domingo, 15 de janeiro de 2023

TEM QUE OUVIR: The Monkees - The Best of The Monkees (2003)

Vão desculpar minha ignorância, mas tem grupos que para mim são "bandas de coletânea". Monkees é desses casos. 

O grupo nasceu como produto de entretenimento televisivo com o intuito de preencher a lacuna gerada pelos Beatles no continente americano. Para isso, Don Kirshner contratou quatro jovens para o projeto, restringindo suas funções somente a atuação no programa de TV. O sucesso foi imediato. Para muitos, é o primeiro exemplo de boy band. Rapidamente (e agora vale nomeá-los), Davy Jones (cantor e compositor), Micky Dolenz (voz e bateria), Peter Tork (voz e baixo) e Michael Nesmith (compositor, voz e guitarra) se revelaram talentosos o suficiente para produzirem um trabalho autoral de grande valor pra música pop/rock/jovem americana. 

Com tantas transformações, há quem tenha suas preferências na discografia do grupo. Mas para mim, mais atraente é a compilação The Best Of The Monkees (2003), que faz um mapeamento preciso da trajetória da banda.


"(Theme From) The Monkees" inicia o disco recriando a magia da série de TV. É um clássico tema de abertura. Seu inicio climático, o refrão poderoso, os solos no final... tremenda canção em composição e performance.

É explicita a emulação da sonoridade dos Beatles em "Last Train To Clarksville". Isso seria um problema não fosse tão exitoso. O som das guitarra rickenbacker, a ótima linha de baixo e o arranjo vocal são de grande eficiência musical.

Assim como as duas primeiras faixas, a balada "I Wanna Be Free" é composta pela dupla Tommy Boyce e Bobby Hart, grandes responsáveis pelo sucesso do grupo. Por sua vez, a ótima "Papa Gene's Blues" é a primeira "asinha pra fora" dos integrantes, visto que é assinada pelo Michael Nesmith.

Todavia, nenhuma faixa fez tanto sucesso (ao menos no Brasil) quanto "I'm A Believer" (Neil Diamond). Introdução altamente memorável com seu som de órgão e clássica frase de guitarra (à la George Harrison, claro). Quem não conhece esse refrão que atire a primeira pedra. Vale lembrar que a faixa foi regravada com enorme sucesso na Jovem Guarda pela dupla Leno e Lilian.

Falando em regravação, "(I'm Not Your) Steppin' Stone" chegou a receber versões do Sex Pistols e até do Minor Threat. Não por acaso, visto que a faixa é uma paulada. Um dos grandes momentos rockeiros dos anos 60.

Outra faixa assinada por Neil Diamond é "A Little Bit Me, A Little Bit You", que lembra seu sucesso anterior com o grupo. O público não pareceu se importar e fez da fórmula novamente um hit. Por sua vez, a linda balada "Sometimes In The Morning" tem na composição Carole King e Gerry Goffin. Também da dupla é a certeira "Pleasant Valley Sunday", das melhores do grupo, com direito a estranho final.

Se os novos grupos ingleses estavam pirando no blues, nada mais justo que os americanos do Monkees embarcarem na onda com "Mary, Mary". Só que, embora a composição seja do Nesmith, eles ainda não participavam do núcleo instrumental da gravação. Isso não é um problema quando se tem músicos do Wrecking Crew a disposição. Com isso, de quem seria essa espetacular guitarra, James Burton ou Glen Campbell? E a bateria - sampleada inclusive pelo Run D.M.C. - Hal Blaine ou Jim Gordon? Verdadeiro "tanto faz". 

"She" equilibra com enorme eficiência uma bela melodia em timbres saturados de guitarra e baixo. Gravação não menos que poderosa. 

Com fuzz ardido, discreta influência oriental e vocalizações nonsense, "Your Auntie Grizelda" é mais um grande momento.

"The Girl I Knew Somewhere" marca o inicio do grupo enquanto interprete de suas canções, com direito a uso de cravo e baixo gorduroso. O resultado é tão desequilibrado quanto vigoroso. Tem seu encanto.

O arranjo pomposo  (com cordas e metais) de "Shades Of Gray" poderia até ser considerado chamber pop, mas na realidade é o pop rock em toda sua grandiloquência comercial. Entenda isso como um elogio. 

Incialmente descompromissada e divertida, em seu refrão "Randy Scouse Git" recebe percussões graves (tímpano) e teclados volumosos, resultado num grandioso e saturado. Não menos que intenso. Atenção ainda para o scat singing.

No pop rock "For Pete's Sake" há embutido psicodelia e latinidade, gerando uma canção não menos que irresistível.

A misteriosa e psicodélica "Words" é um desenvolvimento da banda e do Boyce and Hart enquanto compositores.

A balada lisérgica "Daydream Believer" tem tremendo arranjo e o baixo melodioso do Chip Douglas (The Turtles), nome que colaborou em diversas faixas da grupo. 

Hoje pode até parecer comum, mas emulação de um big band feita em "Goin' Down" soava com enorme frescos. Excelente gravação. A única a passar dos 4 minutos.

Após brilharem copiando do Beatles, em "What Am I Doing Hangin' 'Round?" é vez dos Byrds serem emulados, com direito a ótimas dobras vocais, espetacular guitarra de 12 cordas (com sotaque country) e baixo envolvente.

A exuberante "Porpoise Song" é uma doce viagem, de arranjo elegante e ousado. É escura e solar. Espetacular. Por sua vez, "Valleri" é garageira, psicodélica, flamenca, soul... é uma cacetada.

"Listen To The Band" é o desfecho da compilação. Uma típica faixa de country rock em seu melhor exemplo, com direito a intenso arranjo de metais.

Não é nenhum absurdo que em termos de "sucesso comercial", os Monkees bateram de frentes com os Beatles. Pergunte para seus pais (ou avós) e fiquem surpresos por eles conhecerem as músicas. Uma história como essa, atrelada a canções tão adoráveis, não deve ser ignorada.  

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