O post-rock é um gênero que se desenvolveu distante dos holofotes, embora constantemente chamando atenção da "crítica especializada" e de curiosos que, em atos de devoção, colocam algumas obras sob pedestais sagrados. É o caso do Lift Yr. Skinny Fists Like Antennas To Heaven (2000), segundo álbum dos canadenses do Godspeed You! Black Emperor.
Trazendo na formação o encontro de instrumentos sinfônicos (pianos, trompas, violoncelo, violino) com a típica base de banda de rock (guitarra, baixo e bateria), o resultado é uma rica massa sonora em timbres e texturas, que evoluem conforme a dinâmica e a densidade das composições. Mais que qualquer ópera rock, esse disco é uma verdadeira orquestração rockeira.
O álbum é divido em 4 longas e épicas faixas, o que dá uma aparência cinematográfica ao trabalho. Diante disso, reconheço seu aspecto intimidador. Mas se houver um foco e pré-disposição do ouvinte, é fácil ser arrebatado pela obra.
"Storm" tem um inicio catedrático, se assemelhando a uma linda oração instrumental. A bateria em ritmo de marcha traz um ritmo de procissão, que vai crescendo até entrar em combustão, para logo depois se aquietar num drone/noise sublime. À partir da metade final a intensidade é tanta que chega a lembrar alguns dos momentos mais volumosos do Swans, tamanho o nível de tensão e euforia. Impressionante.
Com aura espacial, o inicio de "Static" é não menos que cinematográfico. Soa como uma música ambient combinada aos momentos mais viajandões do Pink Floyd, com direito a diálogos entrelaçados a frases de violino. Tudo isso dá uma sensação de distopia e angústia. Há enorme atitude e intensidade na execução.
A delicadeza de "Sleep" chega a emocionar. Adoro as guitarras, os sintetizadores e as guitarras que parecem sintetizadores (!). A riqueza da composição é acentuada conforme outros instrumentos somam força no arranjo, gerando algo extremamente volumoso e dramático. Se fechar os olhos, é possível compartilhar o mesmo ambiente de captação da música.
Com colagens abstratas, ruídos, quietude e eteriedade cósmica, "Like Antennas To Heaven..." é um desfecho atormentador. É uma imponente faixa ambient, de resultado intrigante.
Ainda que com aparência de "álbum cult difícil", toda a abordagem sonora passa longe da indulgência. O que há é somente a força musical singular e sem limite num crescente envolvente.
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