sexta-feira, 10 de junho de 2011

TEM QUE OUVIR: João Gilberto - Chega de Saudade (1959)

Hoje é aniversário do excêntrico e genial João Gilberto, que chega aos seus 80 anos.

O baiano nascido em Juazeiro foi responsável por difundir a bossa nova, estilo que há mais de 50 anos corre pelo mundo levando a bandeira do Brasil e, curiosamente, servindo de trilha sonora para a cidade do Rio de Janeiro.

É verdade que o famoso ritmo sincopado do estilo já havia sido aplicado no acordeon anteriormente pelo João Donato, mas foi João Gilberto o responsável por decodificar a "batida da bossa nova" e somar a ela a suavidade do seu canto influenciado pelo Mario Reis.

É verdade também que a bossa nova não representa o verdadeiro Brasil, miserável por natureza e condicionado a estupidez, mas daí a usar este argumento para menosprezar as composições de Tom Jobim e Vinícius de Moraes seria assinar o atestado de ignorância.

João Gilberto além do talento musical apurado, ainda mantém o status de lenda temperamental. Muito disso por não dar entrevistas, espinafrar técnicos de som e viver recluso em seu apartamento. Outro motivo que lhe rendeu a fama de "artista difícil" é o de não tolerar plateias barulhentas, fato que o acompanha desde a juventude, quando mesmo no anonimato e com dificuldades financeiras, se negava a tocar para pessoas que não respeitassem a sua música.

O álbum responsável por sacramentar a importância do João Gilberto na música brasileira é o clássico Chega de Saudade (1959), que mostrou para os jovens daquele período - do Marcos Valle ao Caetano Veloso - que havia uma nova alternativa aos cantores da Rádio Nacional que seus pais ouviam. Eles agora tinham sua própria música jovem, brasileira e rica.


O disco abre com a canção "Chega de Saudade", música que definiu a bossa nova enquanto uma linguagem musical. A famosa batida do violão de João Gilberto somada ao arranjo espetacular de Tom Jobim, serve de cama para que a letra de Vinícius de Moraes ganhe voz numa melodia riquíssima. Para completar o time de estrelas, este clássico tem ainda a levada contagiante/suave do lendário baterista Milton Banana. 

Na sequência, toda a ingenuidade igualmente amada e odiada da bossa nova se faz valer na bela "Lobo Bobo". 

Tom Jobim voltar a deixar sua marca no belo arranjo de "Brigas, Nunca Mais", assim como no piano da alucinante "Ho-Ba-La-La". 

Milton Banana justifica o porque de ser um dos mais respeitados bateristas do Brasil em "Saudade Fez Um Samba", onde a vassourinha na caixa soa contagiante, embalando a harmonia num ritmo espetacular. Já João Gilberto mostra toda a sua afinação e influência do cool jazz ao cantar a bela melodia de "Maria Ninguém".

"Desafinado" é um clássico da bossa nova proporcional a faixa que leva o nome do disco. A gravação presente neste álbum é considerada por muitos a versão definitiva da canção de Newton Mendonça e Tom Jobim.

Nos sambas "Rosa Morena" e "Morena Boca de Ouro", João Gilberto presta homenagem a duas de suas maiores influências, respectivamente os lendários Dorival Caymmi e Ary Barroso. 

A curtinha "Bim Bom" é das poucas faixas compostas pelo próprio João, revelando seu lado aparentemente simples, descontraído e minimalista, ainda que ritmicamente complexo. Já aos "Aos Pés da Cruz" traz uma letra elaborada cantada em cima de uma harmonia que sintetiza a beleza da bossa nova. Fechando o álbum, Milton Banana e João esbanjam um groove contagiante em "É Luxo Só".

Além da qualidade das composições, outro fato interessante do disco é qualidade da gravação, tendo em vista que essa obra foi registrada há mais de 50 anos. 

João Gilberto está vivo e, aparentemente, começará em breve uma série de shows pelo Brasil, comemorando seus 80 anos. Enquanto isso não acontece, só nos resta ouvir este verdadeiro patrimônio cultural da humanidades.

Um comentário: