quinta-feira, 2 de maio de 2019

TEM QUE OUVIR: Deftones - White Pony (2000)

A geração new metal viveu uma encruzilhada na virada do milênio. Ao mesmo tempo que o estilo despontava como a revitalização do heavy metal, ele tinha bandas como Limp Bizkit dando vexame na edição de 1999 do festival de Woodstock. O gênero vivia na linha tênue entre a vanguarda musical e a diluição mercadológica. Se distanciando de caricaturas sonoras, o Deftones levantou a bandeira da criatividade no rebuscado e profundo White Pony (2000).


Brilhantemente produzido pelo Terry Date, o álbum une com perfeição o peso do heavy metal com excelentes melodias. "Feiticeira" abre o disco trazendo ecos do rock alternativo e o estilo dramático do Chino Moreno cantar, projetando a voz com muito ar, trazendo uma sensação de anestesia, reforçada pelo timbre ultra processado.

Ao mesmo tempo que o groove da introdução de "Digital Bath" invoca a atmosfera hip hop do new metal - e que tremendo batera é o Abe Cunningham! -, os sintetizadores e a interpretação vocal estão muito mais próximas do trip hop. O metal poucas vezes soou tão sexual.

Os riffs em guitarras de sete cordas de "Elite", com direito a vocais esganiçados e efeitos robóticos, levam o peso do heavy metal para a modernidade. Já os timbres de "Rx Queen" são enormes, espaciais e corrosivos, permitindo que a composição caminhe por diferentes climas epifânicos.

Stephen Carpenter revela o grande guitarrista que é em "Street Carp", com direito a timbres robustos e acordes abertos que parecem preencher todas as frequências sonoras. Por outro lado, é a produção com referência na música glitch que domina o clima de devaneio de "Teenager". Essa sensação de delírio onírico se mantém na pesadíssima "Korea", que retrata as angustias em meio aos prazeres das drogas e do sexo.

"Knife Party" traz impressionantes vozes em falsetes de melodias árabes em meio a uma produção condizente com o new metal. Tais experimentações composicionais saltam aos ouvidos também em "Passenger", onde a participação do Maynard James Keenan apresenta uma riqueza melódica e interpretativa impressionante, com traços até mesmo de post-rock.

O disco ainda reserva "Changes (In The House Of Flies)", um dos principais singles do grupo, com seu timbre de bateria nitidamente robusto, guitarras enormes, teclados discretamente espaciais e vozes libidinosas. É o encontro do metal com o shoegaze/dream pop. 

Vale lembrar ainda que a ótima "Back To School" está em algumas reedições do disco. É claramente a música mais "rap" do grupo no período.

Se o new metal até então parecia uma febre que seria apagada da história, via o White Pony o Deftones levou o estilo para a maturidade. O sucesso veio perante critica e público.

Nenhum comentário:

Postar um comentário