático.

A introdução ultra rockeira de "In Bloom" resgata a porralouquice do rock. Há inclusive um peculiar/criativo solo de guitarra, ainda que tecnicamente limitado. Mas quem precisa de grande técnica quando se tem uma boa canção? Toma essa, hair metal!

A fúria do disco continua através das contagiantes "Breed" e "Lithium", sendo essa última dona de um baixo delirante - mérito do subestimado Krist Novoselic -, além de refrão melodioso berrado até sangrar a garganta. O mesmo acontece em termos de simplicidade na intensa "Territorial Pissings" - que era ainda mais brutal quando tocada ao vivo - e na acústica/lo-fi "Polly", tirada das gravações demo de pré produção do disco, narrando violência sexual do ponto de vista de um estuprador.

As letras de Kurt são criativas, dramáticas e perturbadoras, principalmente na sexualmente experimental "Drain You" - com doses de Sonic Youth e Pixies -, na antecipação do pop punk de "Lounge Act" - à la Hüsker Dü - e na dadaísta "Stay Away". 

"On A Plain" surge no momento em que o ouvinte já está deslumbrado com o disco, mas "Something In The Way" se opõe ao restante do álbum ao apresentar uma balada de arranjo contido, com direito a um violoncelo melancólico e letra problemática.

Sem dúvida uma das grandes obras da década de 1990. Mudou toda a cena musical e ditou tendências comportais, inclusive no mundo da moda - como esquecer as famigeradas camisas de flanela -, sendo ainda hoje referência de atitude e sonoridade. A antítese do mercado nunca foi tão rentável.

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