sexta-feira, 8 de agosto de 2025

TEM QUE OUVIR: Meshuggah - Nothing (2002)

Quem acompanha o metal no século XXI não passou ileso pelo djent (também conhecido como math metal). Se para o público comum termo/subgênero não significa nada, dentro do segmento dos sons pesados ele ditou diversas tendências. Grupos como Animals As Leaders, Periphery, Polyphia, TesseracT e, até mesmo, novas estrelas do cenário como Spiritbox e Sleep Token, para o bem ou para o mal, incorporam essa estética ao seus estilos.

E do que se trata o djent? Pra começar, o nome do gênero é uma onomatopeia do som de suas guitarras. Ou seja, aquele som abafado de palm-mute, somado a timbres de afinação baixa distorcidos apertando frequências altas. A produção digital moderna também é uma forte característica. Entenda com isso um peso cristalino, grave e comprimido, além de milimetricamente editado. Confuso? Melhor então partir pra audição, sendo Nothing (2002) do Meshuggah uma tremenda introdução.

Os suecos do Meshuggah foram não somente responsáveis por desenvolver o gênero desde seu estado embrionário, como chegaram num nível de excelência impressionante, tornando-se referência do estilo. Mesmo o nome djent quem deu foi o guitarrista do grupo, o estranho Fredrik Thordendal, que equiparado de guitarras de 8 cordas (!!!), desenvolveu um estilo monolítico, onde mais que velocidade e quantidade de notas, prevalece a precisão, densidade, pegada e a interação rítmica complexa com o brilhante baterista Tomas Haake. 

Nothing é o quarto lançamento do grupo, mixado as pressas antes de entrarem num Ozzfest que lhe renderia maior popularidade. Insatisfeitos com a produção, em 2006 chegaram a fazer nova mixagem, masterização e, até mesmo, a regravar algumas guitarras e baterias. Honestamente, acho que a versão original de 2002 serve como um recorte mais preciso do tempo.

"Stengah" abre o disco já virando o ouvinte do avesso com um riff de duas notas (uma delas com bend lentamente doentio), além de ataques enlouquecedores nos pratos. A primeira impressão é de confusão por conta de ritmo aparentemente desconexo. Mas na base da insistência, a força da proposta vai perfurando nossa massa cefálica até nos levar a um aflorar epilético. Vale se atentar ao solo de guitarra, trazendo ecos fusion influenciados pelo Allan Holdsworth. 

"Rational Gaze" foi o single do álbum, o que não quer dizer grande coisa, já que ela não é nada palatável para o ouvinte de primeira viagem. Mas é um cartão de visita que cativa através de seus riffs ritmicamente complexos seguidos de pauladas num prato china e bumbos tão lineares quanto um ovo rolando ladeira abaixo. Por mais berrada que seja a voz do Jens Kidman - e com letras com mensagens indecifráveis -, seu refrão aqui é memorável. A faixa se desenvolve de maneira espantosamente violenta, outside (que raio de solo é esse!) e estranha. Performance sinistra!

As polirritmias e compassos ímpares típicos do grupo (e do djent) joga o ouvinte pra trás logo no inicio de "Perpetual Black Second". O ritmo pra eles é um elemento tão fundamental que até mesmo a linha vocal prioriza o ataque rítmico em detrimento a melodia. O resultado é de enorme impacto.

Há um groove torto e irresistível no meio de toda essa loucura, vide o que acontece em "Closed Eye Visuals", faixa de caminhos progressivos, com direitos a arpejos climáticos num timbre limpo de guitarra lá pelo meio da faixa.

Tomas Haake cria motivos jazzisticos com seus tambores no inicio de "Glints Collide". Sua performance por toda a canção é amedrontadora. O mesmo vale para "Organic Shadows", sendo que aqui as guitarras se entrelaçam ao groove de maneira ultra robusta.

"Straws Pulled At Random" parece feita para despirocar. Por mais complexo que seja, o resultado sonoro é muito vibrante. Atenção para seu bonito/melódico/climático solo de guitarra ao final, servindo de contraponto para o peso da base.

"Spasm" não poderia ter outro nome, já que ela leva a isso mesmo. Isso somado a disritmia. Mais uma vez o elemento jazzistico se faz valer na performance do Tomas Haake. Já a voz falada parece ter raiz no metal industrial.

As derradeiras "Nebulous" e "Obsidian" basicamente preservam o peso e inventividade que acompanha todo o disco. São exemplos do frescor inventivo que o Meshuggah trouxe para o comumente ortodoxo mundo do heavy metal.

Esse álbum definitivamente não vai agradar a todos, mas vale conferir por conta de sua intensidade alinhada ao vanguardismo. Muito do que tornou tendência, já era feito aqui. É possível que quem curte música experimental embarque mais que os tipicos headbangers, até porque é difícil balançar a cabeça ao som do Meshuggah.

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