É um grande erro olhar para o rock alternativo da década de 1990 e só ver a cena grunge. Naquele bolo estava o Afghan Whigs, banda de Ohio que vinha ralando desde meados da década de 1980, mas que surfou no sucesso do Nirvana para chegar ao grande público em seu quarto álbum, o aclamado Gentlemen (1993), lançado pela Elektra.
Greg Dulli é quem lidera a banda, assinando a maior parte das ótimas composições e impecável produção do disco. É diferenciada sua abordagem pessoal nas letras, que trazem flagelos emotivos típicos do período, mas com uma maturidade mais reveladora e próxima de meros ouvintes que não eram rockstars autodestrutivos.
A climática "If I Were Going" abre o disco guiado por uma guitarra de timbre lo-fi que lembra o que viria a ser os momentos mais melodiosos do Deftones.
Tanto a captação impecavelmente crua quanto a performance do baterista Steve Earle em "Gentlemen" proporciona um groove arrebatador para a canção. Espetacular.
O sentimentalismo enraizado na matriz da "Be Sweet" se estende pela angustiante interpretação vocal, dinâmica variada e guitarras ruidosas. Intenso e belo.
É interessante como uma banda de rock se apropria de certo "balanço" r&b, vide o grande hit "Debonair". Isso claro sem abandonar a sonoridade grandiosa e orgânica de guitarra/baixo/bateria.
Outra canção que fez enorme sucesso foi "My Curse", muito por conta dos vocais dilacerantes da Marcy Mays (Scrawl), que deu vida a perspectiva feminina da composição.
Vale ainda destacar a intrincada e deliciosamente dark "Fountain And Fairfax" e o conflito corrosivo de guitarras ásperas com pianos delicados em "What Jail Is Lie".
Clássico cult hoje pouco lembrado por uma geração que diz gostar de indie rock. Sinais dos tempos.
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