Saindo dos cafundós de New Jersey, eles tinham o Bruce Springsteen com um farol. Todavia, apostaram num som mais encorpado. Dá até para chamar de heavy metal, mas um heavy metal em que as garotas populares do colégio também curtiam. Surgiram após o sucesso do Quiet Riot, Ratt, Mötley Crüe e Def Leppard, aperfeiçoando (e popularizando ainda mais) o hard rock do período. Vale ainda lembrar que o Van Halen - grupo veterano na cena se comparado aos outros citados -, acabava de perder seu vocalista galanteador no auge do sucesso do disco 1984. Alguém ia ter que pegar essa brecha.
Em 1986 o Bon Jovi lançou seu terceiro trabalho, Slippery When Wet, indiscutivelmente o principal disco do grupo. Outrora de sucesso moderado - mas que garantiu que os primeiros anos fossem movimentados na estrada, adquirindo experiência -, aqui eles chegaram ao número 1 das paradas.
Nos primeiros segundo de “You Give Love A Bad Name” já da pra entender o sucesso. É um som empolgante, radiofônico, pra arena. Todavia, no entorno de sua estrutura pop (refrão poderoso, coro de vozes, cama de teclados, partes bem definidas), o Richie Sambora não economiza peso na guitarra, soando como a ponte entre o Eddie Van Halen e o que viria ser o Slash.
Outro hit estrondoso é "Livin' On A Prayer", canção muito bem construída, a começar pela ótima linha de baixo do Hugh McDonald (e não do creditado Alec John Such), os teclados climáticos do David Bryan (que timbristicamente estava mais próximo do A-ha que do Deep Purple) e, principalmente, o uso de talkbox pelo Sambora, definindo a sonoridade deste efeito via a guitarra (superando assim o Peter Frampton). Ah, tem o refrão também né! Se você nunca quis cantar a plenos pulmões enquanto ela tocava é porque não bebeu o suficiente. Só não precisava subir tanto o tom no final, né?
Vale dizer que grande parte do êxito destas canções se deve a produção do Bruce Fairbairn, um especialista em dar um polimento pop ao rock, tendo posteriormente trabalhado com Aerosmith, AC/DC e Van Halen. Já a engenharia e mixagem ficou a cargo do Bob Rock, aquele mesmo que na sequência mudaria o som do metal através de produções do Mötley Crüe e Metallica. O requisitado compositor Desmond Child (que trabalhou com Kiss, Alice Cooper, Joan Jett, Aerosmith, Cher, dentre outros) também foi fundamental para destravar a criatividade do grupo. Tendo isso em mente, é fácil entender porque "Let It Rock", a abertura do disco, soa tão enorme e convidativa.
Nunca época cheia de excessos que era o hard rock e o heavy metal, a boa balada "Wanted Dead Or Alive" traz um clima mais orgânico do country/southern. A forma em que os violões são aplicados no arranjos possibilitou que a canção fosse mais um enorme sucesso radiofônico.
"Never Say Goodbye" também acalantou muitos corações, mas ai já é excessivamente cafona. Nesse sentido, prefiro o rock meloso de "Without Love". Por sua vez, equilibrando para o outro lado, "Social Disease" (ótimo riff, bom uso de metais e tremenda performance do baterista Tico Torres), "Raise Your Hands" (tremendo riff e solo do Sambora) e "I'd Die For You" (um AOR à la Journey) afloram a energia rockeira.
Faltou citar um personagem nessa história: Jon Bon Jovi, um vocalista indiscutivelmente boa pinta e batalhador. Foi ele que manteve a banda nos trilhos, fazendo com que ela se tornasse a única daquela safra a continuar lotando estádios e vendendo discos. Isso se deve em grande parte a influência do Bruce Springsteen, que indiretamente lhe ensinou como conduzir o público. Musicalmente essa referência se revela na boa "Wild In The Streets", um perfeito hard-heartland rock.
Esse é típico grupo e disco que não precisa de defesa. Eles já tão consagrados. Observar o fenômeno decodificando suas qualidades me parece uma experiência mais gratificante.
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