Nascido no Mississipi, Howlin' Wolf foi dos artistas mais consistentes na formação do blues. Moanin' In The Moon (1959), seu primeiro disco, lançado pela Chess Records, compila singles que ele produziu entre 1951 e 1959. É um recorte contemporâneo aquele momento. É o que de mais selvagem existia.
Como o uivar de um lobo para a lua, "Moanin' At Midnight" abre o disco com uma voz feroz, soturna e suja. Howlin' intercala canto e gaita com a mesma energia, enquanto Willie Johnson soa na guitarra com uma braveza até então nunca vista. Essa intensidade aflora ainda mais em "How Many More Years", onde os acordes soam distorcidos, munindo Ike Turner (piano) e Willie Steele (bateria) para também socarem seus instrumentos. Ainda é possível ouvir Willie Johnson fritando sua guitarra em "All Night Boogie", dialogando com uma ofegante gaita. Essas três faixas foram gravadas em Memphis num pré-Sun Studio pelo Sam Phillips.
"Smokestack Lightning" é indiscutivelmente uma das grandes faixas do período, do blues, do rock. O riff tão "simples" quanto antológico traz aquele bend cafajeste/maldoso do lendário Hubert Sumlin.
O canto e a gaita dramática do Howlin' casam perfeitamente com o groove esfumaçado, noturno e febril "Baby How Long". É daquelas gravações que faz a parede do estúdio transpirar. Ótima performance do Earl Phillips (bateria), Otis Spann (piano) e Willie Dixon (baixo).
Falando em Willie Dixon, não da pra deixar de se atentar a "Evil (Is Going On)", faixa de sua autoria, de ritmo contido, piano soberbo, baixo profundo (do Willie) e um "evil" interpretado com a elegância do próprio demônio. Falando no Cramunhão, em "No Place To Go" o Howlin' canta com o lamento do Diabo. É o template de como um vocalista de rock e blues tem de soar, embora nem todos que tentem pareçam ter uma existência que assim permita cantar. É genuino.
Muito da escola de como se tocar guitarra solo pode ser percebido em "I'm Leavin You", faixa em que Hubert Sumlin manda uma sequência impressionante de frases copiadas ao longo da história do instrumento.
A interação de Howlin' e Hubert em "Moanin' For My Baby" é daqueles casamentos musicais perfeitos, que parece anteceder e aniquilar qualquer possível magia que queiramos enxergar nos Mick Jagger e Keith Richards da vida.
Dá pra perceber uma captação mais robusta e saturada em "Forty Four". A voz chega a estourar, o que traz uma dramaticidade intensa à canção. É um shuffle embriagado e venenoso.
Há quem possa ver esses registros como algo meramente documental. Um equivoco! Aqui está a excelência em termos de composição e performance. É o blues no esplendor da potencia e brilhantismo. Não por acaso foi tão influente.
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