TEM QUE OUVIR: LCD Soundsystem - This Is Happening (2010)

Na virada da primeira para a segunda década deste século, o LCD Soundsystem era das bandas mais queridas entre a critica e o seleto público, que embarcou no som festivo dos dois álbuns anteriores lançados pelo grupo. Entretanto, pode-se dizer que This Is Happening (2010) é a coroação do combo novaiorquino liderado pelo carismático James Murphy.

"Dance Yrself Clean" abre o disco invocando o Talking Heads através do ritmo afro-esquelético e da interpretação estranhamente plena do James Murphy. Ao menos é isso o que acontece na primeira parte da canção, visto que uma bateria seca e sintetizadores gritantes e saturados invadem a mixagem sem clemência, jogando o ouvinte contra as luzes.

Diferente do restante do repertório, a festiva "Drunk Girls" apresenta forma e duração convencional. Nem por isso ela deixa de ser interessante, remetendo a um Devo com timbres repaginados. Eis o punk rock do futuro!

Por mais que algumas faixas sejam longas, a construção ambiciosa das composições faz com que nada soe monótono. Muito pelo contrário, elas parecem refletir os altos e baixos da vida noturna. Isso pode ser sentido através da eufórica "One Touch", dona de uma produção vigorosa que deixaria o Trent Reznor com sorriso de orelha a orelha. Adoro a energia sintética da canção, assim como o coro gritando "one touch!!!". É o legitimo electro-rock.

Com sua guitarra à la "Robert Fripp fase David Bowie", "All I Want" evidencia a criatividade enciclopédica do James Murphy ao beber de diferentes fontes com a finalidade de criar uma art rock contemporânea e divertida. De certa forma, sua crueza rítmica e o canto de crooner bêbado também remete a tudo que o Strokes sonhou em fazer um dia.

Se por um lado há forte influência da disco music, isso é abordado com um frescor vanguardista, vide a esquisita "I Can Change", uma balada futurista de timbres graciosamente estrondosos. Aqui a voz do James mais uma vez está exuberante.

O ritmo transpirante "You Wanted A Hit" traz atmosfera da dance music, embora numa construção lentamente evolutiva. O mesmo vale para a grooveada "Pow Pow", que se desenvolve inusitadamente através de timbres e ritmos reluzentes.

Um sintetizador arpejado em cima de uma cama funkeada serve de gancho para a dançante "Home". Há ainda toda a teatralidade de "Somebody's Calling Me".

No ano seguinte ao lançamento do This Is Happening, o James Murphy decidiu terminar com a banda. Pouco tempo depois ele percebeu a burrada que havia feito e voltou com um trabalho irregular. Algo se perdeu neste meio tempo, sendo o passado do grupo uma espécie de memória festiva e explosiva.