domingo, 15 de agosto de 2021

TEM QUE OUVIR: Stray Cats - Stray Cats (1981)

Existe um fenômeno de transposição temporal no rock que gerou inúmeras bandas pastiches. Um exemplo fresco é o Greta Van Fleet, que tenta soar como o Led Zeppelin em pleno 2021. Mas no inicio da década de 1980, em meio ao efervescente cenário punk e new wave, voltar as origens do rock trazendo toda sua crueza, energia e alegria, não só fazia sentido, como era uma bem-vinda proposta. O Stray Cats e seu debut é um marco deste rockabilly/rock and roll revival.

Logo na capa do disco, há uma estética que funde o visual do Eddie Cochran a um cenário de decadência punk. Num beco escuro, com guitarra semiacústica, contrabaixo e bateria de configuração prato-caixa para ser tocada de pé, Brian Setzer, Lee Rocker e Slim Jim Phantom ditaram tendência.

Apesar dos nítidos elementos retrô, não dá para pensar em "Runaway Boys" sendo lançada na década de 1950. Ela tem um clima detetivesco/soturno e refrão com clima de gangue punk nova-iorquina. Por sua vez, mesmo ao emular a forma de canção rock n' roll dos anos 50 em "Fishnet Stockings", há um virtuosismo na execução do Brian Setzer que o coloca entre os principais guitarristas da década de 1980. 

A regravação para a histórica "Ubangi Stomp" ganha um tempero quase 2 Tone em seu groove pulsante. Dá para imaginar um trombone de ska cobrindo a linha de baixo. Canção divertidíssima, com direito a berros e trejeitos vocais muito legais.

Feita pra dançar, "Jeannie, Jeannie, Jeannie" está aqui em uma das suas versões mais energéticas.

"Storm The Embassy" é um perfeito exemplo de como o som do Stray Cats não era pastiche. Ela tem palhetadas punk, solo rebuscado, melodia vocal bem desenvolvida e linha de baixo que vai muito além dos trejeitos do rockabilly. Ela tá mais próxima do Misfits e Billy Idol que do Elvis Presley.

Os slaps no baixo acústico saltam aos ouvidos em "Rock This Town", não só uma das principais faixas do grupo, mas do rockabilly, independente da época. Grande performance também do Brian Setzer.

Adoro o clima de "Rumble In Brighton". Parece uma misteriosa e violenta história em quadrinhos. Redundante falar das maravilhosas guitarras. Sensacional!

O cuidado na execução (instrumental e vocal) de "Stray Cat Strut" fez dela o maior sucesso do grupo. Há até mesmo acordes jazzisticos. Composição inspiradíssima.

Legal como Brian Setzer ataca de crooner com sua voz empostada em "Crawl Up And Die". Isso enquanto despeja um dos timbres de guitarra mais imundos do disco, sendo esse respondido por pancadas na bateria.

O virtuosismo instrumental do grupo mais uma vez é ressaltado em "Double Tallkin' Baby". Já a derradeira "Wild Saxophone" se revela uma surpresa ao trazer arranjos de metais num balanço quase ska. 

O passado e o presente, assim como o virtuosismo e a crueza, poucas vezes se comunicaram tão bem quanto neste clássico do Stray Cats, que trouxe novamente para o mundo a cultura rockabilly.

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