Um dos estilos mais interessantes da década de 1990 é o post-hardcore. Dentre diversas boas bandas desta vertente, o At The Drive-In foi a que teve maior repercussão. Mas foi justamente quando o grupo encerrou as atividades que dois de seus integrantes chegaram no apogeu da criatividade. The Mars Volta e seu disco de estreia, o acachapante De-Loused In The Comatorium, é o mais alto degrau do post-hardcore do novo milênio.
Abusando do prestígio que conseguiram no underground, Omar Rodriguez-López (guitarra) e Cedric Bixler-Zavala (voz) não se restringem a nada para alcançar a maturidade dentro do estilo. Para isso, contaram com a ajuda do baixista Flea (Red Hot Chili Peppers) e do espetacular baterista Jon Theodore para a confecção do álbum. A produção ficou a cargo de ninguém menos que Rick Rubin.
Ao bater no liquidificador hardcore, psicodelia, rock progressivo, música latina, fusion e até mesmo dadaísmo, surrealismo e expressionismo abstrato - é sério! -, De-Loused In The Comatorium é inteligentemente ambicioso, conseguindo soar moderno sem ignorar a música do passado, e intenso ao ecoar a vida conturbada/junkie dos integrantes e amigos que rodeavam a banda, como Jeremy Ward, letrista e engenheiro de som do grupo, que morreu de overdose logo após o lançamento do disco, interrompendo a tour de divulgação. Mas quem inspirou as letras foi Julio Venegas, um viciado que ficou em coma por anos e que ao acordar decidiu por se matar.
Entre berros e sussurros, melodias e microfonias, viagens e virtuosismo, destacam-se "Inertiatic Esp", "Roulette Dares (The Haunt Of)", "Eriatarka", "Cicatriz Esp" e "Drunkship Of Lanterns", um hino da guitarra do século XXI. As músicas são uma mistura frenética de MC5, Hawkwind, Fela Kuti e Fugazi.
De-Loused In The Comatorium é a prova concreta de que o rock não só não morre, como também se atualiza nas mãos de músicos inquietos e competentes.

Nenhum comentário:
Postar um comentário