sábado, 1 de abril de 2023

TEM QUE OUVIR: Wayne Shorter - Speak No Evil (1966)

Listar os maiores instrumentistas da história do jazz seria tarefa árdua e ingrata. Agora, sejamos francos, compositores do gênero da pra pensar em fazer. Dentre os melhores está o Wayne Shorter, que em 1966 lançou pela Blue Note seu mais aclamado disco, Speak No Evil.


Já acumulando passagem pela banda do Art Blakey e pelo lendário segundo quinteto do Miles Davis, Shorter estava no ápice enquanto compositor e instrumentista. 

Logo nos primeiros segundos de "Witch Hunt" o ouvinte já é jogado pra trás através de frases que revelam que os músicos não estavam pra brincadeira. A dobradinha do sax tenor do Wayne Shorter com o trompete do genial Freddie Hubbard agrada pela tessitura, entrosamento e escolha das notas. É o perfeito cruzamento do jazz modal com o hard bop. 

Há grande lirismo no tema de "Fee-Fi-Fo-Fun", muito disso acentuado pelo piano espontaneamente bluesy do Herbie Hancock e o baixo sexy do Ron Carter, o rei do walking bass.

O tema de "Dance Cadaverous" é denso, muito por conta das notas prolongadas. Sua melodia é para se ouvir até fixar na cabeça. Dar tempo para reflexão e contemplação é essencial.

"Speak No Evil" evolui em composição e interação, desencadeando improvisos vitaminados (e com salto intervalares absurdos), reagidos pela bateria sabiamente frenética do Elvin Jones.

O ar, tempo e espaço param diante das notas de "Infant Eyes", composição verdadeiramente emotiva. Se escutada num bom som e com luzes baixas, é possível adentrar a sala de captação. 

Vale aqui inclusive se atentar como a gravação é cristalina, cheia e robusta. A derradeira "Wild Flower" revela isso. Mais uma vez é exemplar o desempenho de todos envolvidos. Que time! Fino.

Wayne gravou muito material que merece atenção - na verdade, vale se atentar a tudo -, mas se o tempo for curto e curiosidade for imediata, vá direito para o Speak No Evil. É biscoito fino.

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