Já acumulando passagem pela banda do Art Blakey e pelo lendário segundo quinteto do Miles Davis, Shorter estava no ápice enquanto compositor e instrumentista.
Logo nos primeiros segundos de "Witch Hunt" o ouvinte já é jogado pra trás através de frases que revelam que os músicos não estavam pra brincadeira. A dobradinha do sax tenor do Wayne Shorter com o trompete do genial Freddie Hubbard agrada pela tessitura, entrosamento e escolha das notas. É o perfeito cruzamento do jazz modal com o hard bop.
Há grande lirismo no tema de "Fee-Fi-Fo-Fun", muito disso acentuado pelo piano espontaneamente bluesy do Herbie Hancock e o baixo sexy do Ron Carter, o rei do walking bass.
O tema de "Dance Cadaverous" é denso, muito por conta das notas prolongadas. Sua melodia é para se ouvir até fixar na cabeça. Dar tempo para reflexão e contemplação é essencial.
"Speak No Evil" evolui em composição e interação, desencadeando improvisos vitaminados (e com salto intervalares absurdos), reagidos pela bateria sabiamente frenética do Elvin Jones.
O ar, tempo e espaço param diante das notas de "Infant Eyes", composição verdadeiramente emotiva. Se escutada num bom som e com luzes baixas, é possível adentrar a sala de captação.
Vale aqui inclusive se atentar como a gravação é cristalina, cheia e robusta. A derradeira "Wild Flower" revela isso. Mais uma vez é exemplar o desempenho de todos envolvidos. Que time! Fino.
Wayne gravou muito material que merece atenção - na verdade, vale se atentar a tudo -, mas se o tempo for curto e curiosidade for imediata, vá direito para o Speak No Evil. É biscoito fino.

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