sábado, 5 de abril de 2014

TEM QUE OUVIR: Nirvana - MTV Unplugged In New York (1994)

Há exatos 20 anos morria Kurt Cobain, o último grande ícone do rock. Nada mais apropriado que reouvirmos seu derradeiro suspiro presente no MTV Unplugged do Nirvana.


Antes mesmo do acústico virar um modelo/engodo feito pra galgar público e, consequentemente, grana fácil, o Nirvana apostou num repertório desafiador, despido de qualquer superprodução sônica. Gravado poucos meses antes do suicídio de Kurt Cobain, o cenário coberto por flores e velas remete diretamente a um premonitório velório.

Ainda que no decorrer do show eventualmente apareça os hits dos álbuns anteriores, vide "Come As You Are", "About A Girl" e "Polly" - todas transparecendo com crueza o lirismo e as boas melodias outrora escondidas pelo rispidez das versões originais -, chama atenção o fato deles apostarem em canções até então pouco aclamadas pelo grande público ("On A Plain") e, principalmente, o fato de terem deixado "Smells Like Teen Spirit" de fora do setlist.

A performance da banda é bastante contida, a começar pela bateria discreta do Dave Grohl. Por sua vez, as boas linhas de baixo do Kris Novoselic saltam nos arranjos (vide “Dumb”, com direito a lindo violoncelo). Do lado do Kurt, é sua voz amargurada e arranhada, quase como um resmungo, que chama atenção (vide “All Apologies”).

O álbum é recheado de versões emblemáticas, fosse de uma desconhecida banda do rock alternativo, como acontece em "Jesus Wants Me For A Sunbeam" do Vaselines, ou de um dos grandes medalhões da música do século XX, vide a brilhante interpretação para "The Man Who Sold The World" do David Bowie, com direito a violão distorcido.

Entretanto, é na sequência com três ótimas músicas do Meat Puppets - feitas na companhia dos próprios criadores -, que está uma das grandes heranças deixada pelo Kurt ao rock, que é de trazer aos holofotes excelentes grupos restritos ao underground.

Tudo se encerra numa versão emocionante de "Where Did You Sleep Last Night" (Leadbelly, um dos pioneiros do blues), lamentada e berrada por um Kurt Cobain imerso em seu destrutivo brilhantismo. Uma música "voz e violão" nunca soou tão ríspida e saturada quanto aqui. 

O Acústico MTV do Nirvana é o modelo definitivo para este tipo de trabalho. É também o único acústico corporativo que merece estar em sua estante. Por outro lado, representa também o canto do cisne de um movimento já degenerado pela indústria.

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