Independente de predileções sonoras, há de se admitir que o Drake é um dos maiores rappers de todos os tempos. E não digo isso somente pelo enorme alcance comercial de suas músicas, que o colocaram entre os artistas que mais vezes foram parar no primeiro lugar da Billboard. Me refiro principalmente ao fato dele ter "criado" (ou ao menos se apropriado e difundido) uma linguagem de pop rap que praticamente predominou a música popular na segunda década do século XXI.
Embora dono de um repertório irregular, acredito que ele tem bons momentos na sua discografia, vide a elogiadíssima mixatape If You're Reading This It's Too Late (2015), que pessoalmente não me chama tanta atenção. Para mim, muito melhor resolvido é o álbum Take Care (2011), que ficará como grande obra-prima do artista canadense.
Na contramão de beats levanta quarteirão, "Over My Dead Body" traz uma cama aconchegante e introspectiva, além de refrão ultra melodioso. Se fosse algo do Maroon 5 soaria cafona, mas com o Drake funciona.
"Shot For Me" é não menos que bela, com destaque para a interpretação agradável e até mesmo sexy do rapper. Gosto de como a canção evoluiu desaguando num beat agudo, frenético e irresistível.
A estrondosa "Headlines" é o primeiro grande single do álbum. Por mais que flow do Drake não me convença, o beat assinado pelo 40 é não menos que envolvente. Adoro esse timbre de caixa.
Tão saturado quanto atmosférico, "Crew Love" tem todo seu potencial pop elevado através da participação do The Weeknd. Não dá para ignorar que há sensualidade na raiz da composição e produção.
Com participação da Rihanna e produção do Jamie xx, é inevitável que "Take Care" tenha obtido grande destaque, embora particularmente eu não seja grande entusiasta deste "pulso" de EDM.
Como uma perfeita tradução da estética do Drake, "Marvins Room" tem um tom emotivo na interpretação (ou simplesmente melodramático), coberto por um belo beat em low-tempo.
É muita moral contar com o Kendrick Lamar num interlúdio. E é justamente isso que acontece na curtinha "Buried Alive Interlude", mais uma vez de produção envolvente.
Muito mais sacana e sacolejante é a presença da Nicki Minaj em "Make Me Pround". É a típico single rasteiro que capta o ouvinte através da euforia (da batida, do flow, do tema). Acho bacana.
Não é de se ignorar o beat do Just Blaze em "Lord Knows", que invoca toda uma divertida aura gospel/soul através do coro de vozes. Para melhorar, Rick Ross traz mais peso e personalidade vocal.
É legal ouvir o encontro do Lil Wayne e André 3000 com o Drake em "The Real Her". São diferente gerações e personalidades embarcando na linguagem de pop/r&b contemporâneo do canadense. Lil Wayne ainda volta a dar as caras na xaropenta (no bom e mal sentido) "HYFR".
Outro momento exitoso é "Practice", onde mais uma vez é exposta a elegância quase cafajeste do Drake num climas sexy e vagaroso, que parece reverberar num outro plano, talvez até mesmo dentro do nosso inconsciente de balada pop/jovem contemporânea.
Contra fatos não há argumentos. E apesar de alguns momentos pouco atraentes (precisava ser tão longo?) o álbum sobrevive com dignidade, principalmente por apresentar um artista que triunfou com uma sonoridade bastante pessoal e influente, goste você ou não.
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