É indiscutível que a Jovem Guarda foi o primeiro fenômeno da música pop jovem brasileira. E se o Roberto Carlos era o ator principal, o Erasmo Carlos era um coadjuvante de luxo, com direito a parceria em diversos clássicos do Rei.
Entretanto, chegou a década de 1970 e seu público havia amadurecido, a indústria se profissionalizado, a Jovem Guarda acabado (enquanto programa de TV e movimento) e o tropicalismo definido uma nova linguagem de canção brasileira. Roberto oportunamente migrou para a música adulta/romântica e se consolidou. Por sua vez, Erasmo ficou sem gravadora e preste a cair no esquecimento.
Neste momento, com apoio do Nelson Motta e André Midani, conseguiu um contrato com a Philips, onde lançou Carlos, Erasmo (1971), hoje um clássico da música brasileira.
"De Noite Na Cama" (Caetano Veloso) abre o disco. Com excelentes guitarras do Lanny Gordin, cuíca, berimbau e coro vocal em clima de festa, o resultado é altamente celebrativo. Por sua vez, "Masculino, Feminino" é muito mais aconchegante. Sua melodia é impecável. Canção deliciosa para ouvir num fim de tarde.
"É Preciso Dar Um Jeito, Meu Amigo" traz uma interação espetacular entre os músicos. A cozinha azeitada dos Mutantes (Dinho na bateria, Liminha no baixo), junto da guitarra explosiva do Lanny, arranjo orquestrado do Rogério Duprat e produção do Manoel Barenbein, formam um caldo de dinâmica poderosa. Atenção para sua cadência harmônica, anos depois "imitada" em "Glory Box" do Portishead.
A erótica "Dois Animais Na Selva Suja" (Taiguara) parece o encontro Marcos Valle com Jeff Beck dentro de um arranjo grandioso à la wall of sound.
A parceria com o Roberto marca presença em "Gente Aberta" (balada hippie com percussão à la Santana, metais de soul e um refrão que pode ser carregado como emblema), na estranha "Sodoma e Gomorra", na ultra swingada (e pesada) "Mundo Deserto" e no funk "Ciça, Cecília" (arranjo do Arthur Verocai).
"Agora Ninguém Chora Mais" (Jorge Ben) traz guitarras hard rock/psicodélica para uma canção de astral brasileiro.
Vale ainda destacar a rumba lisérgica "Maria Joana", que no auge da ditadura militar faz clara referência a maconha.
Com esse álbum, Erasmo se consolidou como um artista muito além da Jovem Guarda, vindo posteriormente a lançar outros trabalhos importantes. O prestígio (do artista e do disco) dura até hoje.
Nenhum comentário:
Postar um comentário