De todos os álbuns dos Beatles, The Beatles - popularmente conhecido como White Album/Álbum Branco -, lançado em 1968, foi o que mais ressaltou as individualidades do quarteto, o que gerou um disco extremamente variado.
As canções deste disco duplo soam mais como quatro brilhantes músicos/compositores reunidos num único trabalho do que como uma banda em si. Isso se deve a vários fatores que inevitavelmente levaram ao fim do grupo dois anos depois. Dentre eles estão as drogas, discordâncias estéticas, filosóficas, conflitos de personalidade, egos, saturação artística e, em menor grau, a famigerada Yoko Ono. Ainda assim, tem quem considere esse o grande trabalho do quarteto, sendo o primeiro lançado pela Apple, selo criado pelo próprio grupo.
A capa impressionantemente minimalista - completamente oposta ao psicodelismo colorido de Sgt. Pepper's - rendeu o apelido do álbum e diversas paródias indiretas (não é mesmo, Metallica e Caetano Veloso?). Mas o que chama atenção mesmo é sua diversidade sonora.
Quando o assunto é rock n' roll, poucas faixas batem de frente com "Back In The U.S.S.R.", "Glass Onion", "Birthday", "Yer Blues", "Everybody's Got Something To Hide" e a extremamente pesada - um proto-heavy metal - "Helter Skelter".
Como passar indiferente diante de baladas primorosas recheadas de sofisticação melódica que só os Beatles são capazes oferecer, vide "Dear Prudence" (que tremenda linha de baixo!), "Happiness Is A Warm Gun" (com doses nada moderadas de surrealismo - na escolha dos acordes, nos timbres, nas vozes -, além de ter sido um fruto de inspiração para o Belchior) e a linda/acústica "Blackbird" (com progressão harmônica inspirada em Bach e letra envolto a segregação racial)?
O que dizer de "While My Guitar Gently Weeps", composição primorosa do George Harrison - sempre a carta na manga do grupo - que contém solo emblemático do Eric Clapton?
O que ainda não foi dito sobre a politicamente hippie "Revolution 1"? Será que ela fazia sentido durante a Guerra do Vietnã?
Vale dizer que enquanto Paul McCartney fez "Martha My Dear" para sua cadelinha (com direito a arranjo vocal/orquestral surrupiado dos Beach Boys), John Lennon escrevia "Julia" para sua mãe, que morreu quando ele ainda era uma criança.
Ainda é possível destacar a delirante "I'm So Tired", a psicodelicamente barroca "Piggies", o arranjo complexo da acústica "Mother Nature's Son", a espetacular "Sexy Sadie", o soul ácido de "Savoy Truffle" e a exuberância cinematográfica de "Good Night".
Lá para o fim do disco, temos ainda a estranhíssima "Revolution 9" e seus mais de oito minutos de colagens sonoras e outras experimentações que só fazem sentido quando escutadas após tantas maravilhosas composições. Ou nem assim. É a vanguarda adentrando o rock.
Sendo o primeiro álbum a ser gravado em 8 canais - até então tudo era registrado em apenas 4 -, contendo alguns dos melhores compositores da história, instrumentistas completos e um produtor lendário como o George Martin, fica difícil contrariar a premissa de que este é um dos melhores discos de todos os tempos.
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