sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

ACHADOS DA SEMANA: Especial "Música Carnavalesca"

Chegou o carnaval, então nada mais oportuno que ouvir discos carnavalescos. Inclusive, discos que tinha separado há meses pra escutar, mas que não havia “batido” até então. Mas nessa semana a coisa caiu como uma luva.

Vale dizer que separei os álbuns por conta de publicações que o pesquisador Tonico Manoel Filho fez em seu recomendadíssimo Instagram. Aliás, todas redes sociais dele são recomendadas, com destaque para o YouTube, onde ele posta pérolas perdidas e/ou raras da música brasileira. Inclusive, muito de música brasileira que tenho ouvido e, por vezes, comentado aqui, chegou até mim via o Tonico.

Sobre os álbuns de hoje, vou me abster de comentários técnicos (não que o faça outras vezes). Vou apenas colocar minhas impressões de leigo que sou.

Tem tudo no Spotify. Não deixem de ouvir.

Acadêmicos do Salgueiro - Aí Vem o Samba (1960)
Posso tá muito equivocado, mas sinto muita África nesse período do disco. Claro, a origem é óbvia, mas aqui possivelmente a influência de uma indústria cultural não tivesse interferido na essência artística do gênero. Mais que os sons dos quintais, dos botequins e das favelas, aqui parece estar o som das senzalas. Minha percepção (talvez errada) de “Ensaio de Ritmo 1” é essa. Inclusive, quem cogita tocar samba tem que ouvir essa faixa e se atentar a acentuação rítmica de cada instrumento que surge conforme o arranjo avança. É uma aula. Já “Não Tenho Alegria” lembra muito o que viria a ser feito no Axé da Bahia. Atenção ainda para a linda "Obra de Deus" e os arranjo de metais de "Felicidade É Um Quimera" e "Sol da Liberdade".

Acadêmicos do Salgueiro (1965)
Tecnicamente já há um salto de qualidade na captação. Isso fica nítido logo na abertura com o “Ensaio de Ritmo 1”. E pra ser sincero, esses ensaios rítmicos são as partes que mais me atraem nos discos. Talvez por ser um iletrado em samba e um metaleiro movido por pancadas percussivas. Mas vale se atentar ao samba sendo levado na palma da mão em "Mártires da Independência", o groove do pandeiro e a interpretação vocal “elástica” de “O Neguinho e a Senhorita”, a linda “Água do Rio” e a festiva “Tudo é Alegria”. Inclusive, queria saber o que os identitários “anticolonialistas de séculos atrás” diriam do “Descobrimento do Brasil”. Possivelmente iriam querer cancelar o bonito samba-enredo.

G.R.E.S. Portela - Escola de Samba Portela (1964)
De maneira tacanha, digo ser minha escola do coração. Logo eu, um leio em samba, paulistano e que nunca frequentou a Portela. Mas se o Paulinho da Viola é, eu o acompanho. Aqui, ao menos comparado com os discos da Salgueiro, me pareceu tudo mais melódico de harmônico. O cavaquinho aparece até com destaque na gravação. Nas lindas "A Felicidade Vem Depois" e "Verdadeiro Amor", isso fica nítido. Essa forma do coro repetindo uma frase cantada previamente é a cara da Velha Guarda da Portela. Já "Rala o Coco" soa ainda hoje carismática. 

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