quinta-feira, 26 de maio de 2011

Músicas em nome de Deus

Vejo em grande partes das pessoas, principalmente aquelas ligadas ao rock, certo desdém com relação a música dita religiosa. Se o preconceito musical com relação a gênero, raça e nacionalidade diminuem aos poucos (ao menos no território musical), os muros divinos continuam sendo uma barreira entre o público secular e os artistas que usam a música como instrumento de adoração.

Fato é que o ouvinte não precisa ser religioso para gostar de canções de louvor, assim como ninguém precisa "ser de esquerda" para gostar de RATM ou fumar maconha para ouvir Planet Hemp. A música é uma linguagem universal e ferramenta poderosa para levar suas convicções adiante, sendo assim, cabe ao ouvinte captar as qualidades de uma música, seja ela uma canção de protesto, um hino de devoção ou uma simples obra profana cheia de sexo e violência.

Vou aqui citar exemplos de músicas religiosas que apresentam qualidades para todos os gostos. Ficarei neste momento restrito a música judaica cristã, não por considerar uma "crença maior" - de certa forma, muito pelo contrário -, apenas conheço mais artistas dentro deste segmento.

Mahalia Jackson

Johann Sebastian Bach
A música sacra é um dos pilares da música erudita. Desde o canto gregoriano, passando por compositores renascentistas (vide Palestrina), do período barroco (como Vivaldi e Händel) e do classicismo (como Haydn e Mozart), a música sempre teve uma função religiosa. Não é absurdo dizer que o compositor que melhor se destacou ao produzir para a igreja foi o gênio do período barroco, Johann Sebastian Bach. Exímio tocador de cravo e explorador das técnicas contrapontistas, Bach compôs diversas obras que até hoje servem de apreciação e estudo para músicos do mundo todo. Entre suas principais obras está o lindíssimo oratório Paixão segundo São Mateus. A divindade está aqui.

Sister Rosetta Tharpe
Muitos condenam a ligação do rock com a música gospel (que vem de God-speell), mas a verdade é que o rock é um filho da música negra americana de adoração. Quem nunca ouviu Elvis Presley, Johnny Cash ou Bob Dylan cantando alguma velha canção de louvor que atire a primeira pedra! Mas se tem uma artista que merece muito respeito dos "rockeiros" é a incrível Sister Rosetta Tharpe, que empunhava e estraçalhava uma Gibson SG muito antes de Tony Iommi e Angus Young "amaldiçoarem" o instrumento. Com o típico vozeirão de cantora da igreja protestante americana, a "irmã Rosetta" quebrava tudo com seu gospel envenenado pelo blues.

Mahalia Jackson
Falando em música gospel, não dá para ignorar aqueles incríveis corais de vozes das igrejas batistas americanas. E nesse território lembro sempre da Mahalia Jackson, uma das maiores vozes do século XX, de trajetória espetacular que a colocou em grandes eventos da história norte-americana. Vale muito pesquisar suas gravações. É emocionante.

The Staple Singers
Acredito que uma das maiores evoluções da canção popular se deu quanto a música "de culto" se fundiu a música "secular". Isso pode ser muito bem representado pelo Staple Singers, grupo vocal que trazia a Mavis Staples. Mas era o Pops Staples que pastorava o grupo. Por ter trabalhado na colheita de algodão, seu estilo não difere em nada de outros bluesman. É a herança da work song que fez dele um tremendo guitarrista. Já as três irmãs cantam demais, trazendo naturalmente muito do soul para sua interpretação. Ainda assim, seja pelo texto, pelo intuito, pela história... é música gospel.

Aretha Franklin
Transpondo essa linguagem das igrejas batistas para algo mais "secular", temos o espetacular disco Amazing Grace (1972) da Aretha Franklin, registrado ao vivo dentro de uma igreja. É uma maravilha!

Take 6
Para quem gosta de arranjo e interpretação vocal, independente do gênero, tem que ouvir o Take 6. Seus álbuns (com destaque para o So Much 2 Say, de 1990) são de riqueza vocal indiscutível. 

Commissioned
Gostou do Take 6? Vá agora de Commissioned, outro grupo vocal espetacular. Ed Motta deve adorar. Todos ali cantam muito bem. Fora que tem muito groove. State Of Mind (1990) é uma bela pedida.

Roby Duke
Falando em Ed Motta, foi através dele que conheci o Roby Duke, artista da chamada CCM (Contemporary Christian Music), que em muitos momentos parece um "AOR de cunho religioso". O álbum Not The Same (1980) é uma pérola "pop", impecavelmente arranjado, tocado e captado.

Phil Keaggy
Já no campo instrumental, vale lembrar o exímio violonista/guitarrista Phil Keaggy, que nunca deixou de manifestar sua fé através da música, ainda que sequer abrindo a boca para cantar.

Rev James Moore & The Missippi Mass Choir
Atentem-se também a esse vídeo do Rev James Moore & The Missippi Mass Choir (com direito ao baixo swingado do Andrew Gouche) e tente não ficar contagiado. O groove rola solto! Se tivesse uma missa/culto no meu bairro com esse nível sonoro eu iria todo domingo. 

Neal Morse
A louvação através do heavy metal existe há muito tempo. Provavelmente tenha começado através do grupo Stryper, que ajudou a estabelecer o rótulo white metal, que nada mais é que o heavy metal com cunho religioso. Na minha opinião, a maioria das bandas que trazem essa proposta de som pesado com letras de adoração pecam ao compor músicas fracas e presunçosas. Todavia, nem todos comungam deste erro. Neal Morse, por exemplo, é um multi-instrumentista com carreira bastante produtiva. Ele lançou em 2007 o ótimo Sola Scriptura (2007), disco pesado, melódico e progressivo ao mesmo tempo. Além de trazer ótimas composições, o álbum conta com a ajuda nas gravações do baterista Mike Portnoy (eterno Dream Theater) e do virtuoso guitarrista Paul Gilbert. Audição recomendada para quem gosta de metal progressivo.

Oficina G3
Não poderia deixar de citar uma banda brasileira. Com mais de 20 anos de carreira o Oficina G3 já passou pelo hard rock, heavy metal, pop rock, new metal, dentre outros gêneros, sempre levando suas convicções nas letras. Recentemente lançaram um DVD que concretiza o sucesso do ótimo CD Depois da Guerra, que teve a produção Pompeu e do Heroes do Korzus. O show evidencia músicos num alto nível técnico em canções de peso considerável. Peso esse que sepulta a ideia de que é impossível misturar rock com Deus.

Resgate
Lembro que quando ouvia Oficina G3, outra banda que era sempre posta no mesmo balaio era o Resgate. Confesso que na época não me fisgou tanto, já que era mais rock n' roll e menos virtuoso, mas o disco On The Rock (1995) é verdadeiramente bem bom. Vale lembrar que a produção é do Paulo Anhaia.

Petra
Gostaria de deixar claro que não tenho vinculo com religião alguma, muito pelo contrario, acho elas até certo ponto um atraso para humanidade. Mas justamente por não compartilhar deste atraso, consigo elevar a arte há um lugar muito maior que de ideais demagogos. Sendo assim, para terminar, deixo aqui um clássico do southern rock gospel (?) da banda Petra, que foi regravado pelo KISS (?), os tais satanistas esmagadores de pintinhos.

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