Em 1973, diante de uma truculenta ditadura militar, o rock brasileiro se desenvolvia a passos lentos (embora significativos). Foi então que o baiano Raul Seixas - até então produtor da CBS e cantor de pouco alcance comercial -, em um surto de criatividade, gravou essa pérola da discografia nacional batizada Krig-ha, Bandolo!.
O que antes era apenas o grito do Tarzan, virou o grande berro rockeiro dentro da canção popular brasileira. A inacreditável "Introdução: Good Rockin' Tonight", contendo uma gravação caseira de um ainda pirralho Raulzito cantando Elvis Presley, é um verdadeiro tesouro do rock nacional. Já crescido, Raul escreveu seus próprios petardos rockeiros, vide a espetacular "Rockixe", bastante grooveada e com direito a arranjo de metais.
Sua influência de Bob Dylan está nos folks, vide a linda "How Could I Know" - vale dizer que tanto a pronúncia do inglês quanto o sotaque baiano do Raul sempre me soou mais "natural" que do Caetano Veloso em ambos ao cantar -, "Cachorro Urubu" e "As Minas do Rei Salomão", faixa essa em que Raulzito deixa claro que não tinha limites narrativos, ainda mais estando na companhia de um ainda contracultural/místico Paulo Coelho.
Da parceria com Paulo Coelho saiu "Al Capone", umas das melhores composições do rock brasileiro, tanto por seu jeito coloquial e acessível de tratar temas sofisticados, quanto pelas ótimas guitarras, ritmo envolvente e performance irresistivelmente espontânea do Raul.
É inacreditável como a sonoramente preguiçosa "Metamorfose Ambulante" consegue ser tão popular quanto reflexiva. Essa facilidade com as palavras explica o alcance que sua música alcançou.
Dentre inúmeros clássicos de sua carreira, está a incomparável "Mosca Na Sopa", que revela muito da personalidade do Raul, tanto em sua letra inquieta, quanto no instrumental que funde o rock n' roll com uma brasilidade típica da Bahia, das rodas de capoeira e ponto de macumba. Vale se atentar ao sintetizador - instrumento até então pouco utilizado no Brasil -, simulando o som da mosca.
Mas nada se compara a "Ouro de Tolo", uma emblemática composição de letra achincalhadamente inconformada - e extensa, cantada quase como um "rap", sendo uma resposta ao milagre econômico -, dona de lindo arranjo - um pastiche das canções bregas - e dramaticidade comovente/irônica. Qualquer semelhança com "Set You Free This Time" dos Byrds não é mera coincidência.
Mas nada se compara a "Ouro de Tolo", uma emblemática composição de letra achincalhadamente inconformada - e extensa, cantada quase como um "rap", sendo uma resposta ao milagre econômico -, dona de lindo arranjo - um pastiche das canções bregas - e dramaticidade comovente/irônica. Qualquer semelhança com "Set You Free This Time" dos Byrds não é mera coincidência.
Embora com outros inúmeros exemplos de rock feitos anteriormente no Brasil, Krig-ha, Bandolo! abriu portas para tudo que possa ser considerado genuinamente rockeiro no país.

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