quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

RETROSPECTIVA 2023: Lançamentos (Incluindo os MELHORES DISCOS DO ANO)

Chegamos em janeiro, mês em que a "tradicional" lista de melhores do ano do País do Baurets dá as caras. Ao contrário de tantos, evito soltar a lista antes do tempo. Não vejo o porquê de tanta pressa em publicar a lista antes do ano acabar, ainda mais tendo em vista que sempre há um maluco que lança algo relevante aos 45min do segundo tempo.

Reconheço que citar mais de 100 discos de um único ano é exagero, ainda mais atualmente, onde tudo parece ser tão descartável (não enquanto obra, mas enquanto hábito de ouvinte). Todavia, não deixaria de postar algo bacana só para me enquadrar num número pré-estabelecido.

Apesar da grande quantidade de álbuns, fiz descrições pessoais e curtinhas (não são críticas, muito menos resenhas, são DESCRIÇÕES), justamente por entender que, embora as pessoas tenham sede de conhecimento, nem todos têm tempo/interesse/prazer de ouvir tantos lançamentos, muito menos de ler a minha irrelevante opinião sobre tais obras.

Mas tá aí, o trabalho sujo está feito. Com direito a uma faixa destaque para cada disco (exceto nos "MELHORES DISCOS DO ANO", ao menos esses escutem inteiro).

Mais que uma crítica, esse post é um apoio para quem quer caçar uma novidade (e um HD externo para eu mesmo catalogar minhas audições/preferências).

Obviamente, muitos prováveis grandes discos ficaram de fora simplesmente por eu não ter tido acesso e/ou tempo de ouvir. No passado isso me causava angústia, hoje deixo rolar, conformado com a impossibilidade de ouvir tudo. De qualquer modo, se tiverem alguma grande indicação para fazer, é só colocar nos comentários.

Separei tudo em ordem alfabética. Nacionais e internacionais, tudo misturado. Acho que assim fica mais fácil procurar algum lançamento específico. Todavia, como tem quem se interesse em saber as predileções nacionais, deixo aqui a menção honrosa aos discos do Lupe de Lupe (único no topo dos prediletos), cabezadenego / Leyblack / Mbé, Crypta, Daniel Santiago & Pedro Martins, DJ K, DJ RaMeMes, Ed Motta, Giallos, Lessa Gustavo, Marcelo D2, Pó de Café & USP Filarmônica, Rodrigo Ogi e Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo. Destrincho cada um deles mais abaixo.

Sem mais delongas, vamos para a lista:

Alice Longyu Gao: Let's Hope Heteros Fail, Learn and Retire
Por ser um EP de compilação dos últimos singles da artista chinesa, cheguei a pensar em deixar de fora desta lista, mas a sequência das faixas é tão acachapante que não seria justo. É uma música melhor que a outra. Um hyperpop de atitude punk, produção corrosiva e performance anfetaminada. Ultra ganchudo, explosivo e divertido.

ANOHNI and The Johnson: My Back Was Bridge For You To Cross
O primeiro álbum de parceria da artista com o grupo em 13 anos. Forte desde a capa, o trabalho percorre pelo soul e rock com fluidez. Ouso dizer que tem as melhores performances vocais da artista (e do ano). Isso se dá não somente por questão técnica, mas principalmente pela entrega emotiva, que eleva letras fortes por natureza, discorrendo questões (problemas) pessoais e outros nem tantos (gênero, meio ambiente, efemeridade). As belas melodias, arranjos cuidadosos e captação orgânica sustentam as canções. Especial.

Armand Hammer: We Buy Diabetic Test Strips
Não adianta, os trabalhos deste duo sempre terão uma carga de experimentalismo que, à primeira vista, pode parecer pouco convidativo. Mas aqui, por trás de toda abstração sonora e lírica, há canções que nos envolvem pelo peso, acidez e riqueza das texturas. billy woods e Elucid criam uma obra que progressivamente nos arrebata através do caos. É o perfeito som da contemporaneidade, imerso em vazio, ruídos e dilemas. Sendo o hip hop a música que retrata o mundo, é neste disco que ele melhor atende sua proposta.

Caroline Polachek: Desire, I Want To Turn Into You
Sabe o que me lembrou esse disco? Algo como se a Charli XCX tivesse ouvido muito o Ray Of Light (Madonna). Fato é que em seu segundo trabalho, a Polachek se sai ainda melhor. Adorei suas melodias vocais (ganchudas e muito bem interpretadas), o aspecto intrincado do instrumental (sem perder a essência pop) e a produção (tão cristalina quanto robusta). O grande disco POP (com letras garrafais) do ano.

Danny Brown: Quaranta
Devo ter sido a única pessoa que gostou mais deste disco que o da parceria com o Jpegmafia (Scaring The Hoes, também de 2023). Mas caso ainda não tenha escutado, vá por mim, é um disco espetacular. Ele intercala faixas estrondosas/graves/intrincadas com outras mais reflexivas/climáticas, o que dá dinâmica ao disco e traz sensibilidade a uma personalidade conhecidamente voraz do hip hop. Os diferentes produtores explicam tal versatilidade. Álbum curto (pouco mais de 30 minutos), direto ao ponto, repleto de faixas memoráveis.

Geese: 3D Country
Não conhecia a banda, mas fiquei chocado com esse disco. Chocado porque, ao mesmo tempo que remete ao classic rock americano, também invoca referências sonoras contemporâneas que não sei exatamente a origem. E eles fazem isso de forma sábia, pontual e nada oportunista. É o rock tradicional em ebulição através da criatividade composicional. As canções ganham caminhos improváveis que trazem sabor especial na dinâmica do disco. Isso sem mencionar que as performances são ótimas, principalmente do guitarrista e do cantor, esse último dono de voz e interpretações singulares. A captação também é ótima, orgânica quando precisa, corrosiva em momentos inesperados. Sensacional.

Genesis Owusu: STRUGGLER
Ainda melhor que seu debut, aqui o artista retorna com sua natural fusão de estilos (mais notoriamente synthpop, pós-punk e rap). Sua interpretação afrontosa e de voz grave é charmosa, intensa e cheia de personalidade. A produção, que explora no decorrer do disco uma variedade enorme de timbres de sintetizadores, soa robusta e orgânica. Tudo isso eleva canções irresistíveis já na primeira escuta. Álbum de audição fácil, apesar de rico em detalhes e de expor em lupa os conflitos existenciais do artista.

grouptherapy.: i was mature for my age, but i was still a child
Novo supergrupo de rap, formado pelos jovens Jadagrace (garota de voz fantástica, altamente pop), SWIM e TJOnline. Juntos eles produziram um repertório versátil, que passeia pelo trap, pop-rap, hip hop alternativo e r&b. As canções são memoráveis, intercalando flow vorazes, ganchos melódicos, ótimos beats e produções robustas. Nem há muito o que descrever, é apenas uma sequência estonteante de faixas. Não perca a chance de conhecer.

Jeff Rosenstock: HELLMODE
Embora o pop punk ainda esteja lá, neste disco o cantor-compositor foi em direção ao power pop, remetendo em alguns momentos ao Weezer (não o Weezer cansado, mas o criativo, emotivo e divertido). É um repertório variado e rico em camadas (musicais e líricas), com direito a momentos bem reflexivos (e paranóicos). Fora que tem melodias ganchudas, guitarras parrudas e o estilo cheio de energia e personalidade do Jeff Rosenstock ao interpretar as canções. Seu melhor disco até então (e olha que ele tem uma tremenda discografia).

Jessie Ware: That! Feels Good!
Acertou no disco passado e repetiu a fórmula, para mim, de forma ainda mais exitosa. É aquela disco music com pitadas de house que soa moderna, dançante, divertida, envolvente, hedonista, glamurosa, vibrante… espetacular. Gosta da sua voz, gosto dos arranjos. É impressionante como muitas das canções são tão memoráveis que parecem que sempre existiram (tem cada gancho!). Simplesmente adorei. Me acompanhou durante todo o ano.

Joanna Sternberg: I’ve Got Me 
De captação lo-fi (ou simplesmente orgânica), esse curto disco traz rusticidade e verdade para canções de peito aberto da cantora-compositora folk. Sua interpretação vocal e a execução ao violão e piano são cativantes. As composições têm ótimo desenvolvimento melódico. A escolha por arranjos enxutos foi acertado em tempos de indie folk ultra pomposo e lapidado. Divertido, doce, sagaz e emotivo.

Kara Jackson: Why Does The Earth Give Us People To Love?
Ouvi sem sequer conhecer a artista. Fiquei maravilhado com o disco, uma perfeita amostra de excelência ao fundir música folk com rock progressivo - uma mistura de Joni Mitchell com as baladas acústicas do Pink Floyd -, isso sem nenhum ranço do passado. Depois soube que ela tem um trabalho enquanto poetisa, revelado no talento e dedicação ao texto, sendo alguns deles verdadeiros tratados sobre a morte A gravação e os arranjos são cristalinos - mesmo nos momentos mais intimistas, crus e lo-fi -, assim como sua voz afinadíssima e cheia de personalidade. Exuberante.

Lupe de Lupe: Um Tijolo Com Seu Nome
É com felicidade que vejo que o Lupe de Lupe lançou mais um grande disco, talvez o melhor de todo o rock nacional desde o Quarup (2014, também deles). Entretanto, entendo não ser um tipo de som que agrade a todos. Isso porque além do estilo composicional - que aborda o nem sempre reconhecível cotidiano do jovem confuso e desordeiro - sonoramente é atormentador, vide o canto irregular (desafinado), a produção lo-fi e as guitarras barulhentas (ora lembrando o som abelhudo de guitarra em linha típica do punk rock nacional 80’s, ora remetendo ao Melvins ou o Guided By Voices). No meio dessa bagunça, as canções se revelam ganchudas e memoráveis, algo improvável de se atingir. Que banda!

Model/Actriz: Dogsbody
Logo em sua estreia, o grupo já demonstra força ao explorar batidas dançantes e timbres pesados na mesma (e elevada) medida. Em alguns momentos lembra o Depeche Mode, em outros o NIN. Mas não se engane, há muita personalidade, principalmente no que se refere a construção das composições. As interpretações vocais do Cole Haden são um destaque. Ele sabe colocar um tempero misterioso e sexy (mesmo quando isso não pareça vir a calhar). Adoro a timbragem corrosiva, assim como a performance vibrante da banda. No geral, é uma junção de qualidades que fazem desse disco uma experiência deliciosamente barulhenta para as noites de sexta.

Reverend Kristin Michael Hayter: SAVED!
Para quem não está associando o nome a pessoa, é a moça do Lingua Ignota. Aqui ela encarna uma reverenda em hinos de louvor (seja lá à quem for direcionado os tais hinos). Por incrível que pareça, é seu trabalho mais acessível (mas cuidado - principalmente na faixa final -, não é assim tão fácil também). Digo isso porque as canções são genuinamente bonitas e as interpretações emotivas. A captação lo-fi traz uma rusticidade que traduz a alma de quem canta. Dessa produção é extraída texturas, saturações, timbres trastejados (é um piano preparado?), dentre outras características que dão personalidade ao disco, fazendo com que ele soe de outro tempo. Talvez ele tenha se salvado após tantas lutas e transcendido esse plano. A arte tem esse poder. Impactante.

Sampha: Lahai
É verdade, ele demorou para dar sequência a sua elogiada estreia (Process, de 2017), mas a lapidação aqui encontrada justifica a demora. Não só as composições são muito boas (embora com um ou outro deslize), mas o cuidado com os arranjos, gravação e produção foram determinantes para a excelência deste álbum. Sua versatilidade sônica engloba r&b, pop, jungle e jazz. Há momentos singelos, agraciados por inteligentes progressões harmônicas e arranjos refinados. Todavia, ritmos dançantes apimentam o álbum, tornando a experiência auditiva fluida e divertida. Isso tudo forma a base para sua linda voz, explorada em todas as direções. Tecnicamente perfeito.

slowthai: UGLY
Disparado o disco do rapper que mais gostei. Sua cabeça nitidamente bagunçada dá vazão a composições que estão mais próximas do pós-punk que do grime. A produção é pesada, rica em textura e reluzente. Vale dizer que o Dan Carey, que assina a produção, trabalhou com nomes como black midi e Fontaines D.C.. O resultado são momentos liricamente vulneráveis, (des)equilibrados em faixas avassaladoras e memoráveis, transbordando uma jovialidade tipicamente britânica.

Sprain: The Lamb As Effigy
Daqueles discos que me arrebatam de imediato, tamanha a força da performance. É um noise rock (beirando o metal) que envolve o ouvinte na paranóia das canções. Tudo cresce de forma descompensada, trazendo guitarras ríspidas e uma cozinha poderosa. Isso enquanto o vocalista se entrega de corpo, coração e alma na declamação das letras. Produção orgânica e volumosa, que acompanha o crescente das composições, algumas se elevando até o ponto de virar drones rock-sinfônicos do caos. Impressionante.


ABAIXO ESTÁ O BOJO DA LISTA. SÃO OS ÁLBUNS QUE OUVI PARA CHEGAR AOS MEUS PREDILETOS. CLIQUE NO MAIS INFORMAÇÕES CASO SE INTERESSAR.

TAMBÈM SEPAREI UMA BREVE SEÇÃO PARA FILMES DE MÚSICA.

SEPAREI ENTRE "BONS" (6-8), "MEDIANOS" (4-6) E "RUINS" (0-4)

"BONS" (6-8)

- 100 gecs: 10,000 gecs (Devo ser franco ao dizer que esse tipo de proposta sonora eu vejo mais com curiosidade que com afinidade. Até porque tem algumas interpretações com traços de pop punk que não me apetecem, além de existir produções mais instigantes dentro dessa linha hyperpop. Dito isso, é admirável a evolução composicional do duo. E mesmo quando não entra na minha cabeça, consigo ver valor na inquietação sônica ao fundir pop, eletrônica, metal, ska, trilha de videogame e sei lá mais o quê. Tem seu barato). I Got My Tooth Removed

- Aesop Rock: Integrated Tech Solutions (Todo mundo sabe que ele é um rapper muito acima da média, então vou resumir dizendo que ele continua rimando com uma capacidade assustadora, embora confesse que nem vou avaliar o conteúdo lírico porque não me atentei as letras, só me deixei embarcar no seu flow perspicaz. Já as produções são das mais pulsantes do ano, envolvendo o ouvinte sem fazer grandes experimentações, “apenas” soando pesada e consistente. Tem cada synth! É o suficiente). Agressive Steven

- A Espetacular Charanga do França: Baile Espetacular (É um grande mérito fazer um álbum instrumental soar como um dos trabalhos mais divertidos, calorosos e dançantes do ano. Aqui Thiago França e turma chegam em arranjos graciosos, pulsantes e redondíssimos, preenchidos pela força do trombone e o coloridos de tantos outros instrumentos. Um disco que passeia pelas ruas. Uma seleção de repertório que até poderia ser acusada de oportunista (tem Pabllo Vittar, tem “Eva”), mas que funciona genuinamente bem). Raggaxixe

- Alan Palomo: World Of Hassle (Para quem não tá associando o nome ao artista, é o maluco do Neon Indian. Neste disco, ele é mais uma vez exitoso em explorar elementos sonoros do passado (sax esganiçado oitentista, synth da electro disco, cafonagem divertida da italo disco e os arranjos bem desenvolvidos do city pop) numa estética e produção não dissociáveis do presente. Há muito charme, bons ganchos, grooves e talento na construção de canções pop. Bem bacana). Club People

- Algiers: Shook (Com enorme eficiência sônica e poderoso discurso, o grupo novamente acerta em sua fórmula nada retrô de visitar elementos da soul music em seu rock certeiro. Aqui há ainda uma predileção para o industrial, dub e hip hop. Deste modo, a raiz negra do rock continua muito bem representada. Gosto da saturação dos timbres. Não me empolgo com tantas vinhetas. Vale ainda se atentar para a participação de nomes como Zack de la Rocha, billy woods e Backxwash). Cold World

- Alice Cooper: Road (Nem ia ouvir, mas li tantos elogios de diferentes fontes que decidi dar uma chance. Resultado: adorei. Tematicamente as canções podem ser uma bobajada, mas a performance da banda e do Alice Cooper (no auge de seus 75 anos) é primorosa. São canções de hard rock/rock n’ roll, baseadas nas guitarras, gerando riffs entusiasmantes em timbres enormes. Ao que consta, pra recriar o clima de estrada que o disco aborda, foi tudo gravado ao vivo em estúdio, com poucos overdubs. Pelo resultado orgânico e espontâneo, eu acredito. Se o som da tia Alice for sua praia, vale dar uma chance e se surpreender). White Line Frankenstein

- Altin Gün: Ask (Música psicodélica turca (?!) de encanto imediato. A coloração, a interação dos instrumentistas, o desenvolver das canções e, principalmente, a interpretação e melodias vocais, apontam o rock psicodélico numa direção agradável e cheia de personalidade. Há momentos guitarristicos espetaculares. Gravação cristalina). Leylim Ley

- Ana Frango Elétrico: Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua (Menos criativo que o álbum anterior e mais “pastiche”, esse disco aposta exitosamente numa fórmula de música brasileira que tem tudo para agradar gringos interessados em “brasilidades alternativas”. Há ecos de Gal Costa, Marcos Valle e Arthur Verocai. Nada mal. Fora que ela faz isso com mais carisma e humor, não tendo o ranço besta que muitos atribuem ao Bala Desejo. Canções divertidas, bons/cuidadosos arranjos (com direito a metais e cordas), boa gravação, certo “groove”… Ótima representante do pop nacional, embora ainda sem alcance para o rótulo). Nuvem Vermelha

- Angel Du$t: BRAND NEW SOUL (Quem gosta de Turnstile vai se divertir muito com esse disco, visto que ele faz aquela ponto entre o hardcore e o indie rock de forma exitosa e intensa. Muito bem executado e produzido. Para mim é o suficiente). Love Slam

- ANNA: Intentions (Jovem produtora/dj brasileira que vem ganhando destaque. Este álbum soa como uma música ambient para os mais dispersos. Digo isso porque há variações rápidas, que prendem o ouvinte no desenvolver das produções. Isso é muito. Gostei dos timbres, da construção do álbum, do resultado como um todo. Ambient bonito, acessível e climático). I See Miracles Everywhere

- Autopsy: Ashes, Organs, Blood and Crypts (Com mais de três décadas de carreira, é possível dizer que a banda vive seu melhor momento. A combinação de death metal com o doom metal (logo, ultra pesado, mas também cadenciado) gerou faixas monstruosas. Tem ótimos riffs, linhas de baixo criativas e performance vocal feroz. É mais que o suficiente). Well Of Entrails

- Avenged Sevenfold: Life Is But A Dream… (É verdade, é um disco esquisito, mas isso vindo de uma banda que nunca foi grande coisa, ao menos gerou algo diferenciado. Instrumentalmente parece o que aconteceria se o Metallica apostasse em canções menos convencionais e chamasse o Mike Patton e o Axl Rose (em seu momento atual) para dividir os vocais. Bizarro né? Achei divertido. Fora que tem ótimas guitarras, boa produção e influências improváveis (jazz, progressivo, canção popular americana). Confira por sua conta em risco). Game Over

- Banda de Pau e Corda: Entre a Flor e a Cruz (No auge da minha ignorância, assumo que não conhecia esse longínquo grupo, que neste disco que comemora seus 50 anos, traz a beleza, melancolia e erudição da música popular brasileira (nordestina), mantendo sua tradição composicional, somando a limpidez das gravações atuais. Disco lindo, que caminha entre o sagrado e o profano. Adorei ouvir com minha filhinha. Tem participação do Lenine, Fagner e Marcos Valle (mas também do detestável Padre Fábio de Melo). Belo). Entre a Flor e a Cruz

- bar italia: Tracey Denim (É possível acusar o grupo de apostar num som genérico de rock alternativo. Todavia, como as referências são boas - Cure, Stone Roses… - o resultado desce macio. Tem guitarrinhas irresistíveis, aura nebulosa, um certo charme de “novidade indie jovem”. Nada mais que isso. Provavelmente tudo que queriam ser mesmo). Nurse!

- Baroness: Stone (Vi uma galera batendo nesse disco, mas eu gostei bastante. Tudo bem, a “Choir” é arrastada mesmo, mas de resto, é um encontro do stoner com o rock progressivo dos bons. Lembra inclusive a fase em que o Mastodon tirou um pouco a mão, com a diferença que acho o Baroness se sai melhor na construção de faixas melódicas e mais acessíveis, sempre sem perder o peso. Inclusive, adorei as distorções aqui alcançadas. Recomendado para fãs de QOTSA que querem fugir do óbvio). Last World

- Batto: Batto (A tradição do punk rock nacional se mantém viva em bandas como essa, que problematizam o presente em meio a abordagem musical urgente. Guitarras altas, contestação e canções que transmitem energia. É o suficiente). Máscaras

- Beli Remour: Cantigas Para Não Cair No Ponto (Mixtape) (No por vezes previsível rap nacional, Beli Remour (e seus convidados) tencionam o gênero explorando diferentes cenários. Há flows consistentes e beats ora encorpados, ora abstratos, ora climáticos, ora explorando samples nacionais com inteligência (até mesmo ressignificando a matéria prima). Um passeio imperfeito, mas de admirável nuances). O Belo Violento (Sem Paciência Pra Televisão)

- Benefits: Nails (Um absurdo sônico, que funde pós-punk com rap, elevando a vitalidade de ambos os gêneros. Timbres corrosivos, letras politizadas e performances intensas constroem com urgência climática o álbum. Fodido). What More Do YouWant

- Bike: Arte Bruta (Ótima banda brasileira, antenada ao movimento do rock psicodélico mundial. Seu som tem tempero da psicodelia do oriente médio e do deserto africano, mas também do nordeste brasileiro, expondo uma tradição do gênero dentro do país, só que com roupagem contemporânea. Confesso que ao longo do disco achei o desenvolver um tanto quanto monocromático, mas tudo bem, isso também causa um efeito mântrico delirante bem-vindo. Ótima captação). Traço e Risco

- billy woods / Kenny Segal: Maps (Assumo que, para mim, é um pouco difícil adentrar o estilo do billy woods, ora mais falado que “musical” (ao menos na minha percepção). Por mais que eu tenha convicção de sua qualidade, é involuntariamente menos convidativo. Não posso dizer o mesmo do Kenny Segal, que aqui entrega mais um punhado de beats abstratos, instigantes e rico em texturas. Esse balança da parceria equilibra minha avaliação, sendo o saldo final positivo). Soundcheck

- Black Country, New Road: Live At Bush Hall (Ouvi antes da banda aterrizar no Brasil, justamente querendo entender como a banda soa no palco, ainda mais após a saída do Isaac Wood. Pensava ser mais explosivo. Não falo isso em tom de crítica. Na realidade não esperava a elegância e a delicadeza de algumas interpretações, que ao vivo soam ainda mais progressivas. Ótima execução e captação. Me deu muita vontade de assistir ao vivo, mas por motivos familiares não consegui). Up Song

- Blake Mills: Jelly Road (Embora seja um virtuoso da guitarra (“Skeleton Is Walking” talvez tenha meu solo predileto do ano), ele tem a inteligência de focar seu trabalho na composição, fazendo que todo seu conhecimento desencadeie em canções de luz própria. Fora que é tudo impecavelmente captado, gerando texturas complexas dentro de um universo bastante orgânico. Embaçado tá). Jelly Road

- Blockhead: The Aux (O já veterano produtor chama os camaradas (billy woods, Navy Blue, Quelle Chris, Aesop Rock, Open Mike Eagle, Armand Hammer, Danny Brown, dentre outros) pra confecção deste disco que, mesmo com mais de 50 minutos, flui liso. Não bastasse a versatilidade vinda com os diferentes rappers, a mesma característica se manifesta na criação dos beats, todos envolventes, timbristicamente contagiantes e ritmicamente criativos). Mastering How To Land

- Blue Lake: Sun Arcs (Através de um instrumento que fica entre o violão, a slide guitar, harpa e cítara, este instrumentista-compositor constrói cenários lindíssimos e sonhadores, que traduzem o som da paz entre as culturas de forma que somente a arte pode imaginar. Entre o drone, ambient e folk. Belo). Writing

- Blur: The Ballad Of Darren (Disquinho convidativo do Blur em pleno 2023 é uma tranquilidade para os ouvidos. Sem grandes experimentações (além do que já é comum ao grupo), mas boas canções, performances e arranjos. É o suficiente, nem vou divagar para não recorrer a exageros). Barbaric

- boygenius: the record (A estreia em disco do projeto envolvendo a Julien Baker, Phoebe Bridgers e Lucy Dacus. Embora não seja minha onda, gostei da guinada para o rock alternativo diante daquele sotaque "caipira" da canção norte-americana. A captação orgânica, o tom emotivo e a personalidade das três em bom entrosamento trazem encanto para a experiência auditiva). Satanist

- Burning Spear: No Destroyer (A lenda do reggae lançou um trabalho de inéditas após mais de uma década afastado das atividades artísticas. Talvez isso não seria o suficiente para ouvir, mas ele veio pro Brasil e fez um showzação. Tive que dar uma chance. E o disco é ótimo. É sua já conhecida fórmula de rastafari reggae em cima de uma produção atualizada, lapidada, cristalina e pulsante. Bem executado, boas canções… daqueles que desce macio). No Destroyer

- cabezadenego / Leyblack / Mbé: Mimosa (A parceria dos artistas gerou um dos álbuns mais esteticamente e tecnicamente avançados do funk (carioca). Eles buscam no terreiros a matéria prima para os ritmos eletrônico, corrosivo e dançante aqui presente. Muito bem produzido, resultado em sons estrondosos e boas texturas. É divertidíssima e, confesso, atrevida, a forma com que eles abordam temas gays. Fantástico. Ótima capa). Dfb

- Cavalera Conspiracy: Bestial Devastation / Morbid Visions (Os históricos trabalhos da fase inicial do Sepultura em novas versões pelos irmãos Cavalera. Carecia de uma gravação melhor mesmo, embora o charme (aka tosquidão) dos registros originais tenha seu valor. Ficou moderno, mas sem descaracterizar. As faixas são boas, sempre soube, de forma que a gravação e execução atual só elevou as qualidades. Não é todo mundo que acerta em releituras. Vale conferir). Morbid Visions

- Charlotte de Witte: Overdrive (EP com duas faixas em duas versões. A DJ/produtora numa poderosa amostra de música techno pulsante e pesada. Bate no peito, na cabeça, te tira da cadeira. Ótima mixagem). High Street

- Chief Xian aTunde Adjuah: Bark Out Thunder Roar Out Lightning (Esse talentoso jazzista deixa de lado seu trompete e pega um ngoni, instrumento de cordas de origem africana. Com ele, se entrega em canções quase ritualísticas, com muita alma na interpretação, mas também na confecção. Ritmos hipnóticos criam paisagens sônicas bastante próprias. Você certamente não ouvirá muitos discos parecidos com esse. Nem tão fácil, mas de muito valor agregado. A capa talvez seja a mais linda de 2023). Bark Out Thunder Roar Out Lightning (duo)

- Christone “Kingfish” Ingram: Live In London (Esse jovem guitarrista é tido como a nova revelação da guitarra blues. De fato ela sabe o que tá fazendo. Toca bem (com fluidez, técnica, bons improvisos, pegada), tira ótimo timbres, canta bem, as canções são boas… Tudo certo. É mais do mesmo? Eu acho. Ele quer ser diferente? Não parece. Só apostou numa linguagem e foi bem sucedido. No caso da guitarra blues e sua longa história, isso não é pouca coisa. Sem destaque, disco ao vivo pra ouvir inteiro tomando uma cerveja).

- Colin Stetson: When we were that what wept for the sea (Esse brilhante saxofonista, nem sempre de sons convidativos, aqui em um dos melhores discos de drone que ouvi nos últimos anos. Com saltos melódicos improváveis e uma captação reverberante, ele cria peças delirantes, que remetem ao jazz de vanguarda e a música minimalista. Inebriante). Long Before The Sky Open

- Covet: catharsis (Projeto da Yvette Young. Por ser a virtuose que é, me surpreendi positivamente com detalhes de texturas apontando para o shoegaze (vide "coronal"). Mas na realidade é um disco mais pra quem gosta da guitarra shred mesmo. E neste sentido, é dos melhores lançados nos últimos anos. Tem escorregadas, mas também momentos ambiciosos). merlin

- Cranial Crusher: Ciclo da Degradação (Banda da Região do ABC Paulista (onde moro), que investe no thrash metal old school com letras em português. Nada de novo, mas exitoso na proposta. Bons riffs, performance energética e uma jovialidade que tão bem faz ao gênero). Distopia

- Crypta: Shades Of Sorrow (E a evolução da banda se mantém presente neste disco não menos que acachapante. Cada riff e verso é elevado em sua violência via a performance impecável das quatro integrantes. A produção é moderna, mas sem soar artificial. Adorei o desenvolvimento das canções, pra não dizer do disco como um todo. Duvide do caráter de quem gosta de death metal e não curtiu esse disco). Dark Clouds

- Daniel Santiago & Pedro Martins: Movement (Dois dos mais talentosos guitarristas brasileiros (e do mundo) da atualidade num trabalho em conjunto. Aqui os sons acústicos estão mais próximos de uma linguagem contemporânea que da tradição brasileira, embora certo lirismo e arrojo harmônico tem raízes locais. Álbum intrincado e repleto de belas paisagens). Salamandra

- Derek: Trap The Fato Deluxe (Não sei se o repertório cai em qualidade ou o som empapuça, fato é que adorei as primeiras faixas do disco e depois senti que ele perdeu força. Por um motivo ou outro, 1h17min não ajuda. Dito isso, há produções consistentes dentro do trap brasileiro, além de uma versatilidade maluca de rappers (há muitas participações). Inclusive, é interessante perceber como esse estilo faz tanto sucesso com uma molecada mesmo sendo absurdo em flows e timbragens, o que mostra que essa geração tá de certa forma aberta a escolhas sonoras não convencionais. Até as letras, recheadas de obscenidades e drogas, são abordadas criativamente e humor. É legal). BLAH BLAH

- Dj Blakes: A Lenda (Putaria divertida em produções encorpadas e envolventes (com muita influência do techno). Dentro da proposta do funk, fez muito bem feito. Simples assim). Viagem Multiversal de Heliópolis

- DJ K: PANICO NO SUBMUNDO (Hypado pela Pitchfork, esse produtor de Diadema explode os falantes com suas produção (a.k.a. bruxaria) desequilibradas, que afundam as vozes sob graves densos, sirenes e tuins que agem na nosso peito, crânio e tímpanos. Uma abordagem experimental e esteticamente rica dentro de um gênero absurdamente popular. Dito isso, não é pra todo mundo. Digo isso mais pela produção violenta que pela obscenidade imoral tão comum ao funk, algo que honestamente não me incomoda). Isso Não É Um Teste

- DJ RaMeMes: Sem Limites (Com produções frenéticas, bem construídas, criativas e divertidas, esse DJ mostra todo o potencial do funk. Tem personalidade e é instigante. Simples assim). Sentando na Glock Rachada

- DJ Ramon Sucesso: Sexta dos Crias (Esse talentoso produtor/DJ fez um amontoado inebriante, trazendo todo o peso dos bailes funk para o disco. A gringaiada pirou (ao que consta foi lançado em vinil na Europa). Tem que pirar mesmo. É a música eletrônica em sua forma mais corrosiva, maluca, ruidosa, popular, dançante e estranha. Tem que escutar na sequência (embora eu destaque o Lado B, “Distorcendo a Realidade”), de preferência com os amigos(as), as gatas(os) e as drogas).

- DJ Renan Valle: AQUECIMENTOS DOS BAILE DO VALLE (A linguagem instrumental do funk carioca permeia esse disco carregado de ótimas produções, algumas delas aparentemente simples, outras completamente desconcertantes. Em todas há a tradição dos atabaques, aqui em linguagem eletrônica, fornecendo material para dança e alegria. Quer treinar seus passinhos? Bota esse disco de trilha). AQUECIMENTO - COMPLEXO DA MARÉ

- DJ WS da Igrejinha: Caça Fantasma, Vol.1 (No começo não tava me empolgando, mas entrou uma sequência de faixas de carisma próprio, interpretada por diferentes MC’s e conduzidas brilhantemente pelas montagens do WS, sempre minimalista e repleta de espaço. Adoro como seus beats exploram o limite das tessituras, jogando para escanteio todas as frequências de meio de campo. Disco envolvente). Colecionador

- Do Amor: Problemão (Aquela “nova” MPB classe média, divertidinha e com elementos psicodélicos. Se nessa exposição eu aparento rancor, na audição me deixo levar pela maneira leve de tencionar a canção popular, tanto na poética quanto, principalmente, na sonoridade. É bacana). Nossa Bossa

- d.silvestre: ESPANTA GRINGO (Espanta gringo e brasileiro, visto que, embora o funk seja um gênero de massa, aqui o ele toma sua forma mais eletrônica, corrosiva, barulhenta e industrial. Mandelão do inferno. Eu gosto, você eu já não sei). Set Estragado 1.0

- E A Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante (EP direito ao ponto, tanto em duração, quanto no direcionamento da banda, que embora ainda trafegue por viagens instrumentais típicas do post-rock, parece mais enxuto, apostando na boa performance da banda. Tem boas texturas, momentos com certa quebradeira rítmica e composições que evoluem de forma fluida. Agradável e instigante). Infamiliar

- Earl Sweatshirt / The Alchemist: VOIR DIRE (Será que é mais difícil criar beats para o Sweatshirt ou encaixar o flow nos beats do Alchemist? Fato é que eles se combinam. Em ambos há um estilo “ébrio”, meio desajustado, que decola derrapando, que toma rumo inesperado e no fim dá certo. Essa é a sensação ao ouvir o disco, o que não deixa de ser positivo). 27 Braids

- Ed Motta: Behind The Tea Chronicles (Ed Motta parece cada vez mais predestinado a ser o “Donald Fagen brasileiro” (rótulo simplório, mas que acredito que ele não se importaria). As canções têm caminhos harmônicos complexos e ainda melhor resolvidos que nos dois trabalhos anteriores (ambos já dentro dessa estética AOR). Artista em constante evolução é isso. Apesar disso, há groove e leveza “imaginativa” no fluxo das composições. Tudo esmeradamente arranjado, executado e captado. Para quem se interessa por guitarra (meu caso), acredite, não lembro de discos deste ano melhor no quesito 6 cordas. Como sempre, muito acima da média). Quatermass Has Told Us

- Elanora Strino: I Got Strings (Uma nova revelação da guitarra jazz, vinda diretamente da Itália. Tremenda guitarrista, com timbre limpo e fluidez no improviso impressionante. Dá pra sentir sua liberdade ao tocar. Sonoridade clássica/compacta de jazz que muito me agrada. Só não precisa dessa regravação de “Somewhere Over The Rainbow”). I Got Rhythm

- Electric Mob: 2 Make U Cry & Dance (Qualquer disco deve ser analisado levando em conta a pretensão do artista. E aqui eu já sabia da proposta hard rock feita por essa banda curitibana, sendo que achei o disco muito melhor resolvido que tantos outros grupos internacionais que apostam no gênero. Tem bons riffs, ganchos e carisma. Isso quer dizer que todas as canções são ótimas? Claro que não. Inclusive, vale dizer também que achei a master muito comprimida (normal, todo mundo tem feito isso nesse segmento) e que é impossível não achar caricata/exagerada algumas melodias e interpretações. Ao menos é divertido, não constrangedor. Para quem gosta de hard 80’s é prato cheio). Locked n Loaded

- El Michels Affair & Black Thought: Glorious Game (Honestamente não conhecia o grupo El Michels Affair, mas em compensação tenho gostado cada vez mais do Black Thought. Seu estilo de rimar é tranquilamente incisivo. Aqui temos seu flow metodicamente veloz e inspirado acompanhado por grooves orgânicos e aconchegantes. É o tipo de sonoridade de hip hop que agrada em qualquer situação). That Girl

- Enola Gay: Casement (Os algoritmos do Spotify (as vezes funciona) me jogaram pra esse EP. Gostei da primeira música, gostei da capa, fui ouvindo. Disco tão denso quanto “dançante”. Um pós-punk encorpado e criativo. Bem legal, só não me pergunte nada sobre quem são porque não pesquisei). terra firma

- Everything But The Girl: Fuse (Em seu primeiro álbum neste milênio, o mitológico duo demonstrou que não voltaram por oportunismo, eles têm algo a dizer. É um disco elegante, melodioso, cristalino e emotivo. Adoro como as produções trazem o já conhecido elemento eletrônico de pista em cima de canções arrojadas que poderiam muito bem serem do Tears For Fears. A voz da Tracey Thorn está incrível. Soberbo). Run A Red Light

- FBC: O AMOR, O PERDÃO E A TECNOLOGIA IRÃO NOS LEVAR PARA OUTRO PLANETA (Não que eu desconfie do seu talento - ainda mais nessa altura do campeonato -, mas me surpreendo como ele se tornou um dos grandes nomes do pop brasileiro contemporâneo, sendo que aqui ele tá mais pop do que nunca. Lembra quando nomes como Lulu Santos e Fernanda Breu flertavam com o funk carioca? Pois então, aqui parece que a roda girou ao contrário e, ao menos na minha visão, o resultado foi muito mais interessante (além de genuíno). Boas canções e produção). ESTANTE DE LIVROS

- feeble little horse: Girl with Fish (Por alguns reviews, pensei estar diante de um clássico do shoegaze. Não é pra tanto, mas é um trabalho inspirado, que transporta as nuvens de guitarra do gênero para o presente. Não li sobre questões técnicas, mas as microfonias e distorções parecem vir de amplificadores virtuais, o que não deixa de ser interessante. Algo que não fez tanto a minha cabeça é a interpretação da cantora, que remete aquela onda bedroom pop. Disco curtinho, capaz de melhorar o dia). Steamroller

- Fever Ray: Radical Romantics (Karin Dreijer reaparece em nova mutação, tencionando discussões sobre sexo e gênero, amparada por batidas, texturas e melodias tão provocativas quanto envolventes. Mesmo nas canções menores, há sempre algum elemento atrativo. É a pop art exitosa em conceito e sonoridade). Carbon Dioxide

- Fire-Toolz: I am upset because I see something that is not there. (Apostando não somente na estranheza, mas também na eficiência musical, mais uma vez esse projeto brilha ao apresentar um cruzamento improvável de AOR com black metal (com elementos de jazz, prog, vaporwave e música eletrônica). Há boas melodias (algumas até mesmo cafonas) guiadas por vozes berradas. É como uma ranhura numa linda tela. Embora muito bem tocado (ou programado?), senti falta de uma sonoridade mais orgânica, embora entenda a limitação financeira para alcançar essa especificidade. Mas imaginem se Toto servisse de banda de apoio pra esse projeto. Ah, inclusive tem ótimas guitarras. Rico e inusitado). It Is Happening Again

- Foo Fighters: But Here We Are (É natural que, diante das perdas envolto ao Foo Fighters (do Taylor Hawkins e da mãe do Dave Grohl), tanto o grupo quanto o público se sensibilize no disco. O resultado é um dos trabalhos mais emotivos e vulneráveis da banda, que às vezes parece enganar sonoramente através de rocks diretos - o que atenuam qualquer traço de melodrama óbvio e besta -, mas que ora ou outra se deixa levar pela emoção. Musicalmente, há algo de ambicioso ao trazer elementos de shoegaze e emo noventista (principalmente nas duas faixas finais). Só a master que poderia ser menos comprimida, né. Melhor disco do grupo em tempos). But Here We Are

- FOSCO: DEMO 2023 (5 musiquinhas. Não se deixe levar pelo “Demo”, visto que até que é bem gravado (cru e potente). Metalcore brasileiro direito ao ponto. Socão angustiante). SECAS, MORTAS

- Froid / Ecologyk: OgEMr (A parceria do trapper com o produtor deu caldo, gerando um dos discos mais ganchudos do gênero feitos no país. Há esmero na produção. E por mais que as letras não sejam feitas para mim, entendo e admiro o resultado alcançado aqui. 8 faixas, 24 minutos, na medida. No carro, devagar, sexta a noite, com o grave equilibrado… funciona demais). PRODUTO CARO

- Frost Children: Speed Run (Me surpreendi com esse hyperpop quase bubblegum do duo. As faixas são muito ganchudas e bem produzidas. Confesso que não é o tipo de som que vou pegar pra ouvir em casa, mas ficaria feliz de chegar em algum lugar e estar tocando. Na academia teria moral de por. É o eletrônico tonto que funciona). FLATLINE

- Frost Children: Hearth Room (Segundo álbum do ano do duo, esse mais “rockeiro”, remetendo aos sons alternativos feitos lá por 1998. As composições são bacanas e trazem elementos de arranjos/timbres pouco ortodoxos, o que dá diferencial e colorido à proposta do grupo. Não amei, mas me interessei). Stare At The Sun

- Fucked Up: One Day (Se por vezes a banda se perde em seu art-punk grandiloquente, aqui senti uniformidade nas composições, que alcançam peso, intensidade e bons ganchos. Gosto da evolução do disco, da interpretação de beberrão do vocalista, das melodias, dos arranjos… É bem bom). I Think I Might Be Weird

- Full Of Hell / Nothing: When No Birds Sang (Confesso que muitas vezes não tenho saco para essas parcerias do Full Of Hell (seja com o The Body ou Merzbow), mas aqui acho que deu muito caldo. Disco pesadíssimo, com direito a talvez melhor produção dentro do metal neste ano. As composições e performances não deixam a desejar, despejando uma massa distorcida impressionante, berrada/socada por artistas do ódio. No meio desse metal extremo, o elemento shoegaze dá as caras. Nem todos os ouvidos estão preparados para isso). Rose Tinted World

- Gabriel Milliet: UM (Conhecia o Gabriel Milliet apenas pelo nome nas fichas técnicas de artistas nacionais contemporâneos (O Terno, Sessa, Luiza Lian). Em seu trabalho autoral, fica nítido seu talento. Tem muito daquela aura existencialista do Tim Bernardes, embora aqui me soe mais singelo e menos pretensioso. As canções tem uma sonoridade de “MPB-pop-rock” setentista que muito me agrada. Bons arranjos, boas melodias, bela captação. Gostei). Silêncio Brutal

- George Clanton: Ooh Rap I Ya (Eu adoro essa estética do George Clanton em que ele transpõe para a contemporaneidade a aura dos anos 1990, percorrendo pelo enormidade do shoegaze, o balanço dance de madchester, o faro para canções do britpop e o desprendimento com o blues do rock alternativo. Apesar de todo esse revival, em sonoridade, é muito atual. Toda essa massaroca não importaria se no momento de compor ele não tivesse personalidade, possibilitando a criação de faixas ganchudas). Justify Your Life

- Giallos: Atravessou o Ebó (Diretamente da região em que moro (ABC Paulista), a banda brasileira que melhor comunica com o cenário punk atual. Quem gosta de Viagra Boys tem tudo pra adorar, sendo que aqui o sax é trocado por trombone. Somado ao som do sopro, há referência de blues nas composições, assim como de spoken word, trazendo ao disco uma atmosfera art punk tão torta quanto atraente. Muito bem escrito. Gosto da crueza da produção). O Futuro Pertencia à Jovem Guarda

- Greta Van Fleet: Starcatcher (Seria mais fácil vir aqui e falar que esse disco é uma porcaria, mas confesso que achei bacana algumas (a maioria) das músicas. Claro, não existe milagre, principalmente quando se trata desse vocalista, um dos piores da história do rock. Todavia, ele só atrapalha nos momentos mais espalhafatosos. Mas ele tá mais contido e suas afetações foram atenuadas por um reverb que distância seu timbre na mixagem. Que solução inteligente! Já instrumentalmente, dentro da estética "classic rock", eles melhoraram muito. Tem ótimas guitarras e um direcionamento mais “acústico” e “climático” que tira (um pouco) aquele ranço de rock pastiche. Talvez por não dar nada pra banda, fiquei surpreso). The Archer

- Hamilton de Holanda: Samurai - A Música de Djavan (Muito se falou sobre o disco do Xande de Pilares cantando Caetano Veloso, mas em termos de regravações do repertório de algum bastião da MPB, fico com esse disco. O Hamilton é um instrumentista absurdo, que ao explorar a eficiência composicional do Djavan (cada melodia memorável, cada harmonia elegante, cada canção ACESSÍVEL), resultou em versões primorosas. Zeca Pagodinho, Jorge Drexler, Gloria Groove, além do próprio Djavan, colaboraram com o trabalho. Belíssimo). Faltando Um Pedaço

- HMLTD: The Worm (Pode ser um mero problema de memória, visto que não acompanho de maneira tão próxima o grupo, mas não lembrava que havia um elemento tão forte de rock progressivo no som deles. Vale dizer, é um progressivo contemporâneo, que abraça o que há de mais inventivo no indie, além de pitadas de pós-punk e glam rock (isso já havia antes, eu lembro). Gostei do disco, achei criativo e até mesmo ousado em alguns momentos. É uma ópera rock moderna). Wyrmlands

- Horrendous: Ontological Mysterium (É um disco de certa forma surpreendente. Digo isso pois ele transita com grande liberdade pelo technical death metal, thrash metal, classic rock e rock progressivo. Tem ótimos riffs, um baixista que não economiza nota e uma certa performance teatral. Brutalmente curioso). The Death Knell Ringeth

- Ian Ramil: Tetein (É o disco “paternidade” do artista, deste modo é também dos mais doces, embora ainda esteja presente a não ortodoxia composicional dentro de um universo pop rock mpb. É bacana). Lego efeito manada

- Iggy Pop: EVERY LOSER (Não espere nada tão memorável. Apenas se permita curtir o velho Iggy Pop muito bem acompanhado (Andrew Watt, Chad Smith, Taylor Hawkins, dentre outros) num disco que intercala faixas mais punks, com outras mais tipicamente "Iggy Pop sendo o crooner do rock". Adoro seu vozeirão atual. Uma felicidade ter sido o primeiro disco de 2023 que ouvi). All The Way Down

- Incendiary: Change The Way You Think About Pain (É o hardcore de NY transportado para uma produção moderna (pesada, cristalina, mas reservando certa organicidade), com muito do thrash metal inserido nas composições. Tem cada riff brutalmente. O vocal ao mesmo tempo que remete ao Agnostic Front, também tem aquela ginga mais classuda de Zack De La Rocha. Bem legal. Perfeito pra ouvir na academia é recomendado). Collision

- Inês É Morta: Ilha (Com influência explícita no pós-punk (inclusive o brasileiro), essa banda faz de suas canções uma plataforma para viagens densas, repletas de guitarras, baixos e baterias tão duro quanto contagiantes. Cru, sombrio e voraz. Eu embarquei). Vida em Paranoia

- Israel Nash: Ozarker (Sabe aquela música americana que fica entre o classic rock e a música country? Pois então, aqui ela é explorada com excelência, seja pelas composições memoráveis, seja pelas ótimas passagens de guitarra. Recomendado tanto para fãs de Tom Petty quanto de The War On Drugs). Ozarker

- IZA: AFRODHIT (Os rumos da carreira da Iza me pareciam pouco atrativos, com ela abrindo mão da musicalidade com o intuito de virar “artista”, mulher da Globo, da publicidade. Todavia, dona de talento nato, alcançou bom resultado neste disco. As produções são boas, há arranjos detalhados, composições pop que não se rendem ao óbvio (as letras tem até um diferencial num mundo de “senta” e “quica”, mesmo não deixando de abordar o sexo), além de ter uma sua voz cheia de personalidade, convicção e afinação (nem tão comum nesse meio). O repertório explicita sua versatilidade interpretativa. MC Carol, Russo Passapusso e Djonga somam no resultado final). Uma Vida É Pouco Pra Te Amar

- Jaimie Branch: Fly Or Die Fly Or Die Fly Or Die (Disco póstumo desta jovem trompetista. O fim também de uma trilogia. Aqui o jazz é encarado de forma intensa, onde o que vale é espontaneidade visceral da performance. Isso percorrendo por caminhos viajantes, quase como um “Hawkwind do jazz”. É de se louvar). baba louie

- James Blake: Playing Robots Into Heaven (Em tempos onde a música eletrônica recorre a banalidade de beats explosivos e refrões fáceis, é sempre admirável a incursão do James Blake por uma proposta melodicamente ganchuda/acessível, sem abrir mão de produções cheias de climas, texturas e boas harmonias. Ele sabe aplicar todo esse aparato (conhecimento) sônico em boas canções. Isso não é pouca coisa). Tell Me

- Janelle Monáe: The Age Of Pleasure (Se percebe que uma artista é diferenciada quando ela mistura todas as tendências do pop contemporâneo (r&b, trap e reggaeton) e continua soando com luz própria. Gostei do cuidado com a produção e os arranjos. Seu canto é sempre acima da média. O teor libidinoso também funciona). Only Have Eyes 42

- Jane Remover: Census Designated (A proposta de trazer a barulheira típica do shoegaze para canções de abordagem pop (bedroom pop) muito me agrada. Mas calma, saiba que isso é feito com certa saturação digital que tende a incomodar os apreciadores do estilo noventista. Dito isso, as canções são bem bacanas, evoluindo em dinâmica, texturas e melodias. Obs: sabe quem eu imaginei fazendo um som parecido com esse no futuro? O Lucas da Fresno). Fling

- Jards Macalé: Coração Bifurcado (Há de se reconhecer quando vemos um artista veterano como o Macalé soando genuinamente contemporâneo. Suas composições e canto cheios de personalidade trafegam por diferentes sonoridades, ora mais ríspida e rockeira, ora em arranjos elegantes. Em comum em ambos os momentos, seu talento. Há momentos bem dramáticos/climáticos, o que acentua o teor “amoroso” do disco. Pra variar, Gui Held quebra tudo). Pra Um Novo Amor Chegar

- Jared James Nichols: Jared James Nichols (Guitarras altas em riffs e solos nervosos, bateria com som de sala, voz rockeira "máscula"... é aquele rock genuíno com zero novidades, mas em boas composições e performances melhores ainda. Curioso perceber a influência tanto do hard 70's quanto 80's). Hard Wired

- Jason Isbell and the 400 Unit: Weathervanes (É “coisa de americano”? Claro que é. Mas no meio de toda a caipirice, há ótimas performances (ele é um ótimo guitarrista, atenção para os solos), timbres orgânicos/rockeiros que tanto adoro e, até mesmo, canções memoráveis que destoam do universo country contemporâneo, sendo algumas até mesmo de tom confessional. Belo trabalho). King Of Oklahoma

- Jerome Dream: The Gray In Between (Grupo já veterano de screamo, aqui se apoderando de elementos de noise rock e grindcore pra engrossar o caldo. O resultado é um disco furioso em performance e produção. Cacetada). Pines On The Hill

- Joe Bonamassa: Blues Deluxe Vol.2 (O exímio guitarrista e fraco compositor se concentra num repertório de pérolas do blues, monta uma bandaça, extrai ótimos timbres de todos e, como de costume, faz a guitarra falar alto, com técnica e emoção. Pastiche? Sim, mas com conhecimento de causa). Hope You Realize It (Goodbye Again)

- Jonathan Ferr: Liberdade (Um legítimo disco pop antenado a referências mundiais. Produção espetacular, arranjos cuidadosos e escolhas harmônicas inteligentes já na composição. Adoro o direcionamento de todas as faixas? Não. Acho que tem um ranço “classe média” que, por culpa minha, não consigo desassociar de algumas sonoridades (groove-brasil-rap-pop). Todavia, ainda que com meu pé atrás, não consegui ignorar a destreza). Lá Fora

- Jongo do Vale do Café: Jongo do Vale do Café (Num país tão sem memória, é de se valorizar a documentação feita em discos como esse, que registra o canto de dois quilombos centenários - Vale do Café e Jongo do Pinheiral -, isso com captação de crueza cristalina. Há muito o que se aprender com os ritmos, textos e interpretações aqui presentes. São 27 músicas que não ouvirei a todo momento, mas que fico feliz em ter disponível. Linda capa. Sem destaque).

- Jovens Ateus: Jovens Ateus (EP, 6 músicas, com direito a boa versão pra “Igreja” dos Titãs. E do que se trata a banda? Um simulacro de Joy Division, mas com a profundeza mórbida quase do black metal. Batidas eletrônicas, baixo cavernoso, é o suficiente. Renato Russo ficaria com inveja. É bacana). quien eres

- JPEGMAFIA / Danny Brown: SCARING THE HOES (Uma parceria de causar expectativa imediata, visto que são os rappers mais criativos da última década. Essa combinação gerou o esperado estrondo de produções tão enigmáticas quanto ganchudas, além de uma capacidade singular de rimar. Nada é ortodoxo. Especial e divertido. Até a capa é sensacional. Pra deixar um critiva: queria que fosse mais enxuto). Jack Harlow Combo Meal

- JPEGMAFIA / Danny Brown: SCARING THE HOES: DLC PACK (Esse EP são sobras do disco? Provavelmente, embora pelas músicas em si isso não se confirme, já que seguem o mesmo nível do disco. Que duplinha hein!). NO! NO! NO!..

- Kali Uchis: Red Moon In Venus (Colocando na mesa toda sua feminilidade - com suas paixões, vulnerabilidades e perspicácias -, mais uma vez a cantora entrega um disco redondíssimo de r&b, indiscutivelmente contemporâneo, mas com ecos do passado como poucos artistas do gênero na atualidade conseguem. Sua voz está bela, há aconchegantes melodias, timbres orgânicos/reverberosos deliciosos e aquele clima “triste e com tesão” que só quem é maluco não embarca). Moonlight

- Katy da Voz e as abusadas: Prostitutions (Uma estética doida, a começar pela capa. Depois nos vemos diante de alguns dos timbres mais saturados/corrosivos do ano independente do gênero musical. E pra completar, o funk e o eletrônico se unem em canções afrontosas, que falam o que artistas mainstream de funk ficam contornando, mas não tem coragem de dizer (viu, Anitta, Sonza… chega de “sentar, bumbum”). Não necessariamente “bom” (seja lá o que bom em quê), mas certamente poderoso (e engraçado, confesso)). Rola Grossa, Que Gostosa!

- Kelela: Raven (Dona de uma voz poderosa, a cantora traz profundidade pra dance music, explorando seus sentimentos em cima de batidas de house. A produção é robusta e o desenvolvimento do disco é altamente climático. Mantém aquele “elemento Björk da primeira fase” que ela já apresentou anteriormente. Imersivo). Let It Go

- Kesha: Gag Order (Olha, não que eu tenha adorado e não perceba alguns equívocos de repertório, mas os acertos saltaram aos meus ouvidos, a começar pelo direcionamento nem pop, nem rock, mas de cantora-compositora, que passa por seus dramas com maturidade. Existe uma tendência de outroras cantoras teen se repaginarem forçando a barra (Lady Gaga, Demi Lovato, Miley Cyrus e até mesmo a Luisa Sonza), mas Kesha soou mais genuína, talentosa e sofisticada, até mesmo ao optar por interpretações vocais mais contidas. Algumas canções são climáticas e de instrumental ousado. O direcionamento do Rick Rubin deve ter ajudado. Não é uma evolução a se ignorar. Grata surpresa). The Drama

- Key Glock: Glockoma 2 DELUXE (Trap sulista que, a cada início de faixa, te joga pra trás através de beats altamente pulsantes e estrondosos. Ouvir sem bater a cabeça é quase impossível. O rapper, dentro do gênero, também se mostra com enorme desenvoltura. Acachapante). Let’s Go

- Killer Mike: MICHAEL (Uma pausa no Run The Jewels e uma retomada na sua prestigiada carreira solo. Com isso, o resultado pode até soar frustrante, mas ainda assim é um belo apanhado de pop-rap, com referências de trap, rap 00’s e flow consistente de um “rapper de verdade”. Tem pontos fracos, mas no geral é positivo. CeeLo Green, Young Thug e André 3000 são alguns dos nomes que dão as caras). SHED TEARS

- King Gizzard & The Lizard Wizard: PetroDragonic Apocalypse (Adoro essa faceta heavy metal do King Gizzard, aqui em sua segunda amostra de eficiência. Dos temas distópicos, passando pelos riffs de thrash metal, baterias à la speed metal, os timbres ferozmente orgânicos… acho tudo intenso e divertido. E olha que há canções bem longas, o que imediatamente me remeteu ao que o Metallica poderia estar fazendo. Dos melhores da banda. Metal não sisudo é que o há de mais legal no rock). Supercell

- King Gizzard & The Lizard Wizard: The Silver Cord (Confesso que inicialmente fiquei bastante frustrado com esse disco. É que esperava algo mais experimental de um trabalho do grupo calcado por sintetizadores. Felizmente, sua segunda parte, apenas com canções em sua forma estendida (“Extended Mix”) trouxe aquele elemento delirante, repetitivo e repleto de texturas espaciais típicas do krautrock. E aí as canções funcionaram, destameinpalando com eficiência surpreendente. Se for pra eu dar uma sugestão é pule a primeira parte). Extinction - Extended Mix

- King Krule: Space Heavy (Não foi um disco que bateu de cara. Tendo o outrora jovem King Krule amadurecido, seu som se transformou, perdendo a urgência e estranheza sônica, elevando o potencial lírico, que passa por dilemas não de um rockstar, mas de um recém pai num mundo desgraçado. Até mesmo sua interpretação está sóbria. Entretanto, claro, alguns caminhos harmônicos, arranjos e atmosferas também não são propriamente convencionais. Virou um slowcore jazzy. Separe um tempo pra ouvir, vale a dedicação). Empty Stomach Space Cadet

- Kova Räza: Desfrutando o Apocalipse (“Thrash metal”/punk rock instrumentalmente trabalhado e de textos engajados. Isso num EPzinho de 4 músicas e pouco mais de 7 minutos. Bem captado e executado. Feroz). Redpilado

- Kyan & Mu540: UM Quebrada Inteligente (Se as letras do funk e drill que objetificam as mulheres não forem um problema pra você (e entendo quem não curte), aqui encontrará o que há de melhor em termos de produção, beat e ganchos nos gêneros. O Mu540 sabe o que faz. É pancada e dançante. Na medida (7 faixas, 18 minutos)). tipo, sonho de consumo!

- Kurt Sutil: Me Pergunte Como Foi Meu Dia (Tão acostumado com a evolução do trap nacional, me surpreendo o aspecto mais “tradicional” desse rapper ao rimar, enfileirando frases e rimas com enorme capacidade técnica. Também oposto ao trap, a produção é mais direta, com menos camadas, o que traz um certa dureza que muito gosto. Mas não se engane, o resultado, independente de tudo isso, é alinhado à contemporaneidade. Imperfeito e cheio de vida). Flow de Quem?

- Lana Del Rey: Did You Know That There’s A Tunnel Under Ocean Blvd (Todo mundo sabe que a Lana evoluiu muito enquanto cantora e compositora, algo que mais uma vez fica nítido neste disco, dono de algumas de suas melhores performances. Há uma real entrega emotiva. A captação orgânica e reverberosa é magnífica. Os arranjos são singelamente exuberantes (e mais chamber pop do que nunca). Neste sentido, as mãos do Jack Antonoff fizeram a diferença. Agora, um “problema” se dá na forma em que algumas canções demoram para evoluir, de modo que me senti até imediatista escutando o disco. Às vezes o erro tá em mim mesmo. Disco surpreendente se pensarmos que ela é uma das artistas mais populares da atualidade. Obs: de tão linda, teria a capa na parede da minha sala). Sweet

- Lankum: False Lankum (Grupo muito interessante que, confesso, ainda não havia dado a devida atenção. Eles trazem com inteligência a música tradicional folk irlandesa para contemporaneidade, em muito momentos soando extremamente denso, quase como um Swans folk. É climático, profundo, além de rico em texturas e composição. Para ouvir com calma, no pôr do sol, sozinho. Obs: se botar triângulo e zabumba em “Master Crowley’s”, tá feito o forró). Newcastle

- Lasso: Ordem Imaginada (7 faixas desgovernadas em menos de 10 minutos. Tudo executado feito maníacos do hardcore torto. Cru e voraz. É disso que gostamos). Animal Insignificante

- Laufey: Bewitched (Digamos assim: é um jazz para tiktokers. Na real, tá mais para o tradicional cancioneiro americano, aquele do cinema da década de 40’s e 50’s, do que exatamente jazz. Tem até bossinhas no meio também (“Haunted”, “From The Start”). Dito isso, é pastiche? Claro que é. Mas é agradável, bonito (desenvolvimento melódico e harmônico perfeitos), cristalino (tremenda captação) e tem potencial de chamar um novo público para uma sonoridade que tende a ser esquecida. Isso não é pouca coisa. Ah, sobre a moça em si, achei sua voz ótima). While You Were Sleeping

- Lessa Gustavo: Almojanta (O hip hop abstrato tanto nas produções do Leo Machion quanto, principalmente, no lirismo do rapper, por vezes de flow propositadamente "travado". Tem personalidade. Acho criativo e instigante). Após

- Lessa Gustavo x Ciano: MOJICA (De cara adorei o nome e a capa. Todavia, ao ser abstrato dos beats às rimas, esse disco se revela um dos mais interessantes do hip hop nacional em 2023. Seu fluxo de consciência é um passeio imaginativo. Isso é acompanhado por um flow peculiar). Goteira

- Leves Passos: Jamais Visto (Estreia deste duo que nada conhecia. Deste modo, vi de maneira ambígua o resultado alcançado pelo grupo. É que embora instrumentalmente seja bastante arrojado e rico em texturas, me agradando a fusão de post-rock, Radiohead, Four Tet e sei lá mais o quê, confesso que liricamente e interpretativamente há uma proposta delirante que me lembra mais Natiruts que rock progressivo (que beira em alguns momentos). Dito isso, como saldo final, fica a beleza intrigante e nem sempre certeira das canções. Tá tudo certo, imperfeições deles e incompreensões minhas também são positivas). Atrás dos Olhos

- Lil Uzi Vert: Pink Tape (Esse disco recebeu críticas negativas, mas honestamente acho as canções do rapper muito mais atraentes que de outros trappers aclamados. Ele tem carisma, atitude rocker (que se manifesta no som, com direito a momentos pesados/distorcidos) e é versátil nas produções, o que possibilita que o disco soe interessante mesmo tendo longa duração. Fora que o álbum é rico em produção, explorando timbres, texturas, batidas e arranjos com criatividade ganchuda. Eu gosto. Obs: Sobre “CS”, a versão para Chop Suey do SOAD, ainda não tenho opinião formada, embora tenha achado engraçado). Amped

- Lil Yachty: Let’s Start Here. (Não é nenhuma grande novidade a incursão de rappers por sons (rock) psicodélicos. Ainda assim, o resultado alcançado pelo Lil Yachty é tão exitoso que surpreende. Isso passa por suas interpretações, pela maravilhosa produção (ora densa, ora ruidosa, ora “tridimensional”) e, mais precisamente, pelas boas composições, que buscam no r&b contemporâneo e trip hop algum chão em meio a viagem sônica. Eu adorei. Vale dizer que o Justin Raisen tem grande parcela de mérito no resultado. Tudo que o Tame Impala gostaria de fazer atualmente (humor com fundo de verdade)). IVY OFFICIALLY LOST VISION!!!!

- Liturgy: 93696 (Um dos projetos mais ambiciosos do heavy metal em mais um disco… ambicioso. Através da sua conhecida fusão de metal extremo à elementos eruditos, há uma guinada sonora ao metal progressivo, fato que me interessa menos. Mas isso é apenas uma pequena crítica diante da complexa amálgama produzida ao longo de 1h22m. Disco difícil). Heelegen II

- Llewelyn: Disposable Culture (Ouvi esse EP por acaso e adorei. Parece uma evolução do screamo, trazendo mais a fúria do hardcore, embora imprimido certa amargura interpretativa. As canções são boas, a interpretação é carregada de energia e a produção ressalta as qualidades. Pra ficar de olho).

- Lonnie Holley: Oh Me Oh My (Não conhecia o veterano artista, mas logo na primeira ouvida entendi os elogios a esse disco. É um trabalho altamente climático e emotivo, onde canções “soul” tomam um caminho quase de drones. Isso em arranjos refinados e produção orgânica enorme. As interpretações - do Lonnie, mas também da Sharon Van Etten, Moor Mother, Bon Iver, Michael Stipe e Jeff Parker - merecem todos os elogios. Um álbum por vezes denso, mas sempre repleto de alma). None Of Us Have A But A Little While

- lotico: Oran (Álbum de estreia deste grupo brasileiro de post-metal. Riffs poderosos e gravações de sonoridade enorme em prol de canções com aura violenta e desiludida. Simples assim). Indulgência

- Maciel Salú: Ogum (Aqui o artista traz a tradição do maracatu e ciranda para um formato quase rockeiro, com excelentes guitarras dialogando com a rabeca. É ritmicamente muito instigante e divertido. O resultado são canções genuinamente fortes. EP fantástico já desde a capa). Ciranda da Saudade

- Malditos Jovens do Reggae: Eu Quero Ser Preso na Coréia do Norte (6 faixas, 14 minutos. Uma porralouquice meio jazzy, totalmente hardcore. Acho divertido, afrontoso e intenso. Pra mim é o suficiente. Execução e captação toscona. O Mozine podia ter lançado). Tossë

- Marabu: DIMALOKA, Vol.1: Denso (Um dos melhores trabalhos do rap nacional deste ano. Isso porque além do rapper ter maturidade e excelência ao escrever e cantar, as produções são muito bem resolvidas e versáteis, trazendo elementos de trap, funk e, até mesmo, raízes africanas. Tudo de forma genuína e lapidada). algo me diz

- Marcelo D2: IBORU (Não é se hoje que o Marcelo D2 trata de imprimir sua visão ao samba. E exitoso ou não, ele sempre demonstrou genuinidade nisso. Para mim, aqui está o seu melhor momento dentro dessa abordagem. Boas letras, um conhecimento de causa (e capacidade de emulação) do samba tradicional, ótimos arranjos, execução ultra competente, excelente mixagem e, como diferencial, o uso de alguns timbres eletrônicos dando peso, contemporaneidade e fundição do gênero ao hip hop (de forma pontual e inteligente). Zeca Pagodinho, Alcione, Mateus Aleluia, BNegão, Metá Metá e Xande de Pilares participam do disco). KALUNDU.

- Matana Roberts: Coin Coin Chapter Five: In The Garden… (Não vou omitir que há certa dificuldade em adentrar o trabalho hermético desta artística, que passeia por nuances do jazz de maneira fluida e livre, gerando climas, texturas e dinâmicas belissimamente abstratas. Há passagens dissonantes e virtuosas impecavelmente executadas e captadas. Isso tudo é acompanhado por poesias que, devo confessar, acabo ignorando em sua maior parte, embora capte seu valor ao abordar questão como a saúde da mulher, aborto, preservação e racismo. Disco forte). predestined confessions

- Mateus Fazeno Rock: Jesus Ñ Voltará (Disco de muitas nuances, nem todas positivas. Tem algo que me remete ao pop rock da virada do milênio, que se apropria de tudo sem ser nada. Mas aqui, acho que corre o risco de soar menos datado. Parece mais verdadeiro e melhor produzido. Ambas características de uma geração mais sábia em suas escolhas estéticas. Uma fusão brasileira, contemporânea e jovem de pop rock, rap e funk (“o carioca”). Ouça por sua conta em risco). Pose de Malandro / Me Querem Morto

- Matteo Mancuso: The Journey (Esse jovem guitarrista italiano explodiu no nicho da guitarra shred devido sua técnica impactante. Ouvindo esse disco, percebi que seu talento técnico, visualmente deslumbrante, funciona somente em áudio (uma qualidade que não acontece com todo instrumentista virtuose). Ele domina muito bem a linguagem fusion: riquíssima em melodicamente, com fraseado jazzistico charmoso e timbres perfeitos. Se sua praia for guitarra bem tocada, pode ir sem medo). Samba Party

- MC Carol: TRALHA (Tudo bem, mesmo tendo apenas 16 minutos, esse disco tende a soar repetitivo lá pelo final. Tanto pela temática, quanto pelos beats. Dito isso, ainda assim é chocante para mim o carisma e força interpretativa da MC Carol. Ele é afrontosa, engraçada, ríspida e talentosa, sendo um dos nomes do funk que melhor incorpora o flow do rap. Tem seu valor). VAMPIRO DE MADUREIRA

- MC Hariel: ALMA IMORTAL (Um dos maiores nomes do funk atual se mostra um “rapper” consistente, que tem o que dizer, além de dono de interpretações convictas e uma produção lapidada. Inclusive, legal ver que o estilo está em ebulição tanto em produções corrosivas/experimentais de confecção amadora, mas também aqui, num álbum com o padrão da indústria. 7 faixas e menos de 20 minutos que podem te surpreender). SONHOS

- McKinley Dixon: Beloved! Paradise! Jazz!? (Em apenas 28 minutos, o artista demonstra toda a noção de “bom gosto” possível dentro do hip hop, entregando não somente mera batidas, mas canções estruturadas por bonitos arranjos, solos elaborados, vozes, melodias e performances reluzentes, além de produção robustamente cristalina. Difícil criticar). Live! from the Kitchen Table

- MC Ryan SP: Um Toque de Malandragem (O encontro do trap com o funk com lapidação típica da indústria, o que gera uma música pop, jovem, urbana e imoral (grande qualidade), mas que por ser via artistas já experientes da cena, tudo isso é feito com sabedoria. O fato de ter muitas participações agrega versatilidade no flow, nos timbres, nas histórias. Produção pulsante, boas melodias (não negue, por favor) e refrões ganchudos. Fácil entender quando um moleque de 16 anos se apega a esse tipo de som. Dá vontade até de ser jovem). Perfeita

- Meu Nome Não É Goiaba: Meu Nome Não É Goiaba Volume I (Conheci o guitarrista/compositor Ney Goiaba no Instagram. Ao ouvir esse trabalho, ficou latente que ele é muito mais que um “guitarrista de rede social”. Seu trabalho é coeso e cheio de personalidade. Tem muito de um “classic rock nacional” (reconheço Celso Blues Boy, Cidadão Instigado, Sérgio Sampaio e 14 Bis), mas também um desprendimento com estruturas convencionais, tanto de arranjo, quanto de abordagem ao solar ou timbrar o instrumento. Um nome pra ficar atento). Cristais

- Michael Pipoquinha: Um Novo Tom (Que ele é um espetacular contrabaixista todo mundo já sabe, mas me surpreende que, mesmo com tão pouca idade, sua música já tenha atingido maturidade tão alta. É tudo muito bem construído, arranjado e pensado. Sempre em colaboração com instrumentistas do seu elevado nível. Jazz brasileiro moderno, luminoso e altamente intrincado. É consideravelmente longo, ou seja, não é para os fracos e imediatistas). Tipo Dani

- Mick Jenkins: The Patience (Embora com mais de um década de carreira, confesso que até então não tinha me atento ao trabalho deste rapper. Ouvindo aqui, fiquei entusiasmado com seu estilo verborrágico, furioso e, ainda assim, acessível. As batidas são duras e encorpadas, soando mais pulsantes que criativas. Por mim tudo bem. O disco tem menos de 30 minutos. É o suficiente. Preciso agora ouvir os trabalhos anteriores dele. Obs: Freddie Gibbs, Benny The Butcher e JID participam do álbum, formando uma sequência inicial arrebatadora). Show & Tell

- MIKE: Burning Desire (Embora ache a longa duração do disco (e, consequentemente, isso sentido via algumas derrapadas) um atenuador da qualidade, há momentos bem legais, onde o rapper trabalha sua emoções com sua voz ébria já característica. Agora, o melhor de tudo são os beats, bastante abstratos em suas desconexões). Zap!

- Militaria Gun: Life Under The Gun (Debut desse grupo de “hardcore alternativo”. É um som altamente abrasivo, mas também acessível, ressaltando melodias. É um verdadeiro hardcore melódico. Adorei a mixagem, as guitarras, a performance. Nada que vá mudar o mundo, mas que pode levantar o astral do seu dia). Do It Faster

- Mitski: The Land Is Inhospitable And So Are We (Se por uma lado ela costuma sempre alcançar interpretações emotivas/teatrais de força genuína, seu repertório muitas vezes não acompanha. Aqui a liga foi perfeita, gerando seu melhor disco. Tem canções lindíssimas (liricamente e melodicamente), que chegam a remeter a uma mistura de Jeff Buckley com Weyes Blood dentro de um contexto mais “caipira”. Instrumentação orgânica primorosa. Legal saber que tem uma nova geração que venera a moça). I Don’t Live My Mind

- Mon Laferte: Autopoiética (O pop latino muito além das suas estereotipias. Aqui ele se funde ao trip hop em arranjos e performances (vocal e instrumental) elegantíssimas. Tem um ar cinematográfico vindo da rica produção, repleta de colorido e texturas timbrísticas (orgânica, orquestral, eletrônica). Mesmo com o pé no tradicional, há liberdade para percorrer por sons contemporâneos. O resultado é agradável, amoroso, sexy, dançante, noturno e solar. Um dos grandes trabalhos de música pop do ano). Pornocracia

- Mu540: No Susto EP (Tecnicamente o Mu540 vem se destacando como o grande produtor do funk. Aqui ele chega a pecar nas composições, que soa meramente desbocadas, mas pouco ganchudas/inspiradas. Mas há sempre algo interessante nos beats, sendo que na metade final até as interpretações carismáticas salvam qualquer problema textual. Como é curtinho, vale muito a audição). TU QUER MAIS OQ?

- Navy Blue: Ways Ok Knowing (Em seu primeiro álbum por um grande selo (Def Jam), o rapper ressalta seu conhecido lirismo, que beira o poético. Sua visão sobre os antepassados e família é emotiva. Somou-se a isso ótimas produções, que buscam em samples gospel o clima perfeito para a construção do álbum). Life's Terms

- Nia Archives: Sunrise Bang Ur Head Against Tha Wall EP (Em 17 minutos, essa produtora britânica reuniu o que verdadeiramente mais gosto na música eletrônica de pista: beats frenéticos de jungle/drum and bass com melodias vocais melódicas e pegajosas. Me lembrou o trabalho do DJ Marky. Dançante e estrondoso). Sunrise Bang Ur Head Against Tha Wall

- Nill: O Resgate do Maestro (Apesar de ser um rapper com estrada, personalidade e regularidade, esse disco foi pouco citado. E olha que, na minha opinião, é seu trabalho melhor acabado, soando mais coeso nas experimentações. Os beats ricos em texturas e informação ainda estão lá (maior parte assinado pelo Deekapz ou O Adotado), mas agora dentro de um formato mais convidativo. Fora que ele tem excelente domínio do flow. Nunca subestimei seu talento). City Hunters

- Noname: Sundial (Com a delicadeza da sua voz e a leveza dos beats (meio jazzy, meio bossa) a artista deixa aflorar todos seus pensamentos, sem medo de soar contraditória ou sem cancelada. Atira contra todos, inclusive contra ela mesmo. Coloca em questão suas atitudes (e de outros artistas), o público, a indústria, o capitalismo… Não consigo não admirar. Fora que, musicalmente, eu adoro o seu flow. A participação do Jay Electronica deu polêmica, enquanto a do billy woods só deu bom mesmo). namesake

- Nourished by Time: Erotic Probiotic 2 (Esse disco parece feito na metade dos anos 90 (e, por vezes, até 80), trazendo o clima gay, pop e dançante do período, invocando o r&b contemporâneo, mas com malemolência lasciva ainda mais abusada. Mas não se engane, não é tão superficial e “fácil” assim, visto que há produções encorpadas e muito bem estruturadas. Bem legal). Daddy

- Nyron Higor: Fio de Lâmina (Disco pra dormir. Longe disso ser ofensivo. É que esse “lounge lo-fi bossa nova” é apaziguador demais. Gosto da gravação, das composições, da execução. É bonito). Farol

- Oh Polêmico: Polly É O Mundo (Rapaz, ritmicamente isso aqui é enlouquecedor, não tem como passar indiferente não. Mesmo a estrutura das canções parece embarcar num fluxo de consciência repetitivo guiado pelo Polêmico. Tudo com atmosfera ao vivo, interação entre os músicos (não por acaso as faixas são longas) e timbres estranhos (tem um elementos rítmico ali que sobra harmônicos e soa hipnótico). Deve funcionar ainda melhor em meio a calor, bebida, droga e corpos humanos). Cara de Tralha

- Olivia Rodrigo: GUTS (A estrela teen mantém seu status com um disco que repete o feito do debut. É o pop rock/pop punk carismático, ganchudo e que transparece verdade, tanto na proposta, quanto na performance. Tem muitas referências do rock alternativo noventista (The Breeders, Beck) o que me anima. Embora eu não seja o público, assumo gostar de ouvir na companhia da minha filha (que aos 3 anos, também ainda não é público). Bacana). vampire

- Oneohtrix Point Never: Again (Eu confesso, é um som que tenho dificuldade de embarcar. Dito isso, com esforço e atenção, consigo adentrar e admirar as inteligentes camadas propostas pelo produtor/compositor. Encaro como peças eruditas contemporâneas calçadas por timbres sintéticos abstratos. Explorar cada linha melódica ou textura é uma experiência pra não se abrir mão). Nightmare Paint

- Orochi: Vida Cara (Mais de 1h40 de trap nacional com tudo que tem direito. Entenda isso como quiser. Esteja ciente do perigo. Com isso em mente, fui preparado para letras que não se comunicam comigo (não tenho dinheiro, não tenho mulheres, não tenho arma, não fumo maconha, minha vida é barata), de modo que acho interessante como esse tipo de som atrai um público mais perto das minhas condições que a do artista. É algo mais sobre almejar do que possuir (embora, já na minha idade, sequer esse deslumbre tenho, mas aí é “problema”/amadurecimento meu, portanto foda-se). E por mais que a temática seja repetitiva, é legal ver ela sendo explorada por diferentes rappers. Djonga, BK, Baco, Trippie Redd e tantos que sequer conheço se revezam em flow assertivos e derrapantes. Se a produção não é um diferencial, também não é falha. Há inclusive bons beats e interessantes texturas. Dificilmente pegarei o disco para ouvir inteiro (embora queira jogar numa roda entre amigos logo logo), mas tenho separado minhas prediletas. Vale conhecer). X6

- Osees / Thee Oh Sees: Intercepted Message (Li com receio a proposta deles incorporarem sintetizadores ao som da banda em detrimento das guitarras. Mas isso foi feito com o comum talento do grupo, renovando a sonoridade de maneira criativa. Tem ecos de Devo, Hawkwind, Suicide e YMO. Isso dentro da sua estética garage psicodélica. As composições e a execução são de enorme vigor. Um dos melhores discos de rock do ano). Stunner

- Oz Noy: Triple Play (Quem assina o disco é o tremendo guitarrista Oz Noy, mas não é para ignoramos a presença do Dennis Chambers (bateria) e Jimmy Haslip (baixo). Uma performance ao vivo de três excelentes instrumentistas. É o fusion com groove, intensidade e “crueza” típica de um power trio. Vale dizer que o trabalho saiu também em vídeo, valendo a pena buscar essa opção). Boom Bom Boom

- Pabllo Vittar: Noitada (Pouco mais de 20 minutos de um funk-hyperpop frenético perfeito pra esquentar a pista. Como sempre acontece com a Pabllo, interpretações cheia de personalidade e ganchos carismáticos elevam as canções. Eu gostei). Descontrolada

- Panopticon: The Rime Of Memory (Vindo de um dos meus álbuns prediletos de black metal e de 2021 (...And Again Into The Light), confesso que inicialmente esse disco me soou um teste a paciência. Normal, visto que o grupo encabeçado pelo Austin Lunn é caracterizado por desenvolver as composições progressivamente. Dito isso, foi só na terceira audição que me deixei levar por completo. Embora nem todas as faixas sejam inspiradas, há momentos de puro encanto, agressividade, peso e melodia). Enduring The Snow Drought

- Paramore: This Is Why (Sempre achei a banda boa, mas essa fase indie-dance-new wave me pega demais. As produções são coloridas, o batera arrebenta, tem guitarras à la Vampire Weekend e a Hayley é muito carismática. Discão de pop rock contemporâneo). The News

- Parannoul: After The Magic (Não conhecia o trabalho do artista sul-coreano, mas de cara já embarquei no seu som. Isso porque embora haja uma complexa nuvem de texturas típicas do shoegaze, há também melodias acessíveis oriundas do emo e dream pop. Adorei a instrumentação volumosa, com paleta de cores sinfônicas e eletrônicas. Todavia, confesso que a interpretação vocal singelamente dramática não me fez morrer de amores). Arrival

- Pat Metheny: Dream Box (Todo compositor tem uma pastinha com rascunhos de possíveis composições. Essa é a do Pat Metheny, que lançou antes mesmo de lapida-las. Os improvisos soam fluidos e arriscados, mesmo diante de faixas de beleza relaxantes e descompromissadas. Perfeito para ouvir antes de dormir). Morning Of The Carnival

- Pedro Martins: Rádio Mistério (Se por um lado esse jovem e espetacular guitarrista brasileiro se revelou de imediato um instrumentista acima de qualquer suspeita, eu fico intrigado com seu direcionamento autoral, onde as composições trafegam por algo entre Beto Guedes, Arthur Verocai, Tame Impala e sei lá mais o quê. É bonito, complexo (tem cada harmonia, cada solo!) e antenado a uma elite musical contemporânea, o que justifica a participação de nomes como JD Beck, Thundercat, Omar Hakim, Kurt Rosenwinkel e, até mesmo, do Eric Clapton. Só não sei se gosto desta produção “lo-fi”, visto que é um tipo de som que dá pra ser polido. Talvez seja pra fugir do AOR e, novamente, soar mais “alternativo”). Liberdade

- PinkPantheress: Heaven knows (Confesso que fui de encontro ao disco sem grande entusiasmo, mas recebi em troca diversas canções cativantes, que fazem do pop contemporâneo um terreno fértil para bons arranjos e produções. Inicialmente a interpretação contida da moça não me fez morrer por amores, todavia, conforme ia ouvindo e sendo capturado pelos motivos melódicos, embarquei de vez na sua interpretação. Agora, a riqueza timbrística e rítmica (incorporando inclusive elementos do drum and bass) me impressionou de cara. Mixagem impecável. Vale dizer que nomes como Mura Masa e Greg Krustin tiveram colaboração decisiva no trabalho). Ophelia

- PJ Harvey: I Inside The Old Year Dying (Em tom quase pastoral, a PJ adota uma postura mais contida, colocando no centro de sua obra a poesia, outrora escrita e agora musicada. Sua voz aparenta certa fragilidade, o que não diminui a experiência, mas chama atenção. São canções bonitas, profundas e climáticas. É o folk com interferências eletrônicas. Continua sem decepcionar). A Noiseless Noise

- Pó de Café & USP Filarmônica: Suíte do Café (Lindíssimo disco instrumental que narra o ciclo cafeeiro paulista. Arranjos majestosos orquestrados que trazem refinamento, elegância e beleza que poucas vezes ouço na música contemporânea brasileira. Tudo executado e captado com limpidez confortável aos ouvidos. Sem erro). Geada

- Podridão: Cadaveric Impregnation (É uma podridão mesmo, mas muito bem pensada e executada. Tremenda performance e gravação. Simplesmente um dos melhores trabalhos de death metal brasileiros do ano. Simples assim). Urban Cannibalism

- Polara: Partilha (Após deixar diversas crias (influenciadas) no cenário alternativo brasileiro, o grupo lança novo disco em 14 anos. As guitarras, os textos confessionais, os dilemas, a intensidade… as boas canções. Tá tudo ali. Falta inovação se pensarmos num cenário macro do desenvolvimento do rock alternativo? Sim, mas honestamente não é o que eu esperava. Curti demais). Dessa Vez

- Portrayal Of Guilt: Devil Music (5 músicas em duas versões: black metal e “música de câmara”. Ambas agressivas a seu modo. Preferi a estética metal, embora ache curioso que a “chamber” que mais curti foi a que menos gostei enquanto metal (“Burning Hand”). É um disco que serve para apreciação e pesquisa). Where Angels Come To Die

- Protomartyr: Formal Growth In The Desert (Ora remetendo ao Nick Cave, ora ao Idles, o grupo mais uma vez demonstra toda sua força composicional e interpretativa. Adorei as saturações alcançadas aqui, com traço do pós punk oitentista, mas com um peso atual. Em termos de rock baseado em guitarras, é um dos bons discos do ano. Até a capa é atrativa). Make Way

- pumapjl: Autodomínio (Bacana já desde a capa (que faz referência ao disco do Arthur Verocai), esse EP de faixas curtinhas me apresentou este bom rapper com nítido conhecimento de causa. Todavia, o que mais gostei mesmo foram as produções do SonoTWS (que também não conhecia), que remete tanto boom bap quanto ao hip hop lo-fi, soando pancada, confortável e instigante ao mesmo tempo). Cega Eles Vovó

- Purling Hiss: Drag On Girard (Dos discos de rock mais guitarristicos do ano. A influência de Neil Young e Dinosaur Jr. fala alto. Toda a distorção é envolta a ótimas canções. Legal demais). Yer All In My Dreams

- Queens Of The Stone Age: In Times New Roman… (Após ter derrapando feio no disco anterior e o Josh Homme vir colecionando polêmicas pessoais, o grupo apostou no seguro e entregou o que faz de melhor, canções de rock com muitas (e ótimas) guitarras e ganchos melódicos acessíveis. Adorei os timbres, saturados e orgânicos, onde as válvulas quentes e a reverberação do estúdio se faz sentir. É um disco sem novidades, feito para os já convertidos). Negative Space

- Ratos de Porão: Isentön Päunokü (O Ratos pegou um daqueles “clássicos” do punk rock finlandês que meia dúzia ouviu (e não digo isso de forma pejorativa), no caso o disco do Terveet Kädet, e fez versões alinhados com o clima bolsonarista que ainda permeia em grande parte da população. É um berro para convertidos. Neste sentido é até meio bobinho. Ainda assim eu gosto). Tome Cuidado

- Real Bad Man / Blu: Bad News (Devido o flow do Blu, que empilha palavras sem medir esforço, esse disco em alguns momentos tende a soar cerebral, o que em si não seria um problema, mas que tem na qualidade dos beats, samples e produção um conforto ao ouvinte. É rap em seu estado puro, sem gracinha ou conceções). More Bad News

- Rod 3030: Deus É Brasileiro (Primeiro disco solo do rapper carioca. Embora pareça uma linha evolutiva do rap com o samba que o D2 já propõe há tempos, ele tem muita personalidade nas rimas e oferece produções com maior frescor (se não no quesito “fusão”, certamente no quesito “hip hop”). Os ótimos refrães e ganchos geram potencial de grande alcance, remetendo também ao trabalho do Criolo e Emicida, embora curiosamente ele não teve tanto prestígio assim. Vai entender. Bem bom). O Que Se Leva (Dói)

- Rodrigo Campos: Pagode Novo (Rodrigo Campos continua a tensionar o samba para novas direções. Legal que ele consiga fazer isso soando criativo e exitoso (até mesmo para reposicionar um estilo que a todo momento é explorado em sua caricatura), mas também se comunicando com um cenário “alternativo/contemporâneo/classe média” que, queira ou não, legítima comercialmente um trabalho. Adoro as guitarras do disco (parece o que aconteceria se o Nels Cline tocasse num disco de samba). Boas canções, interpretações e produção. É isso). Japonego

- Rodrigo Campos & Romulo Fróes: Elefante (Parceria de dois dos mais talentosos artistas da canção brasileira das últimas décadas. Já há uma sintonia entre eles, de modo que aqui as composições se dão de forma fluida. Muito calcado no violão (como manda a tradição), mas apontando para uma atmosfera densa contemporânea, isso se dá na escolha dos acordes, no direcionamento dos arranjos, nos timbres e no enfoque rítmico hipnótico). Carcaça

- Rodrigo Ogi: Aleatoriamente (Confesso que de cara não bateu. É que o fluxo de consciência do rapper por vezes toma caminhos sonoramente nem tão resolvidos. Entretanto, a produção do Kiko Dinucci foi tão impactante que reouvi várias vezes, de forma que as letras do Ogi se traduziram em satisfação. Normal, seu talento com a caneta é conhecido. Mas voltado a produção, o que o Dinucci fez aqui eleva muito o sarrafo dentro do rap nacional. Beats versáteis em timbres, texturas, ritmos, dinâmica, estrutura… Bem foda!). Eu mudei pra esse prédio

- Róisín Murphy: Hit Parade (Aos 50 anos, a artista continua na vanguarda dos sons das pistas. Isso se aflora ao somar força com o DJ Koze. O resultado é um disco pulsante, com referências do techno e do house, em hinos dançantes que servem como ode à liberdade comportamental. Simples assim, irresistível assim). You Knew

- Romulo Fróes / Tiago Rosas: Na Goela (A tradição da canção brasileira se mantém em transformação via essa talentosa dupla de compositores e intérpretes, que em parceria ressaltam a dramaticidade obscura de suas composições. Isso somado a uma instrumentação quase rockeira - certamente ruidosa, principalmente no que diz respeito às guitarras do espetacular Guilherme Held - nos damos de cara com um trabalho inquietante/climático/angustiante de MPB. Em tempos de Gilsons, isso não deve ser menosprezado). Os Herdeiros do Antes

- Ryuichi Sakamoto: 12 (O gênio da música japonesa num trabalho melancólico e derradeiro, arquitetado em meio ao tratamento de um câncer do qual tirou sua vida. Esteticamente fica entre o ambient e a música minimalista. É emotivo, atmosférico, doloroso e esperançoso. Não é para todos os dias, mas vale dar uma atenção extra numa noite solitária com bom fone de ouvido. Ouvir sua respiração ditando o ritmo é muito forte. Sem destaque).

- Ryu, The Runner: Essa É A Vida De Um Corredor (Ao visualizar a cena trap brasileira a distância, o Ryu destoa em qualidade. Seu flow é criativo (veloz e paranóico), ele tem sacadas líricas (mesmo abordando temas corriqueiros: machonha e mulheres) e as produções (assinadas honestamente não sei por quem) são envolventes, com direito a alguns beats criativos. Tem um certo flerte com o funk e até com o “reggae” (vide “DAMN!”) que achei bem bacana. 22 min de trap brazuca em boa forma). Business

- Ryu, The Runner: EVDC DELUXE (Desde quando a “versão Deluxe” é outra obra diferente da original? Bom, que seja. Mais um bom disco do trapper. Isso, claro, se o gênero for sua onda ou ao menos você tiver disposto a se abrir para a sonoridade. Aqui as produções são menos estrondosas e mais “climáticas”, em alguns momentos beirando o bonito (isso na construção, a mixagem é enorme, com grave batendo no peito). Mas não se engane, liricamente é aquele afronto autocentrado de sempre. Por mim tudo bem, ainda mais se explorando o flow com a qualidade aqui encontrada). Sua Inveja Eu Não Veio

- Sara Não Tem Nome: A Situação (Novo nome - ao menos para mim - da cena indie rock brasileira. Sonoridade muito arrojada (muito por conta da riqueza dos arranjos, que contam inclusive com metais), bem produzida e com uma ironia à la Mutantes (dentro de temas mais contemporâneos). Ela é uma ótima intérprete, mas o que mais chamou atenção é como o álbum se desenvolve rumo a queda, ficando cada vez mais bucólico e lento. A situação não deve tá fácil pra ela (desculpe o trocadilho). Boas canções). Ponto Final

- Sexyy Red: Hood Hottest Princess (Deluxe) (De cara não gostei. Achei muito repetitivo. Mas fez tanto sucesso (ao menos no TikTok) e foi tão elogiado (ao menos pelo Fantano) que fui dar nova chance. E fui logo pra versão Deluxe, o que poderia ser um erro, visto que, em mais de 1 hora, há ainda mais chance de soar repetitivo. Mas o problema é que aqueles beats graves de trap, com melodias sinistras, foram me consumindo ao ponto de achar estrondoso. Já a moça, inegavelmente uma força do rap feminino atual, tem um flow meio “atrasado” que é doido. Fora que, após as mulheres terem seus corpos objetificados durante séculos, acho uso que ela use como arma de afronta. Intoxicante, irregular, pesado e perfeito para ouvir na academia). Free My N***a

- Shakti: This Moment (Sim, é aquele projeto de música indiana do John McLaughlin. E é o primeiro trabalho deles em, sei lá, quatro décadas. Ou seja, motivos não faltam para conferir. O melhor de tudo é que é um espetáculo. Todos em forma, quebrando tudo em faixas intrincadas (principalmente ritmicamente) e belas (cada vocalização, cada clima!). Uma experiência. Encrenca). Shrini’s Dream

- Shame: Food For Worms (A banda continua evoluindo, encontrando agora um bom equilíbrio entre o pós-punk revival e momentos mais desafiadores, principalmente no que diz respeito ao instrumental. Há algumas dissonâncias guitarristicas que gosto muito. Senti certa influência do emo noventista, mas pode ser delírio meu. Fato é que é um disco vigoroso, com boas performances e bem estruturado). The Fall Of Paul

- Sigur Rós: ÁTTA (Primeiro “projeto cheio” do grupo em mais de uma década. Cada vez mais despido de uma estética rock e mais próximo de uma música ambient, etérea e, aqui, quase sinfônica, com direito a lindos arranjos (ora excessivamente cafonas/pomposos). Embora por vezes alvo de críticas, a voz em falsete do Jónsi tem luz própria. Eu gosto. Mas é aquilo, é som pra dormir, é som de “baleia”. Ouça disposto a adentrar a proposta da banda). Ylur

- Skrillex: Quest For Fire (Embora tenha lançado dois discos na sequência, confesso que só tive interesse de escutar esse, visto que não é o tipo de som que mais me interessa atualmente. Entretanto, das estrelas da EDM, ele é realmente diferenciado. Ele explora ritmos intrincados, traz peso nas produções e alguns bons ganchos. Ele é talentoso e esse disco é bacana). XENA

- Slauson Malone 1: EXCELSIOR (Assim como em seu trabalho anterior, o artista não se prende a gênero nenhum. Todavia, aqui ele me soou melhor resolvido. No emaranhado de pop, trap, glitch, rock alternativo, experimental e música alternativa contemporânea, há canções bacanas e produções instigantes, seja pela criatividade espontânea, seja pelo avanço técnico na criação de texturas. Singular). New Joy

- Sleaford Mods: UK GRIM (Um repertório poderoso, que faz da junção de grime com pós punk (e pitadas de krautrock e art punk) um dos discos mais acachapante do duo. A produção martela na cabeça, muito por conta das batidas incisivas, mas também nos timbres metálicos. O carisma salta nas letras e nas interpretações vocais. Um dos meus prediletos do grupo). Tilldipper

- Snõõper: Super Snõõper (Lançado pela Third Man, esse grupo traz em timbres e performance o astral do garage rock, mas as composições transcende o gênero, explorando a inventividade (e esquisitice) do art punk contemporâneo. O resultado é mais torto que tosco. Álbum curtinho). Powerball

- Somaa: <Antena> (Por um instante julguei de maneira injusta, afinal, é rock e, assim sendo, é meio “rock wins”, meio “cringe”. Mas sendo honesto e frio na avaliação, é muito bem feito dentro da proposta. Tem ótimas guitarras (em timbres e riffs), boa performance vocal, uma cozinha consistente e certo cuidado nas letras (o que não necessariamente leva a momentos de grande inspiração), aqui cantadas num português fluido (ainda hoje uma qualidade nem tão comum ao gênero do país). A produção também é consistente, o que me faz pensar o quantos discos clássicos do rock nacional (principalmente da década de 1980) que não tem 1 ⁄ 5 dessa qualidade técnica de captação/mixagem. Dito isso, ouça apenas se o tipica “rock nacional” for sua onda). Um Palmo Atrás

- Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo: Música do Esquecimento (De arranjos e produção irreparável, chama atenção a qualidade técnica de um grupo do rock alternativo brasileiro. As composições estão mais sofisticadas, ainda que sem perder o bem-vindo tom jocoso. Mas que fique claro, não é besta, só é alegre, mesmo quando aborda questões sérias (inclusive abordando sexualidade). Gosto do elemento quase “freak”, quase “funky”, do instrumental. Bem legal). Segredo

- SPELLLING: SPELLLING & The Mystery School (Mais uma vez a artista demonstra proficiência composicional e vocal neste disco que transita entre o chamber pop e o rock progressivo. Pitadas à la Björk ainda são sentidas (o que é sempre bom). Arranjos bem desenvolvidos, timbres cristalinos, ótimas execução dos instrumentistas e uma evolução quase épica das canções. Embora haja certa leveza, é coisa séria). Under The Sun

- SPIRIT OF THE BEEHIVE: i’m so lucky (Demais como essa banda é criativa. Indie rock sem compromisso estrutural. Tem algo de lo-fi, tem momentos mais “radiofônicos”, outros densos. Sempre criativo e bem executado. É um EP tão curtinho (4 músicas, 11 minutos) que não vou destacar nada. Ouçam tudo).

- Spiritual Cramp: Spiritual Cramp (Aquele típico disco debutante de uma banda de rock básico que embora não apresente nenhuma novidade, é tão preciso na execução que não dá pra ignorar. Ainda que traga influência de Clash e Gang Of Four, eles se comunicam muito bem com o indie rock contemporâneo. Certeiro). Catch A Hot One

- Squid: O Monolith (Essa boa banda lapidou o som e fez da criatividade um material bem acabado de art rock (com muito de rock alternativo, pós-punk e progressivo). Tem dinâmica, ótimas performances, arranjos cuidadosos, além de timbres robustos, calorosos e ricos em texturas. Um dos melhores discos de rock do ano). The Blades

- STL: Panaudicom Part XD-02 (Não me pergunte sobre, só o que sei é que é o projeto de um tal de Stephan Laubner. Conheci porque alguém citou como um dos melhores discos do ano (juro que agora não lembro quem foi) e decidi conferir. Demorei pra embarcar ao longo de suas mais de 3 horas de duração, até o momento que entendi (e recomendo que assim façam) que poderia ouvir (e reouvir) por partes. Foi dos trabalhos de música eletrônica que mais curti em 2023. É uma deep house bem atmosférica, pulsante, progressiva e imersiva. Muito bem produzido. Sem invencionismo, mas com ótimas escolhas timbrísticas e de direcionamento composicional. Escutem com paciência e atenção se essa for sua praia. Vale dizer que ainda não escutei a Part XD-01). Idle Crack

- Sufjan Stevens: Javelin (Uma sequência de tragédias pessoais (a morte do pai, do parceiro e o diagnóstico de uma doença rara) trouxe ao compositor a inspiração que tão bem faz a ele (é triste, mas é a verdade). A retomada para uma linguagem folk (ainda que com diversos elementos eletrônicos) também é campo fértil no seu trabalho. O resultado é um de seus discos mais emotivos, amorosos e singelos. Há lindos e enormes arranjos, que preenchem as canções com uma força que faz jus ao teor lírico e interpretativo). Will Anybody Ever Love Me?

- Swans: The Beggar (A morte cerca as composições neste que tem tudo para ser o álbum derradeiro da banda. Com isso, o peso aparece pontualmente, quase como a tradução de maturidade, causando densas nuvens sonoras, quase como orquestrações. Algumas faixas podem ser enquadradas na canção folk. Fúnebre, tenso, atmosférico e belo. É das audições mais fáceis? Se tratando de quem são, nunca é. Ainda mais tendo uma (ótima) faixa de mais de 40 minutos, levando o disco a passar de 2 horas. Para os convertidos (e sou um deles), é um deleite adquirido). Ebbing

- terraplana: olhar pra trás (Existe no Brasil uma covardia tão grande com relação a som de guitarra no rock nacional que fico feliz que, embora limitados ao cenário alternativo, existam bandas abusando de camadas e mais camadas de guitarras saturadas sem medo de ser feliz. Sobre o disco: um shoegaze/dream pop um tanto quanto pastiche, mas ultra bem vindo. Tem boas canções, bonitas interpretações, texturas densas, melancolia e… guitarras. Já tá ótimo). memórias

- Test: Disco Normal (O grupo se mostra na linha de frente do “metal extremo inventivo nacional” neste disco que, de normal, não tem nada. Uma virulência orgânica, o que muito me impressiona, tanto pela selvageria da execução, quanto pela capacidade de captarem a tal massaroca. Não é para ouvidos sensíveis). Ódio em Espera

- Thantifaxath: Hive Mind Narcosis (Black metal distante da podridão. Na verdade, chega até mesmo a incorporar elementos do progressivo, traduzido na ótima execução e produção. Mas não se engane, embora elaborado, há ainda o peso angustiante do estilo. Composições boas e criativas. Cáustico). Surgical Utopian Love

- The Brian Jonestown Massacre: The Future Is Your Past (Mesmo um álbum menor do BJM - para mim, esse bem inferior ao lançado no ano passado -, quando se trata de rock n’ roll, não há nada muito melhor sendo feito atualmente (e entenda isso como há algumas décadas). É um disco mais de canções, remetendo em alguns momentos ao britpop, mas sempre com uma sujeira extra. Não tem muito erro, mas confesso que se o disco tivesse me “pegado mais”, eu faria um esforço mais para ir no show, que deve ter sido ótimo). The Light Is About To Change

- The Hirs Collective: We’re Still Here (Não conhecia o grupo, mas de imediato fiquei chocado com a sonoridade ultra musculosa, usada como plataforma para discutir questões de gênero. É uma paulada nada convencional de metalcore (ora mais hardcore, ora mais metal). Performances agressivas sem perder o foco. Shirley Manson, Soul Glo, Melt-Banana, The Body, Full Of Hell, dentre tantos outros colaboram com o projeto). Judgement Night\

- The Hives: The Death Of Randy Fitzsimmons (Vocês sabem como a banda funciona né? Pois então, nem mesmo uma década sem lançar nada fez as coisas mudarem. Rock garageiro, controladamente sujo, baseado em ótimas guitarras e vocais energéticos. Mais do mesmo? Entendo quem considera um problema, mas não é meu caso. Eu me divirto). Stick Up

- The Lemon Twigs: Everything Harmony (Não adianta, pode até criticar, mas o grupo é especialista em sons pastiches. E toda especialidade é positiva. Neste caso, há fortes referências do soft rock americano, do chamber pop 60’s britânico e de power pop. Melodias memoráveis e bons arranjos/gravação elevam o álbum. Bem legal, principalmente se não levado tão a sério). Born To Be Lonely

- The Rolling Stones: Hackney Diamonds (Muitos escutaram, muito foi falado. Com isso, me resumo a dizer que, ao contrário do que acontece quando outras bandas veteranas lançam novos trabalhos, eu fico emocionado em poder ouvir um disco novo dos Stones. E embora não haja nada tão memorável em termos de composição, a audição do disco passa fluida, extraindo um sorriso de nossos rostos (ou ao menos do meu). Há boas guitarras, participação do Macca, Mick Jagger em forma e boa gravação (não achei a produção do Andrew Watt esse caos que muitos apontaram). Fora que agora o Stones tem a cozinha negra que sempre mereceu (digo isso com máximo respeito ao Charlie Watts e Bill Wyman). Sinto boa vibração nas canções. Ou seja, abra uma bebida e permita-se divertir com esse álbum). Bite My Head Off

- The Winery Dogs: III (O trio novamente ataca em seu hard rock acessível e repaginado. Tem suas cafonices, mas também muita qualidade. A execução de todos é de nível absurdo. Muito bem gravado. Com direito a refrões ganchudos. Conhecendo e gostando da estética, é prato cheio). Rise

- Tim Hecker: No Highs (Embora não pareça o disco mais complexo e atrativo em termos de construção e conceito, é inegável que dentro da música ambient ele sabe como criar climas imersivos. Aqui há momentos frios, escuros e belos, com um pulso subentendido no imaginário. Ótimos timbres de sintetizadores e desenvolvimento pleno colaboram com o êxito do projeto). Anxiety

- Tinashe: BB/ANG3L (Com mais de uma década de carreira, a Tinashe parece ter se encontrado dentro de um pop arrojado e ainda acessível. Por momentos, me remeteu a tudo aquilo que os fãs da Rihanna acham que ela faz, mas nunca chegou perto (tirando a provocação, já que a Rihanna tá afastada, deem uma chance pra esse disco). Tem produções bem boas, com direito a beats encorpados/intrincados e camadas bem construídas. Sua voz é sexy, profunda e dona de motivos memoráveis. 7 músicas em 20 minutos, concisão perfeita dentro de um r&b contemporâneo por vezes enfadonho). Tightrope

- Tony Molina: In The Fade (Como ele consegue em apenas 18 minutos fazer tanta coisa? O disco caminha entre o indie rock/power pop lo-fi noventista e o chamber pop 60’s. Há saltos de guitarras imundas para doces melodias à la George Harrison em questões de segundos. Por mim tudo bem, adoro as duas estéticas mesmo). Years Ago Pt. 2

- Tomb Mold: The Enduring Spirit (Um atropelo de death metal progressivo. Linhas de baixos elásticas, uma sequência de riffs cavalares e baterias desgovernadas. Tudo com muita técnica, peso e sabedoria composicional. A produção soa bastante orgânica para o estilo. Se essa for sua praia, vai sem medo). Fate’s Tangled Thread

- Travis Scott: Utopia (Se o Kanye West tem um substituto, é o Travis Scott. Neste disco mais uma vez ele cria uma atmosfera nebulosa que transcende o trap. De certo modo, as produções tão mais simples (menos psicodélicas), trazendo beats mais na cara, o que não quer dizer que não tem suas sacadas inteligentes em termos de ritmo e progressão harmônica. O nível das estrelas que participam deste disco também faz dele um retrato da música pop contemporânea (Beyoncé, Drake, The Weeknd, Bad Bunny, Kid Cudi, SZA, Young Thug, 21 Savages, Future, Playboi Carti, Westside Gunn, James Blake). Tem suas escorregadas, mas no geral me pareceu uma sequência avassaladora de faixas). TOPIA TWINS

- Trevor Rabin: Rio (Daqueles discos que não vão aparecer em lista alguma. Todavia, temos o brilhante guitarrista/compositor/arranjador/produtor trabalhando com música “pop” novamente. O álbum caminha entre o AOR e o rock progressivo oitentista. Ele tá tocando demais, as composições são criativas, há muito virtuosismo estrutural alinhado a canções “fáceis” (nunca abrindo mão de um refrão ganchudo), dentre outras qualidades típicas de uma geração já veterana de artistas (digo isso sem juízo de valor). Bem legal). Thandi

- tricot: Fudeki (O grupo japonês em um de seus melhores trabalhos. Ninguém consegue soar no math rock tão alto astral quanto elas. As canções são igualmente divertidas e complexas. Vale ainda dizer que a aventura sonora do grupo não se resume aos intrincados ritmos. Há também linhas vocais luminosas, uma paleta timbristica tão cristalina quanto saturada, além de climas que englobam new wave, j-pop, noise rock e até psicodelia ("crumb"). Sensacional). A faixa 6 (é em japonês, perdão)

- Tui: Castto IX (Jogue no liquidificador summer hits, city pop, Rio de Janeiro de 1982 e videogame. O resultado é esse disco ultra dançante e solar. Um tanto quanto longo, o que é ideal para pano de fundo). Amber

- underscores: Wallsocket (Essa jovem artista, ao que parece, anda chamando atenção de uma molecada (balzaquiano aqui falando). Seu sucesso só se justifica assim, afinal, sua forma de música pop tende a soar bem esquisita para quem tem “mais idade”. Isso por ela incorporar nos arranjos e produções timbragens eletrônicas saturadas e imprevisíveis que nada parecem com o que já foi feito no pop. Soa quase como uma junção da Olivia Rodrigo com a St. Vincent fazendo hyperpop. Gosto da voz dela, gosto das canções e adorei a mixagem. O resultado é divertido e de grande valor estético). Geez louise (with henhouse!)

- Unknown Mortal Orchestra: V (Por mais que o grupo invista numa estética quase retrô de classic rock ao compor, aqui eles chegam a resultados bem atraentes via timbres mais ricos em texturas, principalmente por explorar sonoridades lo-fi. Isso, importante frisar, em boas canções, melodiosas, pegajosas e criativas dentro do cenário indie rock). Meshuggah

- U.S. Girls: Bless This Mess (Esse disco me surpreendeu ao trazer a influência da “disco 90’s”. Em alguns momentos lembrei daquele pop do Cardigans e mesmo do No Doubt. Isso se manifesta até na peculiar voz da Meghan Remy. Tem altos synths. E embora no repertório haja algumas escorregadas, no geral eu gostei do clima proposto. A master só poderia ser menos comprimida, né?). Tux

- Vários Artistas: Barbie The Album SOUNDTRACK (Me rendi a esse fenômeno pop via filme e trilha-sonora, até porque tem diversos artistas que gosto (Lizzo, Dua Lipa, Charli XCX, Billie Eilish, Tame Impala, Haim). E não só esse foram bem, mas até mesmo o Ryan Gosling acertou (encare com humor, claro). Surpreendente. Claro, tem presepadas no meio, mas até isso funciona pra traçar um retrato do pop contemporâneo. Sendo uma faixinha de cada, nada chega a atrapalhar. No fim ainda tem umas bobajadas teen completamente açucaradas, divertidas e bem produzidas. Ouça sem levar tão a sério). Angel (PinkPantheress)

- VelhoMoço: Epifania (O pop rock nacional, tão agredido ao longo da história, é matéria prima para esse bom grupo que calca seu trabalho em cima de ótimas composições. Melodias bacanas, canções bem desenvolvidas, interpretações sem afetação, sonoridade orgânica do classic rock… tudo certo. Para quem curte Barão Vermelho, Cascadura, Suricato e Tomada, vale conferir). Nós e o Mundo

- VHOOR: Expirado (O incansável dj/produtor/beatmaker num EP que coloca o funk no centro da música eletrônica brasileira. Eu sei, já é há tempos. Todavia, aqui há uma lapidação da linguagem, tornando-a mais cerebral, contida e técnica. Boas texturas e belas harmonias caminham com elegância em torno de células rítmicas típicas do gênero. Ótima produção). Das Antigas

- Victoria Monét: Jaguar II (Conhecida nos bastidores do pop contemporâneo enquanto compositora (principalmente por trabalhos para a Ariana Grande), aqui ela dá voz a sua obra e se sai muito bem. É aquele pop/r&b contemporâneo de clima sexy e aconchegante. Sua voz é belíssima. As canções se desenvolvem de maneira inteligente. Muito bem produzido. 35 minutos, na medida). How Does It Make You Feel

- Vomito Podraso 666: Vomito Podre de Satan (Certamente isso começou como uma zuera dos moleques, mas como uma galera foi dando atenção, porque não lapidar o gosto pelo black metal, neste caso, absurdamente tosco, lo-fi, escrachado, blasfemico e bem sucedido na proposta, tendo até mesmo lapsos de criatividade. Acho divertido. 5 faixas, menos de 15 minutos. Na medida). Orgasmo Multilador de Crente

- Water From Your Eyes: Everyone’s Crushed (Duo esquisito que produz algo irrotulável, mas que fica próximao de um “art-pop noise”. Há muita abstração na construção instrumental, gerando texturas ruidosas, ritmos não lineares e, somado a isso, uma certa predileção/humor pop nos escombros. Gosto como correm alguns riscos). Open

- Wednesday: Rat Saw God (Um dos discos mais legais de indie rock deste ano. Tem uma sonoridade enorme, ora até barulhenta, trazendo toda atmosfera do shoegaze de forma repaginada. A cantora é carismática, há momentos divertidos, outros intensos, mas acima de tudo canções memoráveis. É o suficiente). Bull Believer

- Westside Gunn: And Then You Pray For Me (Costumo gostar dos trabalhos deste rapper, mas esse aqui bateu ainda mais forte. É pesado, maluco e versátil (é trap, mas também boom bap). Adorei as produções, encorpadas nos timbres, pulsante nos ritmos. Há também alguns arranjos curiosamente belíssimos. O flow dos envolvidos traz ainda mais intensidade para as canções). Suicide In Selfridges

- Wiki & Tony Seltzer: 14 Figaro (Embora não familiarizado ao som dos artistas, não tive dificuldade em compreender e adentrar a proposta, que desfigura o trap através de uma abordagem mais abstrata do gênero. Boa produção (samples muito bem escolhidos) e performance atraente do rapper, sendo ele dono de uma voz aguda/fanha/veloz inebriante. É o suficiente). Weed Song

- Wilco: Cousin (Sou fã do Wilco, de modo que me identifico até com os discos menos inspirados do grupo. Todavia, afirmo que esse é o melhor álbum do grupo desde o Star Wars (2015), sendo que finalmente eles conseguiram traduzir essa linguagem mais folk/country/enxuta das produções recentes em canções memoráveis. Achei melhor resolvido sonoramente, muito provavelmente por conta da produção da Cate Le Bon. Frio e quente. Agradável e perfeito para tardes dominicais solitárias). Pittsburgh

- Witch: Zango (Grupo de rock veterano do Zâmbia (é o tal Zamrock). Não conheço os trabalhos anteriores, mas esse, lançado após mais de três décadas sem material de inéditas, mereceu o hype. É pesado, psicodélico e divertido. Tem momentos que parecem o que aconteceria se o Black Sabbath e o Santana (a banda) tocassem juntos. Junte a isso elementos espontâneos da música africana, um groove quente, certa latinidade (quase reggae), momentos viajantes, outros bem melódicos. Disco fácil de agradar). Waile

- Xande de Pilares: Xande Canta Caetano (A aclamação (pra não dizer “babação”) foi enorme, mas deixando de lado toda a afetação, o disco funciona bem. Os arranjos para os sambas são de certo modo enxutos, que privilegiam a bonita voz do Xande e as ótimas canções do Caetano. Repertório nem tão criativo, mas coerente). Qualquer Coisa

- Xiu Xiu: Ignore Grief (Não vou falar que é um disco fácil. Na real ele exige um estado de espírito específico. Dito isso, é exitosa essa transição pelo rock industrial com elementos da música erudita contemporânea. Álbum denso, ruidoso e climático, com captação e interpretações sombrias). The Real Chaos Cha Cha Cha

- yeule: softscars (Embora sua interpretação vocal não me acerta em cheio (as vezes acho meio infantilóide), as canções melhoram muito. Isso por direcionar as composições e, principalmente, os arranjos para uma sonoridade mais rockeira. Um rock do futuro, meio eletrônico, meio pop, meio estranho, mas ainda rock, inclusive com muita da herança do shoegaze. Achei bacana). dazies

- Yo La Tengo: This Stupid World (Pegue as guitarras do Sonic Youth, coloque pitadas de drone e insira num contexto krautrock, ao menos no que diz respeito aos ritmos motorik. Foi isso que essa veterana banda fez sonoramente. Para muitos o melhor disco deles em muito tempo. Eu gosto). Brain Capers

- Young Fathers: Heavy Heavy (Confesso que não gostei nadinha do álbum anterior, de modo que esse disco me soou muito surpreendente. As composições tem aquele elemento “estranho”, mas agora sem soar gratuito. Qual o gênero disso? Sei lá, mas sei que tem intensidade, flow, carisma, pressão e texturas. Tem faixas muito bacanas. Preciso agora rever os discos anteriores pra ver se o problema não era eu). Drum

- Yunk Vino: Meu Amigo Diário, Vol. 1 - M.A.D (O trap nacional em mais uma amostra da evolução. É muito legal como o rapper usa delays, reverbs e auto-tune completamente integrados a sua rima, deixando espaço para os efeitos na construção do flow. A produção é climática, cuidadosa inclusive na elaboração das harmonias (tanto em acordes quanto em timbres) é mais um destaque. Ao contrário dos álbuns americanos do estilo, que se perdem em longas durações, aqui temos 30 minutinhos bem enxugados, sendo inclusive um dos motivos que o trap nacional ter me interessado tanto recentemente. 2X

- Yussef Dayes: Black Classical Music (Um dos grandes álbuns do jazz contemporâneo. Radiante nos improvisos, nas levadas deste tremendo baterista, nas progressão das composições, nos timbres… Fora que tem um sabor/calor latino em diversos momentos (algo do jazz cubano) que muito me agrada, inclusive, soando mais palatável para ouvidos nem tão sábios (me inclui nessa). Tem algumas canções ali no meio nem tão inspiradas, mas nada que tire os méritos do trabalho). Black Classical Music

- Yves Tumor: Praise A Lord Who Chews But Which Does Not Consume; (Or Simply, Hot Between Worlds) (Após eu ter adentrado ao seu som no disco anterior, aqui novamente me perdi em sua ampla paleta de sonoridades, que invoca o pop oitentista sem abrir mão do peso ruidoso da contemporaneidade. A saturação dialoga bem com temas existenciais. Se nem todas faixas funcionam, ao menos há uma coerência estética). Heaven Surrounds Us Like a Hood

- Zach Bryan: Zach Bryan (Diante de uma música country cada vez mais pasteurizada, esse cantor-compositor revela um talento genuíno, tanto para compor canções memoráveis e belas, quanto para cantar sem forçar a barra. É também um conforto a gravação, muito bem arranjada e captada organicamente. Tem algo de Wilco. Um disco de boas composições pop americana). Overtime

- Zulu: A New Tomorrow (Metalcore genuíno intercalado por “vinhetas” sampleadas de soul e reggae, o que traz dinâmica ao peso cavalar do grupo. Gosto dos timbres, da massa gordurosa vinda do riffs, da variação das duas vozes e da execução tão simples quanto urgente. Não posso ignorar que a banda é formanda por quatro cinco negros. Fico feliz). Who Jah Bless, No One Curse

"MEDIANOS" (4-6)

- Amaarae: Fountain Baby (É essa onda que a Anitta tá tentando embarcar? De alguma forma me remeteu a isso. Gostei não. Até tem algumas boas produções (vide “Wasted Years” e “Counterfeit”), mas nada que faça minha cabeça. Parece um reggaeton desconstruídos com uns beats com origem ora funk, ora na África. Talvez seja isso mesmo. Agora, a interpretação vocal da moça, meio infantilizada, meio robótica, achei chatona. Foi bastante elogiado pela crítica).

- Angra: Cycles Of Pain (Ouço por memória afetiva, mas confesso que não tenho mais interesse no som do grupo. E olha que aqui eles se saem bem, trazendo composições bem desenvolvidas que inserem elementos do metal progressivo, “metal moderno”, brasilidades e até solos à la Guthrie Govan. O problema é que tudo é dentro do contexto do power metal, desembocando em vocais agudos, bumbos velozes e outras estereotipias do gênero que não me descem. Mas deixo dois destaques: “Tide Of Changes” e “Faithless Sanctuaty”).

- Antrvm: Defiler (Jovem grupo formado por novos talentos do metal brasileiro (vide Yohan Kisser e Matt Carrilho), mas que juntos não conseguiram chegar a um trabalho exitoso. É um thrash metal na praia do Lamb Of God, mas com produção mais “frouxa”, vocais que nada me agradaram e, principalmente, composições fraquinhas, tanto melodicamente quanto na criação dos riffs. É ruim? Não, mas também não é bom. Às vezes parece que falta ambição. Ao vivo deve funcionar melhor).
 
- Banda AL9: Amor é a Lei (Esse duo apareceu no Instagram cantando refrães esganiçados. Achei estranho e fui conferir o disco, nada mais que um pastiche da Jovem Guarda, que se por um lado tem composições fraquinhas, por outro me parece genuíno. Ao menos é bem executado. Pende para o ruim e vergonhoso, mas com isso chega a ser intrigante e cômico. Tenham piedade).

- Blink 182: ONE MORE TIME… (Nunca gostei da banda, mas procurei escutar o disco com os ouvidos de quem curte o trio. Minha impressão é que o retorno da formação clássica fez jus à expectativa. Tem canções energéticas e uma produção encorpada (até demais, soando ultra comprimida). A performance do Travis Barker é inegavelmente um destaque. Agora, dito isso, acho as melodias e interpretações vocais irritantes (meio adolescente besta, algo que eles sequer são mais). Recomendado apenas para os que preservam alguma memória saudosista).
 
- Code Orange: The Above (Essa guinada para algo mais lapidado, quase “pop”, tomou um rumo “problemático” em desempenho neste disco. Em alguns momentos é exitoso, parecendo meio que uma tentativa de soar abrangente e versátil no metalcore, algo como o que Deftones fez dentro do new metal. Dito isso, há também canções fracas, com melodias e interpretações bem chatinhas. Irregular).

- Depeche Mode: Memento Mori (Ao retroceder e explorar sonoridades oitentistas, a espetacular banda lança um de seus discos menos atrativos. Obviamente tem algumas boas composições, muitas delas baseadas em morte. Já as performances são pouco inspiradas. Acontece nas melhores famílias).

- Dj Arana: A.Mago - Playlist do Mago EP (Dj Arana deturpa o pop, a “MPB” e próprio funk nessa breve sequência de faixas absurdas. É mais bizarro e interessante que propriamente bom. Não levar tão a sério).

- Dj Jeeh FDC: Alcateia (Por mais que cada vez cresça meu interesse e gosto pelo funk, esse disco apresenta uma proposta que não agrada tanto. São canções mais padronizadas (até solares), menos criativas liricamente, além de donas de produções tão comprimidas que atenuam as qualidades dos beats. É ok, deve funcionar na noite, mas tem trabalhos mais interessantes neste segmento. Destaque para “Sorrateiro”).

- Djonga: Inocente “Demotape” (Dando sequência na “estratégia” de lançar um disco por ano, aqui o Djonga surge mais contido, falando sobre amor (não necessariamente de forma romântica). Musicalmente ele mergulha de cabeça no trap/pop rap. Embora ambos direcionamentos não me empolguem, fica nítido que, ainda assim, sua voz é cheia de personalidade, que ele sabe desenvolver bons ganchos melódicos, momentos de sagacidade lírica e boa produção. A capa é bacana ao fazer referência ao disco da Minnie Riperton).

- Dolly Parton: Rockstar (É fraquinho (beirando o ruim) e caricato? Claro que é, mas vi com simpatia. Pô, não é todo dia que ouvimos a Dolly cantando com John Fogerty, Joan Jett, Debbie Harry, Rob Halford e até mesmo Paul e Ringo. Na real o grande problema é o tamanho? 30 faixas, mais de 2 horas… não tem como encarar isso. Mas beleza, não precisamos levar tão a sério também).

- Edcity: Afrofuturista (Não vou mentir dizendo que é o tipo de som que mais faz minha cabeça. Todavia, fico admirado com o carisma do rapaz e a riqueza estrondosa dos ritmos. Um pagodão baiano vagaroso, por vezes pesado (beirando o rock), com elementos de dub na produção, refrões ganchudos, gravação transparecendo clima ao vivo, dentre outras características que geram um trabalho de força genuína).

- Enigma Ex Machina: Blurring Thoughts, Flawless Lies (Pelo fato do metal progressivo nacional me remeter a algo mais pomposo oriundo da escola do Dream Theater, vi com certo entusiasmo o som denso dessa banda, calcado em composições mais climáticas e com guitarras poderosas. Todavia, o repertório é irregular e o vocalista pende para o ruim. Uma pena).

- Extreme: SIX (Teve um mês que o Nuno Bettencourt estampou todas as capas de revistas sobre guitarra. Fizeram um alarde por conta do solo de “RISE” (bem legal, mas longe do “clássico” que quiseram pintar). Fui ouvir o disco e adorei diversas guitarras, mas as composições em si são muito fracas. Nos melhores momentos parece um cruzamento de Alice In Chains atual com o Audioslave. Nos piores beira o medonho (“BEAUTIFUL GIRLS”). Recomendados apenas para aficionados em guitarra).

- Gole Seco: Gole Seco (Quatro jovens e talentosas cantoras num trabalho ambicioso, calcado em canções e arranjos pensados somente para vozes. O resultado chama atenção de imediato, mas confesso que o disco como um todo não me instiga. O formato - mesmo diante do virtuosismo, carisma e complexidade da proposta - acaba soando redundante. Mas é bom, talvez o problema esteja em mim).

- Gorillaz: Cracker Islands (Nem vou me apegar ao álbum como um todo. Me limito em dizer que o repertório é morno. Algumas canções funcionam, outras não. É mais uma surfada na onda deste pop psicodélico tão em voga (não por acaso tanto o Tame Impala quanto o Bad Bunny estão presentes). Melhor é a participação do Thundercat e do Beck. Já o MC Bin Laden fez barulho (aqui no Brasil) quando saiu (só na versão Deluxe), para logo depois ninguém mais lembrar. Talvez seja o futuro deste disco como um todo).

- Hozier: Unreal Unearth (Enquanto disco de pop rock de 2023, há muitas qualidades: bons arranjos, capricho na execução e boa produção sem soar pasteurizada. Dito isso, enquanto compositor e intérprete, ainda acho que falta alma. É aquele disco exitoso que, no final, pouco sobra ou emociona).
 
- Indigo de Souza: All Of This Will End (Eu teria que ser mais jovem pra curtir esse disco. Falo isso porque até seus melhores momentos (mais intensos, na praia de um rock alternativo noventista) me soam requentados. Já as canções bombinhas são só bombinhas mesmo. Não é ruim, só não é pra mim).
 
- Jambu: tudo é mt distante (Uma mistura de Terno Rei com o Jão. É bem feito, mas as composições são insossas, algumas pendendo pro besta (“viajei”). Muito irregular, beirando o ruim).

- Jon Batiste: World Music Radio (Após ganhar o Grammy ficar sob os holofotes da indústria, ele decidiu jogar o jogo e diluir sua inegável musicalidade em canções que apontam para diferentes referências e em pouco acerta. É bem produzido, é cuidado na construção do instrumental, todavia as composições são chatas. Em termos de gênero, caminha entre o “pop r&b latino”. Diversas participações, pouco a somar. Uma qualidade inegável a serviço de um nada estético).

- KayBlack: Contradições (Não adianta, o ouvinte brasileiro é predestinado a romances. Tome como exemplo esse EP, um dos mais exitoso comercialmente dentro do trap/funk nacional, que tem como diferencial o tom amoroso e melodioso. Tem até violão nos arranjos. Não achei ruim (faixas como “Segredo”, inclusive, são bem legais), mas tem uma carinha de trap da Rede Globo, trap de adulto. Sei lá hein).

- KAYTRAMINÉ: KAYTRAMINÉ (Rolou um pequeno hype em cima deste projeto do Aminé com o Kaytranada, mas devo confessar que achei bastante irregular. É um trap solar, com toques de r&b e alguns bons achados (vide a boa “Master P”), mas que no geral não me entusiasmou. Mas vale ouvir. A capa é legal, poderia ser do É O Tchan).

- Kevin Abstract: Blanket (Aquele disco ruim na primeira audição, mas que revela potencial para tornar-se cult com o tempo. É que o nome mais famoso do Bockhampton apostou num formato rock nem tão bem sucedido, mas com alguns achados no meio do caminho. Tem aquela aura acústica/bucólica meio grunge, mas também momentos explosivos. Só o que não explode é sua voz, de interpretação até mesmo bizarra (ora cochichada, ora sem eu saber qual é a dele). Meio ruim, meio estranho, meio intrigante).

- Laura Cox: Head Above Water (Essa jovem artista deu uma pequena viralizada no inviralizável mundo do rock, mas a real é que suas músicas são fraquinhas. Ela toca guitarra direito (e tira bons timbres), mas canta sem personalidade alguma. Esquecível).

- Luiza Lian: 7 Estrelas - Quem arrancou o céu? (Fico até desconfortável de tecer alguma crítica, porque sequer sei se entendi a proposta. É visivelmente arrojado em sua produção e arranjo, trazendo enorme variedade de texturas. Todavia, na raiz das composições, não percebo grande valor. Parece que é a massaroca de informações (brasilidades à la Duda Beat, com o sexy pop à la Marina Sena, ritmos do pagodão, do funk, da música eletrônica contemporânea), que preenchem a experiência. Por sua vez, os recortes líricos parecem saído de qualquer roda de bar universitária, Isso somado a uma interpretação vocal sem grande personalidade atenuam o valor do trabalho).

- Luciana Souza & Trio Corrente: Cometa (Cantora brasileira talentosa, aclamada e de carreira consolidada num disco com um dos melhores trios de jazz/música brasileira da atualidade (Edu Ribeiro é um monstro, inclusive). Todavia, devo ser honesto e, independente de todas as qualidade técnicas (execução instrumental e captação impecáveis) achei a experiência auditiva muito chata. Há inúmeros discos da canção brasileira interpretados por mulheres que transparecem mais alma e criatividade, de modo que esse álbum me passou um ranço, um mofo e uma pretensão que não fez jus aos envolvidos. Aquela pompa na interpretação de “Requebre Que Eu Dou Um Doce” chega a me dar raiva. Por sua vez, “Baião Joy”, onde a voz é usada com elemento meramente musical, achei bem bonita. Bom, é isso, mesmo me desagradando, obviamente não chega a ser um trabalho ruim. E desculpem qualquer palavra forte, afinal, essa é somente a minha impressão).

- Luísa Sonza: Escândalo Íntimo (Beirou o ruim. O que alivia um pouco é que é bem produzido. Falta agora ela ser melhor assessorada. Percebe-se boas texturas e certo peso. Entretanto, as canções em si e, principalmente, a evolução do disco é pouco atrativa. É aquele sofrimento e desejo sexual nada genuíno. Rolou até um “premeditório conceito envolto a traição” que, nem assim, trouxe riqueza ao disco. Muito pelo contrário, deixou um sabor de armação cafajeste (do dito cujo enquanto humano, da dita cuja enquanto artista). Dito isso, tem seus acertos dentro da música pop contemporânea, mas nada que sobreviverá ao teste do tempo (na real já morreu).

- Mahmundi: Amor Fati (Após dois bons discos que remetem não “pastichemente” ao pop oitentista, aqui ele deu uma “IZAda”, trazendo uma linguagem sonora e composicional mais contemporânea, que não posso dizer que foi mal realizadas, mas que definitivamente me atrai menos).

- Mammoth WVH: Mammoth II (Projeto do filho do Eddie Van Halen. Ele demonstrou que aproveitou bem o berço que teve e virou um ótimo guitarrista (ainda sem grande personalidade, mas muito bom). Agora, ele é de outra geração, sendo seu faro composicional bem chato. Lembra muito o Alter Bridge. Ele até acha bons ganchos, mas o resultado não me agrada em nada. Outro problema é a produção genérica e artificial. Que o tempo revele algo melhor).
 
- Maneskin: Rush! (Não entendo como “ruim” visto que, ao contrário do Greta Van Fleet, que faz rock pra tiozinho saudosista, aqui é um rock com apelo mais adolescente, que por mais caricato e picareta que seja, é eficiente em sua proposta. Sonoramente, o longuíssimo disco (mais de 50 minutos) tem seus (poucos) acertos, principalmente no que se refere ao instrumental. Consigo até citar faixas destaques (“Kool Kids”, “La Fine”). Agora, não dá pra levar mais a sério que isso, sequer para rebaixá-los. É muito canastrão).

- Manger Cadavre?: Imperialismo (Acho fundamental que tenha uma banda de metal brasileira que aponte os males do imperialismo. Dito isso, a produção artificial (com cara de anos 2000) e a performance pouco inspirada me impedem de curtir o resultado em plenitude. Frustrante. Mas é uma banda séria, então ouçam e tire suas conclusões).
 
- Melanie Martinez: PORTALS (Pela persona da moça, achei que daria de cara com um pop esquisitão, mas na real o som é bem comum, com direito a boa produção, algumas canções bacanas e tantas outras esquecíveis).

- Melvin e os Inoxidáveis: COPACÉTICO (Figuras tarimbadas do rock alternativo carioca num disco de altos e baixos. Sonoramente há referências tanto do BRock 80’s quanto do indie noventista, o que de certa forma traz certa dinâmica e versatilidade dentro das estruturas do pop rock nacional. As canções mais bacanas ficaram para o final, enquanto no início achei pouco inspirado e vocalmente monótono. A produção simplória inicialmente me pareceu sem graça, mas depois funciona. Irregular, mas recomendado para entusiastas do rock brasileiro).

- Metallica: 72 Seasons (Um bom disco sem canções memoráveis. Na verdade, se fosse mais curto seria até mais proveitoso, mas quem vai querer ficar se debruçando em mais de uma hora de álbum, quando eles já fizeram coisas mais atrativas? Parece que todas as músicas chegam num momento de enrolação. Veja por exemplo “You Must Burn!”, faixa bem legal, antes de se perder. O mesmo vale para as duas últimas. Ponto alto: a voz do James. Ponto fraco: os solos do Kirk beiram o ruim).

- Nadson O Ferinha: Serestão do Ferinha (Confesso, essas paradas só chegam até mim por conta do rapaz do Volume Morto. Fui ouvir e me senti um apropriador. Não é minha onda. Mas acho legal as guitarras, o “sentimento”, o balanço, o canto errado (desafinado, abafado, não eximiamente interpretado) e, principalmente, a bateria, com aqueles tons agudos, levadas dançantes (cheiro no cangote) e virada nas introduções que se repetem como emblemas. Tem sua graça).

- Paul Rodgers: Midnight Rose (Embora ele entregue o que se espera dele, confesso que senti falta de certo “vigor”. Tô sendo muito exigente com um senhor de 74 que não precisa provar mais nada pra ninguém? Possivelmente, mas não deixa de ser minha percepção. Tem boas guitarras e certa lapidação à la Bad Company (embora com canções menos inspiradas, claro). Dito, se sua onda for ouvir classic rock tomando cerveja, a audição deste disco pode ser um programão).

- Post Malone: AUSTIN (Não fosse a impressionante capacidade do Post Malone em compor canções pop memoráveis, com bons ganchos, esse disco correria risco de ser um vexame total. Isso porque os arranjos e a produção são completamente insossos. Falta energia e timbres calorosos. Pô, ele já demonstrou diversas vezes interesse pelo rock, dava pra soar com mais vigor, as canções pedem isso. Salvo por algumas boas melodias pop).

- Red Devil Vortex: Red Devil Vortex (Fui com certa resistência, visto que tenho senti cheiro de "heavy metal nacional constrangedor com olho no mercado gringo". A visão deles é essa mesmo, mas não é constrangedor. Mesmo não sendo minha praia esse combo de "metal moderno com apelo melódico do hard rock" fiquei admirado por conter canções bacanas (ou ao menos 50% delas), produções que funcionam dentro da proposta (apesar de um tanto quanto genérica e "artificial") e ótimas (e virtuosas) passagens do guitarrista Luis Kalil. Tem sua graça).

- Rival Sons: DARKFIGHTER / LIGHTBRINGER (Álbuns irmãos, para mim, analisados em conjunto (embora o segundo tenha canções mais interessantes). Chama atenção como, passado mais de uma década do surgimento da banda, é mais sensato não compará-los ao Led Zeppelin, mas sim ao Greta Van Fleet. E com isso, apesar de ser nítido que eles são melhores instrumentistas (o que gera melhores performances, principalmente do guitarrista), composicionalmente não acho tão distante ao que o Greta faz. É diferente, é melhor, mas ainda tem um ranço classic rock que não agrega valor estético. Mas se for sua praia, vai fundo).

- Sleep Token: Take Me Back To Eden (Nas primeiras faixas até cheguei a pensar “pô, a galera pega pesado com os caras, é legal o som”. Mas no decorrer do disco o caldo ficou ralo. A proposta de cruzar djent (e outros tipos de “metal moderno”) com um pop contemporâneo só se sustenta se as canções forem boas, sendo que isso nem sempre ocorre. Se a produção genérica e artificial funciona dentro da estética, o mesmo não vale para as interpretações do vocalista, de timbre e performances… “cafonas”. É, não deu pra defender muito não).

- Slowdive: everything is alive (Falar que esse álbum é ruim seria demais, todavia, ô disquinho safado hein! A banda voltou (já no disco anterior) pouco inspirada composicionalmente, mas o que mais me incomoda é a performance sonolenta e a produção insossa. Claro, por ser uma banda e gênero que aprecio, sempre há o que se aproveitar, mas a experiência do disco como um todo é desanimadora).
 
- Snow Strippers: April Mixtape 3 (O Anthony Fantano falou muito bem desse álbum, mas confesso que não consegui embarcar. Tudo bem, é festivo, com sintetizadores luminosos e uma produção condizente ao que se espera de um electropop contemporâneo, mas tanto as composições quanto as interpretações vocais me soaram pouco atrativas).

- Tainy: DATA (Tenho que ser honesto e dizer que, por melhor que seja esse disco, reggaeton me empapuça. E olha que aqui tá o filet do gênero. Conversa com o pop contemporâneo, mas tenta tensionar fugindo do medíocre. Há variação composicional, ótimos ganchos, boa produção e participações bem legais (Bad Bunny, Skrillex, Four Tet, Julieta Venegas). Talvez isoladamente cada faixa até continue me impactando - assim como adorei o início do disco -, mas no decorrer a coisa desengrena, não na feição, mas na minha percepção).

- Tas Mc: Sobre Verdades (De cara eu fiquei empolgado com as primeiras faixas, visto que, embora não apresente produções diferenciadas, há um conteúdo politicamente revolucionário nas rima do rapper baiano que fogem da luta em abstrato que tantos outros artistas promovem. Todavia, as composições caem em qualidade na metade final, soando mais esquecíveis. Ainda assim, um artista para ficar de olho).

- Teezo Touchdown: How Do You Sleep At Night? (Embora com algumas boas e divertidas canções que trafegam pelo pop rock e pop rap, confesso que teria vergonha de ouvir isso em público. Sua interpretação é meio escrachada, parecendo bobeira. Por outro lado, é também ganchuda. O repertório caminha nessa linha tênue entre o legal (destaco “Mood Swings”) e o constrangedor (não necessariamente no mal sentido, vide a faixa de abertura). Sei lá hein).

- The Smashing Pumpkins: ATUM (Tem canções bem boas (as mais pesadas, puxadas pro Tool), mas também 2 horas, sendo a audição arrastada. Achei a produção "limpa/correta" demais. Difícil omitir uma realidade sempre presente e, por vezes, chata admitir: Billy Corgan foi presunçoso).

- Turnstile / BADBADNOTGOOD: New Heart Designs (A ideia era interessante, mas o resultado é meio irregular. Esperava por algo mais contundente, mas eles optaram por um formato introspectivo, viajandão e sexy. É legal, mas nada que vou pegar pra ouvir novamente).

- Vários Artistas: ADMIRÁVEL CHIP NOVO (RE)ATIVADO (Após 20 anos, a estreia da Pitty recebe status de clássico de rock nacional (nem tão verdade, nem tão mentira), sendo revesitada por vários artistas, curiosamente, mais da metade não atrelados ao rock. Alguns se saem muito bem (Emicida, Planet Hemp, Pabllo Vittar, MC Carol e Supercombo), outros são esquecíveis (Tuyo, Céu, Criolo) e outros soaram muito mal (Ney Matogrosso, Sandy, Marina Peralta). Uma proposta interessante de resultado irregular).

- Veigh: Dos Prédios Deluxe (Fez enorme barulho entre os jovens. É o trap brasileiro mais uma vez demonstrando sua força e, felizmente, uma evolução em termos de produção e flow. Dito isso, preciso ser honesto e dizer que não tenho mais idade pra ouvir isso. Não é questão de etarismo, mas de reconhecer que as letras não se comunicam comigo. Além disso, sinto falta de momentos mais ganchudos).
 
- VHOOR: Viaduto (Eu adoro as produções do VHOOR, de modo que achei esse EP menos inspirado. Longe de ruim, só é mais esquelético, de progressão não muito clara e pouco memorável. Mas tem seus momentos).
 
- Vulgo FK: Perdas & Ganhos (Beirou o ruim, só não o coloquei como tal porque achei a produção encorpada, vi certo valor no apelo melódico do rapper (apesar dele ser inconsistente) e, sendo franco, muitas vezes não compreendo a estética do trap o suficiente para detratar. Dito isso, ele parece trazer para o trap um certo tom meloso de quem ouvir muito pagode, na linha do Thiaguinho. Isso, ao que pareceu para mim, se aflorou nas letras e no flow. Ou seja, é um trap dramático, meio romântico, meio arrogante, que não me pega). - Yaeji: With a Hammer (Li muitos elogios ao disco e fui ouvir. Se a interpretação da moça não me emociona, ao menos traz certa singeleza. Já o cuidado com os arranjos e a produção me interessaram mais. Ambos os aspectos estão a serviço de canções nada memoráveis. Pra rotular babacamente, chamaria de “hyper-jpop elegante”. Te parece atraente?).

- Yeat: AftërLyfe (Tem faixas legais, produção encorpada e detalhada, bons ganchos e interpretações vorazes. Cito até “Nun id change” e “Slamm” como destaque. Entretanto, como vários discos de trap, passa de 1 hora e é cheio de excessos e canções arrastadas. Uma pena).

- Yohan Kisser: EP ao Vivo (Projeto autoral do talentoso filho do Andreas Kisser. Sinto que ele ainda precisa encontrar uma linguagem própria. E não que ele esteja debaixo da aba do pai, mas sim de uma certo “academicismo” musical, que tenta racionalizar a obra, juntando rock progressivo, música brasileira e textos bem trabalhados sem transmitir emoção alguma. Não é ruim, só é frio. Mas vale ficar atento aos novos trabalhos que ele venha a lançar).
 
- Youth Lagoon: Heaven Is A Junkyard (Fico meio sem jeito, porque é bonito, bem feito e ele até deve tá falando coisas importantes/emotivas. Todavia, é uma experiência auditiva que não me pega (e olha que insisiti!). Tentarei reouvir no futuro para melhor avaliação).

"RUINS" (0-4)

- André 3000: New Blue Sun (Nem vou criticar o disco em si (só um pouco), até porque acho que o André tá só de sacanagem com quem fica implorando um trabalho solo dele. O problema tá em quem ouviu e gostou. Porra, é uma new age/ambient sem vergonha. Nem enquanto “disco de flauta” funciona. Deve ter disco de flauta peruana bem mais legais/imersivos/genuínos que esse. Vários timbres sintéticos horríveis. Fora que as “composições” evoluem para lugar algum. Vocês (não necessariamente você que está lendo) precisam parar de comprar qualquer historinha).
 
- Fred again… & Brian Eno: Secret Life (Olha, sendo honesto, no fim do disco até há momentos bonitos, mas no geral é muito abaixo da expectativa. Era de se esperar mais de um gênio e um discípulo talentoso. O rumo das composições e a escolha dos timbres é entediante).

- Lynch Mob: Babylon (Acho o George Lynch um tremendo guitarrista de hard rock, gosto da estreia desse grupo e ouvi elogios a esse disco: fui ouvir. Uma porcaria. Nem algum lampejo de boa guitarra traz boa impressão. Que porcaria de vocalista é esse? Essa produção de plástico é constrangedora. E jura que ainda faz sentido apostar em algo tão 80’s? Coragem hein. Só maluco saudosista pra gostar disso (não leve para o pessoal). Parei na metade, não deu pra ouvir inteiro).

- Mac DeMarco: Five Easy Hot Dogs (Um passo maior que a perna. Ele não teve capacidade, talento e inspiração para desenvolver um disco instrumental. O resultado é bocejante. Timbres, performances, composição… nada se salva. Preguiçoso e presunçoso ao mesmo tempo).

- Marina Sena: Vício Inerente (Se tem uma coisa que esse disco não é, é viciante. Me causou até ansiedade em parar de ouvir. Mais “pop” e “contemporâneo” que o anterior, igualmente fraco em repertório. Não quero ficar tacando pedra na Marina Sena, até porque ela já tem hater suficiente. Todavia, devo dizer que suas vocalizações são nada inspiradas. Uma pena).

- Nita Strauss: The Call Of The Void (O fato dela ser a grande expoente da guitarra shred contemporânea me deixa preocupado sobre os rumos dessa abordagem guitarristica. Suas “fritações” não tem criatividade alguma, os timbres são de plástico e as canções fazem a gente rever os méritos do Malmsteen enquanto compositor. Confesso que ouvi pulando as faixas. Só assim pra conseguir chegar ao fim do disco).
 
- Sophie Lloyd: SHRED VOL. 1 (Vire e mexe aparece uma guitarrista bonitona que salta aos olhos de marmanjos guitarristas (calvos, suados e punheteiros). Sophie Lloyd é a escolhida da vez. Ao contrário das anteriores (Orianthi e Nita Strauss), que fracassaram no quesito composição, essa aqui nem se deu ao trabalho de criar algo. Selecionou um repertório de obviedades (hits do Pink Floyd, Ozzy, Iron Maiden, Guns, AC/DC, dentre outros), bolou arranjos horríveis, trabalhou com timbres artificiais e “fritou” em cima. É basicamente uma performance de Instagram em formato disco. Mais que ruim, esse disco é fora de propósito).

- Zé Ibarra: Marquês, 256. (Não sou dos detratores de Bala Desejo (embora entenda as críticas e, principalmente, a zuera). Todavia, todas as qualidades ali presentes (o humor, o sol, os bons arranjos, o emulação da sonoridade do Lincoln Olivetti), é substituído por um tom blasé de voz e violão. As referências devem ser o Caetano Veloso e o Jards Macalé, mas soa apenas como uma melancolia besta e barata mesmo. Chato).

FILMES

Daisy Jones and The Six
Série baseada num livro que não li. A quantidade de clichês chega a ser impressionante. Beira o terrível. Musicalmente fizeram um pastiche mal sucedido de Fleetwood Mac. Perda de tempo.

Elis & Tom - Só Tinha De Ser Com Você
Fui assistir com a ideia de que seria um "Get Back brasileiro". Não é bem assim. Embora tenha excelentes imagens de arquivo, elas parecem secundárias. Há muitos depoimentos, poucos que trazem real novidade. O mais legal são os músicos envolvidos no disco (e que músicos!) dando alguns relatos. Mas senti falta de ver performances do Luizão Maia, do Hélio Delmiro, Paulo Braga. Dito isso, vale assistir, nem que seja pra relembrar o maravilhoso disco.

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