segunda-feira, 15 de dezembro de 2025

RETROSPECTIVA 2025: Shows do ano (entre os que vi, claro)

Antes de falar sobre os shows do ano, vale pontuar algo que poucos dizem de forma clara: nenhum evento é imperdível!

Por vezes vomitamos nossas experiências como se isso fosse indispensável para compreender a arte, quando na verdade ela é apenas um privilégio para poucos. Falar de shows imperdíveis quando a situação econômica da maior parte da população anda em frangalhos e os ingressos para os eventos são de valor proibitivo (vale ressaltar, não necessariamente por culpa da produção dos eventos) é no mínimo bobagem.

Uma solução para driblar essa loucura que virou os grandes eventos, tem sido ir a pequenos shows pela cidade. E posso garantir que, enquanto experiência musical, muitas vezes é até melhor que os shows badalados.

Dito isso, vale listar alguns shows que rolaram, mas que perdi:
7Seconds, A.G. Cook, Air (tocando o Moon Safari na íntegra), Amyl And The Sniffers, Andrés Calamar, A Place To Bury Strangers, Baroness & The Cult (tremenda dobradinha!), Behemoth & Deicide, Brian Blade, Ca7riel & Paco Amoroso, Cap’N Jazz, Carcass, Caribou, Codeine, Coroner (na cidade em que moro), Corrosion Of Conformity, Danko Jones & Graveyard (outra ótima dobradinha!), Dark Angel, De La Soul, Earth Crisis, Exodus (tocando o Bonded By Boood na íntegra), Ezra Collective, Foreigner, Fuzztones, Gutalax, Helado Negro, Helmet, Hozier, Ichiko Aoba, Incubus (tocando o Morning View na íntegra), Jeff Mills, JPEGMAFIA, Kacey Musgraves, Kim Gordon (com abertura da Moor Mother), Lady Gaga (o monumental show em Copacabana), Laufey, Lemon Twigs, Linval Thompson, Lional Richie, Mad Professor, Meshell Ndegeocello, Michael Kiwanuka, Michael, Manring, Mogwai, Molchat Doma, Mudhoney, Nicolas Jaar, Nilüfer Yanya, Oasis (aclamado e gigante show), Olivia Rodrigo, Omar Souleyman, Opeth, Otoboke Beaver, Pentagram, Perfume Genius, Poppy, Rachel Chinouriri, Refused (pela primeira vez no Brasil, tocando o The Shape Of Punk To Come na íntegra), Savatage, Shonen Knife, Skepta, Slaughter To Prevail, Snarky Puppy, Steven Wilson, Supergrass (tocando o I Should Coco na íntegra), System Of A Down, The 5.6.7.8’s, The Aristocrats, The Casualties, The Chisel, The Damned, This Will Destroy You, Tindersticks, Tool, Touché Amoré, Weezer (tocando o Blue Album na íntegra), Zulu e o Setembro Negro (com Agalloch, The Crown, Coven, Macabre, Watain, Primitive Man, Incantation, Power Trip, Candlemass, Triptykon, Varathron, dentre outras), Balaclava Fest (com Stereolab, Yo La Tengo e Geordie Greep) e a volta da Circuito (com Valentino Kanzyani, Camilo Rocha, Renato Cohen e Manu Villas).

Tivemos também a triste apresentação da Patti Smith cancelada por conta de um desmaio logo no início do espetáculo. Ebo Taylor, já no Brasil, também cancelou shows por motivo de saúde. E ainda tivemos o vexame que foi o anúncio e cancelamento do show do Kanye West, que tava na cara que não ia rolar.

Agora sim, vamos aos shows que eu fui:

Jon Spencer 
Show no SESC, baratinho, em plena quarta-feira. É disso que precisamos! Após tantos anos, ficou nítido que ele decodificou o rock como poucos, tanto no que diz respeito ao seu canto quanto as guitarras. Ele foi acompanhado de uma tremenda cozinha, que em certos momentos até passou por cima dele. Show volumoso, chegando a saturação sem perder a clareza. Muito legal.

Bike & Hoovaranas
Confesso que fui pra ver o Bike, mas foi o Hoovaranas que saltou aos meus ouvidos. Conhecia o disco, mas me surpreendi com a qualidade técnica do trio. Todos ali tocam muito e já apresentam uma interação madura. 
Por sua vez, o Bike apresentou faixas do novo disco, até aquele momento ainda não lançado. Foi como um teste para ver como as músicas funcionariam ao vivo. Fui preparado pra uma psicodelia mais convencional e me deparei com uma performance intensa, densa e barulhenta (chegando ao ponto de incomodo). As canções evoluíam lentamente, formando um caos sônico à la Swans. Impressionante.

Sangue de Bode 
Fico maravilhado quando vou em shows de bandas nacionais - não esperando muito, apenas por ter gostado de um disco, estando pronto pra performances nem tão boas - e me deparo com apresentações verdadeiramente avassaladoras. Foi o caso do Sangue de Bode. Banda maravilhosa, do conceito das composições, passando pela execução redondíssima. O baterista é um cavalo. Muito legal! 
Ah, teve ainda abertura do Inraza, que honestamente não lembro, o que já diz muito (é a verdade).

Beat 
Robert Fripp e Adrian Belew é minha dupla de guitarras predileta da história. Fripp tá aposentado. Com sua benção, Belew chamou o Steve Vai pra tocar o repertório 80’s do King Crimson. O baixista original Tony Levin e o batera do Tool, Danny Carey, completam o time. Show espantoso. Músicas com quase meio século soando ainda inventivas. A dobradinha Belew & Vai preserva e renova tudo que mais gosto no instrumento. Daria um textão se eu destrinchasse cada aspecto que me impressionou - as bases do Steve Vai, os timbres de bateria, o carisma do Belew, a complexidade das divisões rítmicas, como envelheceu bem o flerte com a new wave dentro do contexto prog -, então vou resumir citando “Indiscipline”: “I wish you were here to see it. I LIKE IT!”. FODA!

C6 Fest
“Maria Esmerada”
Faz tempo que queria ver a apresentação deste projeto, que lançou um dos álbuns mais legais de 2024. Uma “novela-rap” de frescor, com beats consistentes, variedade no flow e momentos emotivos. Tudo levado ao palco com categoria e força. Demais eles terem conseguido trazer ao show muitos dos rappers que participaram do álbum. Mais do que ficar relatando minhas impressões, acho legal que vocês ouçam o disco e tentem ver alguma apresentação deles.

English Teacher
Um daqueles grupos com a cara do rock de 2025, típico de uma geração sem preconceitos sonoros e que não se divide em tribos. É indie, com muito do pós-punk e até uma interação com o rock progressivo. Uma forma nada ortodoxa e de ótimos resultados. No palco tudo é conduzido por uma cantora carismática e dona de tremenda voz. A banda segurou a onda com uma performance consistente. Não por acaso eles tem galgado espaço, inclusive ganhando o prestigiado Mercury Prize. Grande acerto da curadoria do festival em apostar nessa banda em ascensão.

The Last Dinner Party
Eu tinha escutado o disco delas e achado bem legal, mas não voltei nele. Mas a banda ficou enorme, principalmente entre jovens meninas, que se identificam com os dilemas refratados nas letras, com as roupas burlescas e pela mistura sonora de Kate Bush com Siouxsie And The Banshees, David Bowie e Queen. Indiscutivelmente uma tremenda fórmula, que erroneamente achei que esfacelaria no palco. Por sorte elas tocam bem, tem presença vibrante e comunicação direta com o público. Fiquei feliz. Vou apresentar pra Maria.

Wilco
A banda que me salvou de ser um metaleiro. Sem brincadeira, acho que comecei a gostar deles antes de gostar de Beatles. Foi aqui que aprendi o valor da melodia, da composição. E de quebra veio junto um dos maiores guitarristas do rock alternativo (Nels Cline é um dos meus heróis). Show emocionante. Um combo poderoso de Neil Young, Byrds, Sonic Youth e Television. Performance espetacular. Já na campanha pela volta do Wilco ao Brasil.

Nile Rodgers
O Wilco já era motivo suficiente pra me fazer pagar pelo ingresso do C6 Fest, mas botar o Nile Rodgers na mesma noite foi um tremendo incentivo. Um dos inventores da música pop. Liderou a maior banda da disco music, o Chic. Trabalhou com David Bowie, Diana Ross, Duran Duran e Daft Punk (só pra ficar com aqueles que começam com a letra “D”). E é um dos maiores guitarristas rítmicos da história. Vi vídeos da apresentação dele no Rio de Janeiro e fiquei temerário com o fato de ter outro guitarrista no palco, que para minha alegria, só deu as caras numa única música. Nas outras foi o Nile que soltou a munheca em grooves tão memoráveis quanto complexos. O show é praticamente um pout-pourri de hits. Verdadeiro baile. Tanto que foi a primeira vez que não me incomodei com pessoas conversando, tirando fotos em galera, dançando de forma invasiva… era festa! Adorei ver imagens no telão do Nile ao lado do Bowie, Prince, SRV e, principalmente, Bernard Edwards e Tony Thompson. A história da música pop passa por aqui.

Iggy Pop
Fui no The Town por um único motivo: ver o show Iggy Pop, que nunca tinha assistido. E vê-lo ao vivo é testemunhar 60 anos de serviços prestados ao rock, estilo que ele ajudou a forjar de forma bruta. Um símbolo da contracultura, da queda do sonho hippie. O pai do punk rock. Um farol. Showzão, enfileirando clássicos do Stooges e da carreira solo. O vigor e a voz  não são mais os mesmos, mas foi divertido demais. Bandaça, com direito ao Nick Zinner na guitarra. Search And Destroy!

Ah, de quebra ainda conferi um ótimo show da Pitty (que também nunca tinha visto e fiquei impressionando com a excelência da banda, do som e a quantidade de hits) e do Green Day (que adorava na infância, então fui conferir, entusiasmado somente com as canções que o Billie Joe Armstrong usa sua surrada strato. E enche o saco o lance dele querer levantar a plateia a todo momento hein. Mas foi bacana).

Kendrick Lamar 
Cheguei cedo pra ver a abertura do Ca7riel & Paco Amoroso, que embora não tenha embarcado tanto no som deles, consegui ver valor dentro de um contexto do pop latino. Infelizmente ali das cadeiras do Allianz o som deles tava bem ruim, de modo que não deu pra entrar no clima da apresentação. Ainda assim, fiquei surpreso com a adesão do público. Ah, como também não sou tão familiarizado com o projeto, achei curioso o elemento androgino que eles trazem. Ok. 

Agora, indo pro Kendrick, eu adorei a apresentação. Aqui o som tava ótimo, potente, vibrante, com direito a graves de fazer o crânio tremer. Senti falta de uma banda de apoio - ainda mais num show enorme de estádio -, ao mesmo tempo que valorizo a força de um MC/frontman imponente que controla a plateia sozinho, apenas com seu flow afiado, sem aparentar sequer beber água, sem se enrolar tecnicamente. Repertório muito bom. Vale dizer que eu era dos mais velhos ali presentes. O público é muito jovem. E aqui vale dizer que é improvável eles se renderem a sons de produção mais orgânicas, visto que eles absorvem um tipo de resposta sonora (e frequências) que é muito física. Muito difícil uma banda de rock chegar a esse tipo de resultado sônico. Espetacular.

A Cor do Som 
Tenho uma questão pessoal de ver todos os grandes guitarristas brasileiros ao vivo. Armandinho era um dos que faltavam. E sobre ele, vale dizer que se singularidade é a principal busca pra qualquer guitarrista - músico em geral, na verdade -, então o Armandinho é dos maiores. Pegou a guitarra baiana e misturou Waldir Azevedo com Eddie Van Halen. Isso numa banda que ora era pop (de tocar na rádio, no trio elétrico), ora batia de frente com o Return To Forever (sempre vi o Ao Vivo em Montreux como um clássico do jazz rock/fusion). Bandaça!

Budang 
Privilégio conseguir ver uma banda em ascensão como o Budang num lugar tão pequeno como o 74Club. Embora, devo dizer que achei o show nem tão intenso quanto esperava. Expectativa talvez causada por um ótimo disco. Isso posto, é uma banda bacana, que ainda tem muito a evoluir e ganhar corpo. Vale dizer que rolou um bom show de abertura do Riot Wolves, grupo que nada conhecia.

Massive Attack e Cavalera 
Eu nunca tinha visto os irmão Cavalera ao vivo. Sou de uma geração que pegou a entressafra do Sepultura. E pra falar a real, sempre achei cansado o papo de ficar pedindo a volta dos dois. Mas aí pintou deles abrirem o show do Massive Attack, focando o repertório justamente no Chaos A.D., meu disco predileto do Sepultura, dos melhores dos anos 90, da música brasileira, da história do metal. Sempre disseram que os irmãos não estavam em grande forma. Durante anos vi vídeos que corroboravam essa afirmação. Mas ontem não foi essa minha impressão. Eu adorei o show! Eles tem uma liga impressionante. Tocar junto desde criança ajuda um pouco. Fora o carisma, a aura, a história. O Iggor é dos bateristas mais viscerais que já vi. Já o Max… basta dizer que no meu ranking de O Maior Brasileiro de Todos os Tempos (na régua “lista do SBT”) eu botaria ele em primeiro.
Obs: o guitarrista solo é bem bom, o baixista (filho do Max) tem presença e o som tava ótimo.

Sobre o Massive Attack, vale dizer que sempre foi um projeto distante assisti-los. Não é uma banda que vive dando as caras por aí. Na atual (e aclamada) turnê, eles alinham suas músicas com questões políticas pertinentes, nem sempre desenvolvidas da maneira mais esclarecida possível. Tudo bem, ainda é “apenas” um show, sendo que musicalmente e visualmente é um espetáculo como poucos. Repertório majestoso (só não entendi aquele Avicii no final), entregando variadas nuances. Há momentos singelos, hipnóticos, emotivos e intensos. Tudo dentro daquela paleta do trip hop que engloba jazz, dub, música eletrônica, rap, rock e soul. A presença do Horacy Andy e da Elizabeth Fraser (essa ovacionada por todos os órfãos do Cocteau Twins) foi emocionante. Duas das vozes mais singulares deste tempo. Ele brilhou em “Angel”, ela numa versão lindíssima de “Song To The Siren”. E olha que teve “Teardrop”. Show impecável. Há um espontaneidade vibrante na performance, mas também uma excelência muito próxima do que eles alcançam em estúdio. Nesse sentido vale destacar o ótimo guitarrista Alex Lee, dono de timbres e execução primorosa. Dos grandes shows que assisti. Cabe agora ver se aparece alguma arte do Banksy por São Paulo.

Lupe de Lupe
Lupe de Lupe, a grande banda brasileira de rock dos últimos 15 anos. Isso “tocando mal”, “cantando mal”… ao menos é o que falam (inclusive eu). Não foi o que demonstraram. Ao menos compor sempre afirmei que eles fazem como nenhuma outra banda desta geração. Show intenso, emotivo, pesado (teve momentos à la Swans) e de grande identificação com o público (pertencente a faixa dos 18 anos).Foda. Heróis do rock triste.

Vale ainda dizer que antes rolou show do O Grande Babaca (bem feito, mas excessivamente engraçadinho) e da banda da Juvi (divertido, mas também excessivamente engraçadinho).

Boris 
Boris, a lenda. Do Japão pro mundo, levando seu drone-sludge-noise-punk-stoner pra quem tiver coragem. Não é brincadeira. Um show MUITO alto. Como já suspeitava, deixei um protetor auricular na manga caso precisasse. Tive que usar. Passaram por cima do atraso (que chegou a me causar raiva) como um rolo compressor. Bastou começar pra eu ser levado de um lado do palco para o outro. Parei na frente da Wata, uma guitar hero, uma musa. Os três são arquitetos das frequências sonoras. Há uma construção timbristica imersiva, intercalando entre nuvens de guitarras, baixos corrosivos, bateria monolítica e momentos explosivos. Fizeram um show definitivo de rock. Não sei da pra ser melhor que isso).

E teve abertura do Siena Root, banda bacana, mas que por conta do atrasado, dos problemas técnicos (mais no palco que no PA) e um som excessivamente retrô, meio que acabou não entusiasmando ninguém. Mas vale deixar reforçado que o guitarrista era excelente, trazendo uma sonoridade que fica entre o Blackmore e o Dickey Betts (que ele emulou até visualmente)

Os Paralamas do Sucesso
De quebra, aos 45 do segundo tempo, tive a chance de conferir em família o show d’Os Paralamas do Sucesso. E não podemos banalizar a força desse três juntos. Só hits, boas performances (inclusive do Herbert), minha filha feliz (ela adora “Óculos” e “Vital e Sua Moto”), um churros, show no entardecer…. excelente. Fazia muito tempo que não assistia eles e fiquei emocionado de ve-los em cima do palco. Uma força da natureza.


Ah, ainda tive a chance de levar minha filhinha no teatro da cidade para ver o "Concerto para dois Chalumeaux" (Telemann), "Bachianas Número 6" (Villa-Lobos) e "Pierrot Lunaire" (Schöenberg). Nem vou tecer maiores comentário por incapacidade de avaliação. Apenas digo que foram ótimas as três apresentações.

Conferi também com minha filha duas belas exposições "musicais": Andy Warhol: Pop Art! e Baú do Raul. Ambas muito legal, sendo a do Raul Seixas pessoalmente emocionante. 

Que venha 2026!

Nenhum comentário:

Postar um comentário