terça-feira, 28 de junho de 2016

TEM QUE OUVIR: The United States Of America - The United States Of America (1967)

As experiências lisérgicas e os avanços tecnológicos na produção musical deixaram a música do final da década de 1960 completamente maluca. O fato do rock psicodélico ter despontado enquanto manifestação popular, jovem e financeiramente rentável foi fundamental para que as gravadoras investissem em grupos que não teriam a menor chance de existir em outro período. Isso vale para o The United States of America.


Com um único disco lançado, o grupo hoje ganhou status cult, sendo colocado em termos de inventividade ao lado de Velvet Underground, Pink Floyd (fase Syd Barrett) e Mothers Of Invention. Todavia, na época eles passaram praticamente despercebidos. A isso se atribui o péssimo nome, o baixo investimento na divulgação do disco e, claro, a sonoridade do álbum. Importante lembrar que a Columbia assinou com o grupo antes mesmo de ouvi-los.

Joseph Byrd é quem segura as rédeas da banda. Discípulo de compositores de vanguarda (como John Cage) e de formação marxista, ele passou longe de abraçar fórmulas comerciais para viabilizar sua arte. Experimental até o último sulco do vinil, o disco tem elementos de jazz, folk, experiências eletrônicas e, claro, rock psicodélico. "Hard Coming Love" pode até mesmo ser considerada um hino do estilo.

Logo na introdução de "The American Metaphysical Circus", uma marchinha militar é atropelada pela voz doce de Dorothy Moskowitz, cantando uma linda melodia em cima de sons eletrônicos estranhos, ao ponto de virar uma amalgama distorcida. Vale lembrar que o grupo não trazia guitarra em sua formação. São teclados, osciladores, samples de fita, efeitos de modulação e theremins os responsáveis por esse papel melódico/harmônico.

É transbordante a delicadeza em "Cloud Song" (quase um pré-dream pop) e na tenebrosa/medieval "Where Is Yesterday", ambas se contrapondo ao esporro espacial de "The Garden Of Earthly Delights" e ao delírio baixistico de "Coming Down".

É incrível a modernização que eles dão ao típico dixieland jazz em "I Won't Leave My Wooden Wife For You, Sugar". Já no que se diz respeito ao pensamento político de Byrd, nada pode ser mais direto que "Love Song For The Dead Che".

Para o fim, temos a curtinha, progressiva e brilhantemente orquestrada "Stranded In Time" e o épico teatral repleto de colagens "The American Way Of Love". O que ambas tem em comum? Os arranjos elaborados. Mérito também do tecladista Ed Bogas.

Um clássico obscuro de audição tão agradável quanto desafiadora.

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