sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

TEM QUE OUVIR: Deafheaven - Sunbather (2013)

Lembro perfeitamente quando escutei o Sunbather pela primeira vez. Eu não conhecia o Deafheaven, mas ouvi no rádio (?!?) o Kid Vinil (!?!) falando que o disco tinha sido aclamado pela crítica, o que considerava espantoso, já que era uma "barulheira dos infernos". Informações suficientes para correr atrás do álbum.


A primeira estranheza surgiu logo na arte gráfica. Convenhamos, não são muitas capas de "discos barulhentos" em que a cor predominante é rosa. Mas até aí ok, estranhamento rapidamente superado, vamos ao som.

Não é que eu fiquei deslumbrado com o disco, na verdade eu sequer entendi. Hoje é comum categorizar o estilo da banda como blackgaze, mas na época eu nem cogitava o cruzamento de black metal com shoegaze, post-rock e emo.

Essa fusão de gêneros atropela o ouvinte logo na linda "Dream House", onde acordes grandiosos de guitarras são alimentados por um blast beat feroz e berros ríspidos. Por mais violenta que seja a execução, a progressão harmônica e melódica é de enorme beleza. Na metade da canção, quando num timbre limpo os acordes são arpejados, fica explícita a exuberância da composição. Tudo para logo depois a banda estrondosamente entrar numa doce nuvem de melancolia (atenção para o breakdown). Espetacular!

Em "Sunbather", a cama de distorções parece afogar o ouvinte. Sua produção expansiva e atmosférica ajuda muito nisso. Mais uma vez há enorme cuidado com a melodia, por mais que os grunhidos vocais pareçam navalhas no canal auditivo. Somando isso a sua poética contemplativa, é possível afirmar que a faixa reúne elementos do screamo.

O arranjo crescente de "Vertigo" é puro post-rock. As camadas são construídas lentamente até desaguarem num veloz instrumental, que parece despertar para as angústias do mundo. Por mais agressivo que seja, é estranhamente solar. Seu final é arrebatador.

Com as cordas vocais provavelmente sangrando e os trêmolos de guitarra perseguindo a desgovernada bateria, "The Pecan Tree" fecha o disco. Em alguns momentos a faixa soa como se o Kevin Shields entrasse no Mayhem. Com exceção do miolo da canção, que acho arrastado, o restante é incrivelmente emocionante.

Em meio a tantos esporros épicos, há bonitos interlúdios, que trazem fluidez para o disco, vide a vagarosa "Irresistible"; a noise-drone/balada acústica "Please Remember" e a ambient/spoken world "Windows".

É curioso pensar que o Sunbather seja talvez o primeiro grande momento do black metal norte-americano (ao menos em alcance). Isso tudo sem corpse paint e sem queimar igrejas. Clássico improvável do metal.

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